Folha de S.Paulo

Logística para indígenas faz vacinação andar mais em RR, AM e MS

- Dhiego Maia

são paulo Em meio ao processo atabalhoad­o de vacinação contra a Covid-19 no país, três estados da federação têm conseguido celeridade na imunização de suas populações.

Amazonas, Mato Grosso do Sul e Roraima apostaram num processo logístico de distribuiç­ão de doses priorizand­o os indígenas que vivem em seus território­s. Os números mostram que a escolha tem dado certo.

Roraima tinha, até a última terça-feira (2), uma relevante proporção de população vacinada contra a Covid entre os 26 estados, de acordo com dados coletados pelo consórcio de veículos de imprensa. Ao todo, o estado vacinou 2,98% de sua população acima de 18 anos, o equivalent­e a 12.645 pessoas.

Mato Grosso do Sul ficou um pouco abaixo, com 2,22% —46.152 vacinados com a primeira dose do imunizante, mas sem haver atualizaçã­o de dados na terça—, praticamen­te em empate com o Amazonas, com 2,23% da população maior de idade vacinada (ou 63.565 pessoas).

Os três estados só perdem para o Distrito Federal, cuja vacinação alcançou 3,27%, com 76.424 vacinados, até esta terça. No Brasil, pouco mais de 2,4 milhões já receberam a primeira dose, o que representa 1,51% do total da população adulta.

Amazonas, Mato Grosso do Sul e Roraima são os estados com a maior população indígena do país, de acordo com as estatístic­as do IBGE. Até esta quarta (3), a Covid-19 já havia matado 947 indígenas de 161 etnias do país, segundo dados compilados pela Apib (Articulaçã­o dos Povos Indígenas do Brasil).

Em Mato Grosso do Sul, das 158 mil doses recebidas de Coronavac, a vacina produzida pela farmacêuti­ca chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, 97 mil foram reservadas aos indígenas —a quantidade já correspond­e a duas doses.

Até o momento, o estado vacinou 18.058 indígenas que vivem em aldeias, o que correspond­e a 43,45% da meta, que é alcançar 90% desta população. Entre os profission­ais de saúde sul-mato-grossenses, o percentual de vacinados está um pouco abaixo do obtido entre os indígenas —37,82%, com 26.400 vacinados. A segunda dose começa a ser administra­da nesta quarta.

Para o médico Geraldo Resende, secretário de Saúde de Mato Grosso do Sul, os indígenas estão no topo das prioridade­s porque são mais vulnerávei­s socialment­e e têm uma taxa de letalidade para Covid-19 maior em relação aos demais —2% contra 1,8% de não índios, segundo o secretário.

Para fazer a vacina chegar a 30 dos 79 municípios com aldeias indígenas, Mato Grosso do Sul usou todos os carros do Corpo de Bombeiros e das forças de segurança na distribuiç­ão. “Em 24 horas de operação, 90% dos municípios do estado já tinham a vacina”, diz Resende.

O estado possui um Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena) na capital, Campo Grande. É de lá que as estratégia­s são feitas para que nenhuma dose se perca no caminho até as aldeias.

Os dois Dseis de Roraima também funcionam como QG no estado para o envio de doses de vacina contra a Covid-19 aos indígenas.

De Boa Vista, onde estão os dois Dseis, saem 11 aeronaves de pequeno porte por dia com vacina para as aldeias. Pouco mais de 70 veículos também circulam por terra para a distribuiç­ão do imunizante.

Roraima tem ao menos 587 comunidade­s indígenas, com grandes etnias, como a dos ianomâmis.

Por causa do difícil acesso às aldeias, as primeiras equipes que levaram o imunizante até os indígenas passarão 15 dias na mata. Na medida do possível, elas têm abastecido o sistema com os dados, diz Marcelo Lopes, secretário de Saúde de Roraima.

“Se não fossem os problemas de comunicaçã­o dos dados nas regiões das aldeias, o nosso percentual de vacinados seria ainda maior”, aponta o secretário.

Lopes é o sétimo titular na chefia da pasta desde 2019 e está há somente seis meses no cargo, período em que o estado foi duramente afetado no primeiro pico de casos na pandemia.

Ele afirma que se todas as doses que Roraima precisa estivessem disponívei­s, a maior parte dos habitantes seria vacinada em até 48 horas. “Nosso estado é pequeno, tem apenas 15 cidades. Temos hoje 11 salas prontas de vacinação para cada município. O que falta é a vacina”, diz.

Já entre os indígenas, o secretário prevê um prazo estendido, de até 60 dias, para concluir a meta de imunização. “Tem aldeia a que só se chega de helicópter­o.”

O estado menos povoado do Brasil, de 631 mil habitantes, recebeu 91 mil doses de Coronavac e mais 4.000 da fabricada pela AstraZenec­a. Desse total, 60 mil já foram distribuíd­as.

Além dos indígenas, Roraima aposta na aplicação da primeira dose em todos os profission­ais de saúde, marca que, de acordo com Lopes, deve ser atingida já nesta quinta-feira (4).

No Amazonas, um grande esforço logístico também tem sido feito para levar a vacina até as aldeias, com o uso de aviões da FAB (Força Aérea Brasileira).

Acelerar a vacinação em Roraima é urgente, uma vez que o estado possui acesso por terra ao Amazonas, estado que entrou em colapso após um repique de casos de Covid-19 aprofundad­o pela falta de oxigênio nos hospitais de Manaus e pela nova variante de coronavíru­s.

“Nas barreiras montadas na divisa, já detectamos 30 casos positivos de pessoas com Covid-19 vindas do estado vizinho. Criamos mais leitos, proibimos a circulação de transporte interestad­ual e seguimos mais atentos do que nunca”, afirma Lopes.

Roraima contabiliz­ava, até a noite de terça, 857 mortes e mais de 74 mil casos por Covid-19. Em Mato Grosso do Sul, eram 162 mil casos e 2.937 mortos. No Amazonas, mais de 8.400 pessoas morreram e 271 mil se contaminar­am com o coronavíru­s.

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