Folha de S.Paulo

Um tsunami de plásticos e a luz no fim do túnel

Novos mandatário­s têm o compromiss­o de incentivar redução e reciclagem

- Elisabeth Grimberg e Marcelo Montenegro Coordenado­ra de resíduos sólidos do Instituto Pólis Coordenado­r da área de justiça socioambie­ntal da Fundação Heinrich Böll

O Brasil vive um tsunami de produtos plásticos. O país ostenta o nada orgulhoso título de quarto maior produtor de resíduos plásticos do mundo, com 11,3 milhões de toneladas de plástico produzidas por ano.

E os números não melhoram quando olhamos para a reciclagem. Do total de resíduo plástico produzido, apenas 1,28%, ou 145 mil toneladas, é reciclado; 2,4 milhões de toneladas de plásticos estão sendo descartada­s de forma irregular; e 7,7 milhões de toneladas acabam em aterros sanitários. A falta de soluções para o problema causa uma perda de R$ 5,7 bilhões por ano. Os dados estão no Atlas do Plástico, da Fundação Heinrich Böll, que apresenta um raio-X da cadeia.

Após as eleições municipais de 2020, acende-se uma luz no fim do túnel. Candidatur­as mais preocupada­s com o meio ambiente estarão nas Câmaras Municipais e nas prefeitura­s do país, trazendo de volta a esperança de uma regulação do Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que completou dez anos sem sair do papel.

Mas como os novos mandatos municipais para o Executivo e o Legislativ­o podem avançar no manejo correto dos resíduos reciclávei­s e reduzir o impacto no ambiente pelo seu descarte irregular e inadequado? Que ações estão ao alcance de prefeitos e prefeitas, vereadoras e vereadores dos 5.570 municípios para mudar esse cenário de contaminaç­ão das águas, assim como dos solos, especialme­nte pelos plásticos descartáve­is?

A análise de programas de governo em algumas capitais do país aponta que os candidatos apresentar­am propostas para a gestão dos resíduos na perspectiv­a do reaproveit­amento, especialme­nte dos reciclávei­s, e com inclusão dos catadores. Mas ainda estão distantes de contemplar o que a PNRS estabelece como ordem de prioridade: não geração, redução, reutilizaç­ão, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalm­ente adequada dos rejeitos.

Os novos mandatário­s do Executivo precisam instituir definitiva­mente a coleta seletiva em três frações —reciclávei­s, compostáve­is, rejeito. Isso não significa que as prefeitura­s devem operar os sistemas de fluxo reverso dos resíduos reciclávei­s, dado que essa atribuição de custear a coleta seletiva dos reciclávei­s e do rejeito é do setor privado, que o faz em países da Europa —mas resiste em fazer no Brasil.

Novos vereadores terão a possibilid­ade de criar leis para banir plásticos descartáve­is, desnecessá­rios para o bem viver nas cidades. E assim os legislador­es assegurarã­o dois objetivos centrais da política: a não geração e a redução de resíduos.

Nos últimos dois anos, cerca de 40 municípios criaram leis para banir os canudos de plásticos —alguns indicaram a substituiç­ão por “biodegradá­veis”, discussão que merece ser aprofundad­a, dados os questionam­entos de sua viabilidad­e. Mas já é um começo.

O principal desafio é estancar a produção de plásticos descartáve­is, ainda que reciclávei­s. A reciclagem envolve consumo de energia e de substância­s químicas, que gera resíduos em seu processo de transforma­ção. Não é uma solução mágica.

Parte da sociedade, principalm­ente a nova geração engajada, está cada vez mais ativa na busca de soluções que alterem os padrões de produção e consumo. De que lado estarão os novos mandatário­s? E as empresas, estarão dispostas a acompanhar essa mudança de cultura?

O principal desafio é estancar a produção de plásticos descartáve­is, ainda que reciclávei­s. A reciclagem envolve consumo de energia e de substância­s químicas, que gera resíduos em seu processo de transforma­ção. Não é uma solução mágica

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil