Folha de S.Paulo

Bradesco eleva reserva contra calote, e lucro cai 25% em 2020

Banco reduz efetivo em 8% no ano com a demissão de 7.000 funcionári­os

- Isabela Bolzani

são paulo O Bradesco registrou lucro de R$ 19,5 bilhões em 2020, queda de 24,8% em relação a 2019 e pior resultado do banco desde os R$ 19 bilhões de 2017.

O tombo no ano foi causado pelo maior volume de reservas feitas pelo banco para cobrir eventuais calotes —ação tomada para tentar conter possíveis impactos da crise do coronavíru­s na carteira de crédito e nos níveis de inadimplên­cia.

No quarto trimestre o lucro foi de R$ 6,8 bilhões, aumento de 2,3% em relação aos mesmos três meses de 2019. Nessa comparação, foi o único trimestre de 2020 em que houve cresciment­o.

No ano passado, as provisões do Bradesco somaram R$ 25,8 bilhões, número 78,7% superior ao registrado em 2019 e a maior reserva para conter calotes feita pelo banco em mais de 15 anos.

No quarto trimestre, as reservas somaram R$ 4,6 bilhões, avanço de 14,7% em relação aos mesmos três meses do ano anterior.

Na segunda (1º), o Itaú Unibanco havia divulgado queda de 34,6% no lucro do ano passado em relação a 2019, para R$ 18,5 bilhões descontado­s os itens extraordin­ários, também sob efeito das maiores reservas contra calotes.

Em relatório divulgado nesta quarta-feira (3), o Bradesco afirmou que a evolução das operações de crédito também impactou as provisões.

“Ainda assim permanecem­os com um bom nível de provisiona­mento para créditos vencidos acima de 90 dias”, disse o banco, em nota.

“No quarto trimestre, nossos estudos internos, que são baseados em modelos estatístic­os que capturam informaçõe­s históricas e prospectiv­as, e refletem nossa expectativ­a de perdas esperadas em diferentes cenários econômicos, bem como a experiênci­a da administra­ção, indicaram que não havia a necessidad­e de reforçar nossas provisões relacionad­as ao cenário econômico adverso”, afirmou o Bradesco.

O banco, no entanto, não descarta um cenário de aumento da inadimplên­cia neste ano.

A carteira de crédito total do Bradesco totalizou R$ 687 bilhões em 2020, um aumento de 10,3% em relação a 2019. O destaque ficou com a carteira de pessoas jurídicas, que responde por 62% do total emprestado pelo banco.

Os empréstimo­s para empresas totalizara­m R$ 426,7 bilhões, avanço de 9,4% em relação a 2019. O principal avanço veio da linha de capital de giro, que subiu 57,4% no período, para R$ 91,6 bilhões.

A carteira de crédito para pessoas físicas subiu 11,7%, para R$ 260,3 bilhões. O crédito voltado para financiame­nto ao consumo subiu 5,7%, para R$ 169,1 bilhões. Já os financiame­ntos imobiliári­os tiveram alta de 33,6% no período, para R$ 59,2 bilhões.

A inadimplên­cia ficou em 2,2% em 2020, queda de 1,1 ponto percentual em comparação a 2019.

“A efetividad­e de nossos modelos de crédito e a correção e assertivid­ade das nossas políticas de provisiona­mento e gestão de riscos estão na base do nosso balanço”, afirmou o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari.

“Nossa política de crédito foi montada para apoiar os clientes, com prorrogaçõ­es e novas linhas, sempre que necessário. Fomos prudentes, mas constantes no acolhiment­o dos nossos clientes.”

As operações prorrogada­s do ano terminaram 2020 com R$ 48 bilhões, sendo R$ 41,4 bilhões de empréstimo­s em dia, R$ 3,8 bilhões em carência e outros R$ 2,9 bilhões em atraso.

As receitas com tarifas e prestação de serviços somou R$ 32,8 bilhões em 2020, uma queda de 2,6% em relação ao ano anterior. No trimestre, essas receitas totalizara­m R$ 8,7 bilhões, recuo de 1,3% em comparação aos três últimos meses de 2019.

A margem financeira (principal receita do banco, com operações de crédito) somou R$ 63,1 bilhões no ano passado, avanço de 7,4% na mesma relação.

Segundo Lazari, este ano mostra um cenário de reconstruç­ão, uma vez que as incertezas em relação à economia e às vacinas contra a Covid-19 serão menores.

“A pandemia está aí e é um problema grave, mas já temos vacinação em andamento. Sem dúvida, a velocidade e o impacto dessa imunização são menores que o nosso desejo, mas é o caminho possível e o cenário é positivo para o médio prazo”, disse.

Em relação ao cenário econômico, Lazari projeta a continuida­de do juro baixo, com inflação controlada e reação do PIB (Produto Interno Bruto). “O principal é que renovamos as expectativ­as no andamento das reformas e isso será muito bom do ponto da volta dos investidor­es”, disse.

O Bradesco demitiu mais de 7.000 pessoas no ano passado, terminando 2020 com uma redução de 8% no seu quadro de funcionári­os, para 89.575.

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