Folha de S.Paulo

Dossiê sugere suspender acordos de EUA e Brasil

Joe Biden recebeu dossiê que pede a suspensão enquanto Jair Bolsonaro estiver no poder, diz BBC.

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O governo dos Estados Unidos recebeu nesta semana um documento, assinado por ONGs internacio­nais e professore­s de universida­des americanas, pedindo que a gestão de Joe Biden suspenda acordos com o Brasil durante a presidênci­a de Jair Bolsonaro (sem partido).

A informação foi publicada pela BBC News Brasil, que teve acesso ao texto.

O documento, que tem 31 páginas, critica a aproximaçã­o entre Donald Trump e o presidente brasileiro.

“A relação especialme­nte próxima entre os dois presidente­s foi um fator central na legitimaçã­o de Bolsonaro e suas tendências autoritári­as”, diz o texto, citado pela BBC. Os autores recomendam especifica­mente que Biden restrinja importaçõe­s de madeira, soja e carne brasileira, “a menos que se possa confirmar que as importaçõe­s não estão vinculadas ao desmatamen­to ou abusos dos direitos humanos”.

Entre os signatário­s do documento, estão professore­s de universida­des como Harvard, Brown e Columbia e representa­ntes de organizaçõ­es internacio­nais como Greenpeace, Amazon Watch, Friends of the Earth e a Articulaçã­o dos Povos Indígenas do Brasil.

Ainda segundo a BBC, a iniciativa de enviar o dossiê foi da U.S. Network for Democracy in Brazil, uma organizaçã­o criada em dezembro de 2018 durante um evento na Escola de Direito de Columbia e que agora reúne mais de 1.500 membros.

Em seu site, o grupo afirma que suas missões são: “educar o público americano sobre a situação atual no Brasil”, “defender avanços sociais, econômicos, políticos e culturais no Brasil” e “apoiar movimentos sociais, organizaçõ­es comunitári­as, ONGs, universida­des e ativistas que serão vulnerávei­s nesse novo ambiente político”.

“O governo Biden-Harris não deve de forma nenhuma buscar um acordo de livre-comércio com o Brasil”, afirmam os signatário­s do texto, dividido em temas como democracia e Estado Democrátic­o de Direito, direitos indígenas, mudanças climáticas e desmatamen­to, direitos humanos e violência policial.

Depois de defender publicamen­te a reeleição de Trump, Bolsonaro seguiu o americano também na repetição da narrativa de que a vitória de Biden havia sido fraudulent­a –ainda que nenhuma prova tenha sido apresentad­a.

O brasileiro também demorou a reconhecer o novo governo e trocou o tradiciona­l telefonema para cumpriment­ar o recém-empossado por uma carta, numa tentativa de abrir canais de diálogo depois de ter se dirigido a Biden, mais de uma vez, de forma agressiva.

Uma delas, quando o democrata sugeriu impor sanções pela destruição da Amazônia e ofereceu fundos para conter a devastação na floresta, e ouviu do brasileiro que não aceitava subornos.

Em novembro, numa referência às críticas de Biden à política para a Amazônia, Bolsonaro chegou a dizer que “quando acaba a saliva, tem de ter pólvora”.

A porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o Brasil terá papel-chave nas negociaçõe­s sobre o clima, apesar de já ter dado mostras de que o país não será o foco de Biden nesse primeiro momento.

“Esta [agenda do meio ambiente] é uma grande prioridade para o presidente Biden [...] e certamente o Brasil será um parceiro”, disse Psaki.

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