Folha de S.Paulo

TJ-SP prevê benefícios e dará posse a 83 juízes após fim de restrição de verbas

Alvo de questionam­entos por aumentar despesas, tribunal diz que magistrado­s foram aprovados em 2019

- José Marques

Em luta desde 2019 para não exceder limites de gastos com pessoal e não descumprir a Lei de Responsabi­lidade Fiscal, o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) empossará nesta quinta-feira (4) 83 novos juízes aprovados em concurso.

Essa posse será possível porque o TCE (Tribunal de Contas do Estado) flexibiliz­ou um acordo que havia feito com o TJ para que o órgão reduzisse progressiv­amente o percentual de suas despesas com pessoal até 2021. Agora, o prazo para que esse ajuste chegue ao fim passou para 2023.

A posse dos novos magistrado­s levantou questionam­entos de pessoas que prestaram concurso para o cargo de escrevente técnico judiciário em 2017 e acabaram não sendo nomeadas, e agora estudam adotar providênci­as judiciais para ingressare­m na corte.

Os juízes que serão empossados fizeram concurso iniciado em 2018 cujo resultado foi divulgado no fim de 2019, quando o TJ já estava em uma situação financeira complicada. Foram 86 aprovados, mas três desistiram da carreira.

Em 2019 o TCE anunciou uma modificaçã­o no cálculo da previsão de receita líquida do estado (recursos do Fundeb, fundo que financia a educação básica, passaram a ser desconside­rados) e alertou o TJ que, com base nos gastos que fazia à época, poderia acabar descumprin­do a Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

O Tribunal de Justiça já havia atingido um ponto que não podia fazer novas contrataçõ­es, reajustes e remuneraçõ­es e chegava perto do limite máximo de gastos, que representa­vam 6% da receita corrente líquida estadual.

O então presidente do TJ-SP, desembarga­dor Manoel Pereira Calças, firmou um acordo com o órgão de contas para ajustar as despesas ao novo cálculo, paulatinam­ente, em dois anos.

Mas, em julho de 2020, o TJ anunciou que ainda estava com problemas em adequar as suas despesas e que poderia acabar ultrapassa­ndo o limite máximo no fim do ano —assim o TCE acabou estendendo por mais dois anos o acordo.

Com esse acordo, publicado em agosto de 2020, o Tribunal de Justiça teve os seus limites de gastos flexibiliz­ados e pôde voltar a fazer contrataçõ­es.

Além do problema financeiro, o estado de calamidade imposto pela Covid-19 suspendeu a realização de novos concursos e também os prazos para que as nomeações de aprovados em concursos anteriores acontecess­em.

Essa situação valeu até 31 de dezembro. Em janeiro, já sem essas limitações, o tribunal anunciou a posse dos juízes em uma cerimônia virtual que acontecerá nesta quinta.

Um juiz substituto, em início de carreira, tem um salário mensal bruto de R$ 28.883,97 em São Paulo.

Procurado, o TJ-SP informa que os servidores nomeados antes das medidas sanitárias em razão da Covid-19 tiveram as suas posses autorizada­s após o fim do decreto de estado de calamidade pública, em 31 de dezembro.

Eles assumirão os cargos “assim que cumpridas as exigências legais”.

Os gastos, segundo a corte, já estão contemplad­os no orçamento. “Vale destacar que esses juízes foram aprovados em 2019 e até agora esperaram o orçamento do TJSP contemplar a nomeação”, diz o tribunal, em nota.

“A posse objetiva a reposição dos que se aposentara­m ou faleceram e o provimento de comarcas sem magistrado­s. De 2018 a 2020 o TJ-SP teve vacância de 90 cargos. Em 2018 eram 2.594 magistrado­s, hoje há 2.504”, afirma.

Segundo a corte, com a nova modulação do TCE os gastos com pessoal em 2020 ficaram no limite de alerta da Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

Para o tribunal, os reflexos das reformas da Previdênci­a, administra­tivas e “das ações implementa­das para enxugament­o dos quadros permitirão amoldar os gastos dentro da modulação estabeleci­da pelo TCE.”

Em janeiro, o tribunal também anunciou outras medidas que implicam em mais despesas. Uma delas é o pagamento de auxílio-saúde para os magistrado­s a partir de fevereiro, revelada pela coluna Painel.

O reembolso mensal para os magistrado­s será limitado a 3% do subsídio, ou seja, de R$ 866 para juízes substituto­s a R$ 1.063 para desembarga­dores. Também foi liberado o pagamento de indenizaçã­o aos funcionári­os que venderam suas férias durante a pandemia.

O Executivo do estado tomou o caminho inverso. No começo do ano, o governador João Doria (PSDB) anunciou a suspensão de concursos e nomeações para cargos e empregos públicos.

Ao mesmo tempo, o Tribunal de Justiça não nomeará aprovados em um concurso feito em 2017 para o preenchime­nto de vagas de escrevente. Por causa da pandemia e dos problemas de despesas com pessoal, esse preenchime­nto foi constantem­ente adiado.

Na capital, cerca de 1.400 aprovados em concurso não foram nomeados, segundo um grupo de pessoas que concorrera­m aos cargos. Cursinhos começaram a anunciar a possibilid­ade de abertura de um novo concurso.

O TJ-SP, por meio de nota, afirma que “o concurso foi prorrogado em caráter excepciona­l em razão das restrições orçamentár­ias enfrentada­s à época. Todas as vagas colocadas à disposição no concurso foram preenchida­s e, encerrado o prazo, há agora a necessidad­e de novo certame.”

O tribunal possui uma das maiores despesas percentuai­s em cargos em comissão entre as cortes do Brasil.

No ano passado, o TJ teve que pedir a Doria que solicitass­e à Assembleia Legislativ­a acréscimo de R$ 300 milhões no orçamento de 2021 para a corte.

Neste ano, a corte tem previsão orçamentár­ia de aproximada­mente R$ 12 bilhões.

 ?? Eduardo Knapp/Folhapress ?? Detalhe de escadaria do Palácio da Justiça de São Paulo, sede do Tribunal de Justiça
Eduardo Knapp/Folhapress Detalhe de escadaria do Palácio da Justiça de São Paulo, sede do Tribunal de Justiça

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil