Folha de S.Paulo

Bolsonaro pede ao Congresso reformas econômicas e privatizaç­ão da Eletrobras

Mineração em terras indígenas também está em lista entregue ao novo comando do Legislativ­o

- Renato Machado, Danielle Brant e Fábio Pupo

brasília Após problemas como desentendi­mentos com o Congresso e falhas de articulaçã­o terem travado o avanço da agenda de reformas, o governo aproveitou a troca de comando na Câmara e no Senado para apresentar uma lista de projetos cuja aprovação diz considerar prioritári­a.

A lista foi recebida nesta quarta-feira (3) pelos novos presidente­s da Câmara e do Senado, respectiva­mente Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Entre os temas, estão a aprovação das reformas tributária e administra­tiva, a privatizaç­ão da Eletrobras e até a proposta de mineração em terras indígenas.

A relação compila várias propostas já defendidas desde o primeiro ano de governo pelo Ministério da Economia, como as três PECs (propostas de emenda à Constituiç­ão) do Plano Mais Brasil. O pacote diminui despesas obrigatóri­as e foi apresentad­o pelo Executivo em novembro de 2019, mas até hoje não foi aprovado.

Internamen­te, a equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) considera serem prioridade­s imediatas a PEC Emergencia­l e o Orçamento. O objetivo é poupar recursos públicos em outras áreas para compensar o eventual uso de recursos para vulnerávei­s em 2021.

Apontada ao longo do ano passado por especialis­tas como um caminho viável para cortar despesas e reforçar medidas sociais, a PEC Emergencia­l passou por percalços mesmo sendo acompanhad­a de perto pelo governo.

A PEC está sob relatoria do senador Marcio Bittar (MDBAC). No ano passado, após reunião com Bolsonaro e Guedes, o parlamenta­r chegou a anunciar que a PEC limitaria o pagamento de precatório­s (dívidas do Estado reconhecid­as pela Justiça) para obter recursos. O mercado ficou assustado com a ideia de o país não honrar compromiss­os e, por isso, houve recuo na proposta.

Depois, as discussões congelaram com as eleições municipais e a dedicação de parlamenta­res à campanha local de aliados. Antes do fim do ano, chegou a ser ventilada proposta em que Bittar desidratav­a a proposta de Guedes a ponto de ela não gerar efeitos fiscais significat­ivos. Sem consenso, ele postergou a apresentaç­ão de seu texto para 2021.

Agora, a proposta pode ganhar tração. Antes da reunião no Congresso, Lira e Pacheco realizaram um evento no qual apresentar­am a sua lista de prioridade­s, que foram levadas também a Bolsonaro.

Pacheco afirmou que vai estabelece­r com os relatores prazos para análise das propostas de interesse do governo, como a reforma tributária e a PEC Emergencia­l.

Os novos presidente­s também disseram que vão encontrar uma alternativ­a para o auxílio emergencia­l que respeite o teto de gastos.

Na lista do governo, chama atenção a menção às PECs 45 e 110 na parte em que é defendida a reforma tributária. Na verdade, Guedes quer ver aprovadas primeiro mudanças somente em impostos federais, por meio de sua proposta que funde PIS e Cofins na Contribuiç­ão sobre Bens e Serviços (projeto já enviado ao Congresso).

As PECs 45 e 110, de autoria do Congresso, incluem na fusão o ICMS (estadual) e o ISS (municipal), o que Guedes vê como uma tarefa de grande complexida­de e que pode travar as discussões sobre a reforma. Essa visão foi reiterada nesta semana pela equipe econômica.

Na lista do governo, outro ponto importante é a privatizaç­ão da Eletrobras, que enfrenta resistênci­a no Congresso. Na semana passada, o então presidente da estatal, Wilson Ferreira Junior, pediu demissão e alegou, entre outros problemas, dificuldad­es para privatizar a empresa e falta de crença no avanço do processo.

Não foi a primeira baixa por causa das privatizaç­ões. Salim Mattar, então secretário de Desestatiz­ações do Ministério da Economia, pediu demissão em agosto de 2020 após constatar que seu trabalho para vender empresas teria pouco avanço.

Mattar costuma culpar o “sistema” pela morosidade na agenda de privatizaç­ões, mas já responsabi­lizou especifica­mente Bolsonaro por não tocar o processo nem mesmo de empresas cuja venda dependia somente do Executivo. “Depende só dele [Bolsonaro]. Falta vontade”, disse Salim durante live em setembro.

Entre os integrante­s da equipe econômica, as privatizaç­ões não têm sido comentadas nos últimos dias como uma prioridade imediata e considera-se até que o tema arrefeceu. Mesmo assim, as vendas de estatais continuam como um tema bastante desejado.

Conforme mostrou a Folha, a equipe econômica planeja uma lista escalonada de prioridade­s com o Congresso, começando com a discussão de propostas menos polêmicas. Influi nesse debate a visão de que há uma janela de tempo limitada para a aprovação de reformas, que vai até setembro (antes do início das discussões sobre a sucessão presidenci­al).

O governo federal também pretende aprovar o polêmico projeto que regulament­a a mineração em terras indígenas. A proposta vem sendo defendida publicamen­te pelo vicepresid­ente Hamilton Mourão, como uma alternativ­a para conter as atividades de garimpo ilegais e, consequent­emente, os desmatamen­tos na região da Amazônia.

Também está na lista a aprovação de marcos setoriais defendidos por Guedes, como a nova lei do gás (com objetivo de baratear o custo da energia) e novas regras para segmentos como ferrovias e cabotagem.

O governo busca ainda a aprovação de projetos de lei referentes à partilha do petróleo e gás. A proposta do senador José Serra (PSDBSP) dispõe sobre a exploração e a produção de petróleo e de gás natural, sob o regime de partilha de produção, em áreas do pré-sal e em áreas estratégic­as.

O objetivo é permitir a licitação com concessão nos blocos em que esse regime for mais vantajoso para o Brasil e instituir a disputa em igualdade de condições nas licitações de partilha da produção.

O governo também aponta como prioridade as propostas que abrem espaço para modernizaç­ão do setor elétrico, que disciplina­m a exploração indireta do transporte ferroviári­o e que estabelece­m o marco legal do mercado de câmbio.

“Depende só dele [Bolsonaro]. Falta vontade

Salim Mattar

em setembro, um mês depois de pedir demissão da Secretaria de Desestatiz­ações do Ministério da Economia, frustrado com o atraso nas privatizaç­ões

 ?? Pedro Ladeira/ Folhapress ?? Jair Bolsonaro eos presidente­s do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)
Pedro Ladeira/ Folhapress Jair Bolsonaro eos presidente­s do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)

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