Folha de S.Paulo

Com papel para Oscar em ‘Malcolm & Marie’, Zendaya mostra que cresceu

Atriz tem DRs estridente­s com John David Washington em ‘Malcolm & Marie’, filme dirigido pelo criador de ‘Euphoria’

- Leonardo Sanchez Contardo Calligaris O colunista está em férias

são paulo Há uns seis meses, Zendaya surpreende­u o mundo ao ser nomeada ao Emmy de melhor atriz em série dramática, por seu papel em “Euphoria”. Se a própria indicação já causou espanto, imagine a reação de quem acompanhav­a a cerimônia, em setembro, ao ouvir que a americana havia vencido o troféu e se tornado a pessoa mais jovem a triunfar na categoria, aos 24 anos.

Zendaya ficou entre os assuntos mais comentados das redes sociais, surgiu em quase todas as listas de surpresas do Emmy e desbancou nomes de peso, como Olivia Colman.

De lá para cá, o burburinho só cresceu. Se há poucos meses ela parecia uma escolha improvável para o prêmio da TV, agora ela desponta como aposta para o Oscar de melhor atriz, pelo filme “Malcolm & Marie”, que estreia na Netflix.

A indicação não é dada como certa. A produção perdeu força nas últimas semanas, quando as críticas começaram a sair e não foram tão animadoras, usando termos como “masturbató­rio” e “estridente” para descrever o longa. A falta de indicações ao Globo de Ouro, nesta quarta, também esfriou as apostas.

Zendaya, no entanto, ainda arranca elogios e encantou uma parte poderosa de Hollywood, o que faz perguntar como uma ex-estrela da Disney conseguiu conquistar tanto respeito no alto escalão da indústria, em geral hostil a astros teen, e subir tão rápido.

Talvez sua versatilid­ade seja a resposta. Além de atuar, Zendaya dança, canta, desfila e produz. Quando foi anunciada para um papel nos filmes do Homem-Aranha, fãs foram à loucura, e revistas e jornais fizeram fila para falar com ela.

Mesmo que “Malcolm & Marie” não seja um consenso entre os críticos, o filme tem as condições perfeitas para Zendaya mostrar seu talento, forçando a atriz a transitar entre a felicidade extrema, a indiferenç­a e a depressão profunda.

A trama acompanha um casal que, depois de voltar da estreia do filme dirigido pelo personagem de John David Washington, decide discutir a relação. Ele se esqueceu de agradecer à companheir­a no discurso, o que gera mágoas.

“Malcolm & Marie” é dirigido por Sam Levinson, o criador de “Euphoria”. Ele diz que fez o papel da protagonis­ta especialme­nte para Zendaya, com quem vem trabalhand­o na série da HBO, e afirma ter juntado o que sabe da atriz com um pouco de suas experiênci­as pessoais no roteiro.

“Pude conhecer a Z bem nos últimos anos”, diz Levinson, entregando seu apelido para a atriz. “É engraçado porque ela é bem diferente da personagem em ‘Euphoria’. É confiante, divertida e inteligent­e.”

Na série, como em “Malcolm & Marie”, a personagem de Zendaya luta contra o vício em drogas e com a fragilidad­e de sua saúde mental. A diferença é que “Euphoria” expande esse contexto para um mundo obscenamen­te sem limites, enquanto o longa trata disso de maneira mais íntima.

Mas nem por isso as duas produções deixam de ter semelhança­s. “Malcolm & Marie” faz uso de um amplo acervo de palavrões e quer chocar o público. O cineasta vivido por Washington poderia ser considerad­o um “boy lixo” —rapazes tóxicos dos quais “Euphoria” está cheia— e, nos dois casos, qualquer faísca pode incendiar todo o ambiente.

Numa cena, Marie está na cama, como se estivesse pronta para uma noite de amor. Enroscada nos lençóis claros e coberta por um delicado quimono de flores, ela olha com desdém para Malcolm, que entra no quarto e, depois de alguns beijos apaixonado­s, se vê no meio de mais uma troca de farpas. As DRs do casal são demonstraç­ões de potência vocal, com gritos e mais gritos.

Mas longe de Malcolm e de Marie, Zendaya é uma pessoa agradável, conta Levinson, traço que ele julgou essencial para a realização do filme. Isso porque ele foi rodado na pandemia. Elenco e equipe, diminutos, foram confinados na casa onde as duas horas da trama se passam. “Quando você trabalha com um time pequeno, você precisa de pessoas gentis e generosas ao seu lado”, diz.

“Como atriz, produtora e, no geral, um ser artístico, a Zendaya não tem limites”, acrescenta o diretor. “Acho que a trajetória dela só pode ir para cima, porque acredito que ela ainda está para alcançar tudo o que pode alcançar.”

E, de fato, “Malcolm & Marie” é o primeiro trabalho de Zendaya a quebrar sua relação com personagen­s adolescent­es, abrindo caminho para papéis mais maduros. A própria atriz tem tocado nesse assunto em entrevista­s recentes.

“Eu tenho interpreta­do garotas de 16 anos desde que eu tinha 16 anos. Muitas pessoas cresceram comigo”, disse ela ao talk show Daily Pop, em referência às séries “No Ritmo” e “Agente K. C.”, que lançaram a sua carreira. “Eu acho que é como assistir a uma irmã mais nova, mas agora ela cresceu. É difícil para as pessoas assimilare­m a ideia de que eu cresci na vida real.”

Malcolm & Marie

EUA, 2021. Dir.: Sam Levinson. Com: Zendaya e John David Washington. 14 anos. Estreia nesta sexta (5), na Netflix

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Divulgação Zendaya e John David Washington em cena do filme ‘Malcolm & Marie’

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