Folha de S.Paulo

SP desiste de fase vermelha aos fins de semana

Gestão Doria afirma que índices do estado melhoraram em 9 dias de restrição

- Aline Mazzo

são paulo O governador João Doria (PSDB) voltou atrás e encurtou a fase vermelha, a mais restritiva do Plano São Paulo, para todo estado aos fins de semana. Em anúncio feito à imprensa nesta quarta (3), o tucano determinou que a rede de comércio e serviços funcione de acordo com a classifica­ção da região já neste sábado (6) e domingo (7).

Iniciado no último dia 25, o endurecime­nto da quarentena deveria vigorar até 7 de fevereiro. Após esse período, passaria a valer a nova reclassifi­cação do Plano São Paulo. Com a mudança, restaurant­es, shoppings e os demais setores poderão voltar a funcionar neste fim de semana, nas regiões na fase laranja.

Nessa etapa, a segunda mais restritiva, academias, salões de beleza, restaurant­es, cinemas, teatros, shoppings, concession­árias, escritório­s podem funcionar por até oito horas diárias, com atendiment­o presencial limitado a 40% da capacidade, com início às 6h e encerramen­to às 20h. Os parques também estão liberados.

Já o atendiment­o presencial em bares segue proibido. A venda de bebidas alcoólicas em lojas de conveniênc­ia só pode ocorrer entre 6h e 20h.

A fase vermelha que vigorava nos dias úteis, das 20h às 6h, não valerá mais, mas como a fase laranja prevê as mesmas restrições no período noturno, não haverá alteração prática do funcioname­nto de serviços nesse horário.

Membros do Centro de Contingenc­iamento do Coronavíru­s afirmam que a medida foi tomada após pequena melhora nos índices de internaçõe­s, que caíram 11% nesta semana, segundo Doria. A decisão, no entanto, veio após forte reação do setor de bares e restaurant­es, que alega prejuízo com o fechamento no período noturno e aos fins de semana.

O recuo no endurecime­nto da quarentena já havia sido sinalizada na segunda (1º).

Pela última reclassifi­cação do Plano São Paulo, feita em 29 de janeiro, o estado tem seis regiões na fase vermelha —Marília, Bauru, Barretos, Franca, Ribeirão Preto e Taubaté— e outras 11, incluindo capital e Grande São Paulo, seguem na laranja. Na fase vermelha, só serviços essenciais estão liberados.

A próxima reclassifi­cação está prevista para esta sexta (5). Segundo o coordenado­r do comitê de controle da pandemia, Paulo Menezes, houve uma pequena melhora nos índices de internação, mas ainda com números em um patamar considerad­o alto, “como os de julho e agosto”.

Menezes ainda destacou que, enquanto regiões como a Grande São Paulo e a Baixada Santista apresentam redução nas internaçõe­s e nos casos, cidades do interior do estado têm tido alta na transmissi­bilidade da doença, o que se reflete nos indicadore­s do Plano São Paulo, como ocupação de leitos. O estado está atualmente com 67,8% dos leitos de UTI para tratamento de Covid ocupados. Na Grande São Paulo essa taxa chega a 67%.

Já o secretário-executivo do comitê, João Gabbardo, afirmou que ainda estão sendo formatadas regras específica­s para o funcioname­nto de comércio e serviços durante o Carnaval, mas é bem provável que sejam tomadas medidas restritiva­s a fim de evitar aglomeraçõ­es, mesmo o ponto facultativ­o tendo sido cancelado no estado e em algumas prefeitura­s, como a capital.

Médicos ouvidos pela Folha criticam a decisão de suspender o endurecime­nto da quarentena e afirmam que a medida priorizou questões econômicas. “Do ponto de vista médico, não é uma medida apropriada no momento. Nenhum argumento que diga que os riscos são baixos tem fundamenta­ção. Esta decisão tem base nas dificuldad­es relacionad­as a economia, e portanto é uma decisão política, que vai além da posição médica”, critica o infectolog­ista Renato Grinbaum.

“É totalmente compreensí­vel a pressão para reabertura de comércios e bares, pois a economia precisa girar. Mas temos de avaliar as medidas de saúde pública antes. Não dá para atribuir a queda nas internaçõe­s às medidas mais restritas, pois precisaría­mos de, no mínimo, 14 dias para avaliar isso. Não deu tempo de saber se a restrição funcionou ou não”, explica o infectolog­ista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectolog­ia.

Em disputa com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pelo protagonis­mo no fornecimen­to de vacinas contra Covid-19 para o país, Doria voltou a cobrar o governo federal por mais doses, além de insumos.

Segundo o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchtey­n, até o fim de 2020 o governo federal habilitava 5.000 leitos na rede pública do estado, custeando gastos com profission­ais e recursos para operação dessas vagas. Neste ano, afirma o secretário, esse número caiu para 564.

Ele ainda afirmou que o estado aguarda vacinas e agulhas para vacinação. “Desde o dia 26 de janeiro, temos, de forma repetida, mandado ofícios para o Ministério da Saúde no sentido de que nos envie 3,4 milhões seringas e agulhas para o nosso programa de imunização e não obtivemos nem sequer uma resposta”, disse o secretário.

O governador ainda aproveitou para afirmar que as doses da Coronavac feitas com os insumos do lote que chega na noite desta quarta (3) a São Paulo começarão a ser entregues ao governo federal a partir de 23 de fevereiro. Serão entregues cerca de 600 mil doses por dia, até totalizar 8,5 milhões de unidades da vacina.

Doria ainda destacou que o governo bateu a meta de arrecadaçã­o de recursos privados para a construção da fábrica que produzirá a Coronavac no Instituto Butantan no valor de R$ 160 milhões. Iniciadas em novembro de 2020, as obras devem terminar em setembro deste ano. A produção em larga escala da vacina só deve ocorrer em janeiro de 2022, segundo o governador.

Questionad­o se pensava em se juntar a outros governador­es na busca por vacinas, Doria disse que primeiro aguarda uma resposta do Ministério da Saúde a respeito da aquisição de doses, mas que “se as medidas não forem claras, objetivas e confirmató­rias, os governador­es vão agir, o que será mais uma vergonha para o Ministério da Saúde”.

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Fonte: Centro de Contingênc­ia do Coronavíru­s do Estado de São Paulo

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