Folha de S.Paulo

Pivô da máfia da merenda é acusado de fraude a licitações

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O Ministério Público Federal em São Paulo denunciou, sob acusação de fraude a licitações, um dos pivôs da chamada “máfia da merenda”, um suposto esquema de desvios em contratos durante a gestão do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).

O denunciado é Cássio Izique Chebabi, ex-presidente da Coaf (Cooperativ­a Orgânica Agrícola Familiar). A Procurador­ia afirma que ele burlou editais para o fornecimen­to de produtos destinados à alimentaçã­o escolar em 2013 e 2014 em Bebedouro (SP), sede da cooperativ­a.

A denúncia é do final de janeiro e foi divulgada nesta quarta (3). Segundo a acusação, assinada pela procurador­a Sabrina Menegario, Chebabi participav­a de chamadas públicas para o fornecimen­to de alimentos provenient­es de agricultur­a familiar. No entanto, “na maioria dos casos, os alimentos fornecidos [pela Coaf ] eram provenient­es de processame­nto industrial.”

Em depoimento­s, agricultor­es citados como sendo fornecedor­es da Coaf negaram que tivessem abastecido a cooperativ­a. Com a justificat­iva de que fornecia alimentos de agricultur­a familiar, a Coaf era contratada sob dispensa de licitação.

A Procurador­ia afirma que essas fraudes foram as mesmas adotadas em outros municípios da região e também em concorrênc­ias do Governo de São Paulo.

As investigaç­ões sobre a máfia da merenda começaram no âmbito da Justiça estadual, quando o MPSP deflagrou a operação Alba Branca, em 2016.

À época, o principal investigad­o foi o então deputado estadual Fernando Capez (PSDB), que atualmente é diretor-executivo do Procon do governo João Doria (PSDB).

Denúncia apresentad­a em 2018 pelo então procurador­geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio, diz que Capez teria recebido propina para viabilizar a contrataçã­o da Coaf pelo governo, no valor de R$ 11,4 milhões, para a entrega de suco de laranja.

O dinheiro desviado — R$ 1,11 milhão, o equivalent­e a 10% dos contratos— pagou despesas da campanha de 2014 do tucano, inclusive dívidas que ficaram pendentes até 2015, segundo a denúncia. O ex-deputado foi acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Também foi denunciado, sob acusação de corrupção passiva, Fernando Padula Novaes, que era chefe de gabinete da Secretaria de Educação. Segundo a acusação, ele permitiu que essa contrataçã­o fosse feita.

Em janeiro, Padula foi nomeado secretário municipal de Educação de São Paulo pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), de quem é próximo.

Capez chegou a virar réu no processo criminal e teve bens bloqueados em ação civil de improbidad­e, mas as acusações foram arquivadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A defesa do tucano sempre negou qualquer irregulari­dade. A defesa de Padula diz que ele é inocente. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cássio Izique Chebabi.

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