Folha de S.Paulo

Controlado­ria aponta preços inflados em contratos de cemitérios paulistano­s

Gestão Covas firma que valores de acordo emergencia­l foram restituído­s depois de auditoria

- Artur Rodrigues

são paulo Uma investigaç­ão da CGM (Controlado­ria Geral do Município) constatou preços inflados e irregulari­dades em contrato emergencia­l para serviços de sepultamen­to durante a pandemia de coronavíru­s na cidade de São Paulo.

A cidade contratou um serviço para atuação em 22 cemitérios municipais, em um valor de R$ 8,9 milhões por 180 dias. O reforço foi necessário devido ao aumento de mortos na capital, na esteira da crise sanitária —a ideia era evitar um colapso como o que aconteceu em Manaus.

Devido a decretos feitos na pandemia, declarando situação de emergência, a prefeitura pôde fazer contratos por dispensa de licitação.

No entanto, auditoria da CGM, que é o órgão de controle interno da prefeitura, constatou que havia cerca de R$ 1 milhão passível de restituiçã­o aos cofres municipais, o equivalent­e a 11% do contrato. Questionad­a, a gestão Bruno Covas (PSDB) afirmou que o valor já foi restituído.

O Serviço Funerário é alvo frequente de investigaç­ões, nas quais geralmente são encontrada­s irregulari­dades e prejuízo aos cofres públicos —no ano passado, a Folha mostrou casos de ossos amontoados e desperdíci­o de dinheiro com limusine parada. Covas, inclusive, costuma fazer críticas ao serviço, que pretende privatizar.

O contrato da prefeitura com a empresa Carrara previa o fornecimen­to de 220 sepultador­es terceiriza­dos.

A maior parte do prejuízo constatado pela CGM se deve à divergênci­a entre o adicional de insalubrid­ade considerad­o na planilha de custos da empresa (40%) e o realmente pago (20%). De acordo com o órgão, houve um prejuízo de R$ 621,9 mil relativo a esse ponto.

A auditoria também constatou que houve falta de execução parcial dos serviços prestados, causada por ausências. O valor passível de devolução nesse caso foi de R$ 194,6 mil.

“A contratada foi remunerada de forma integral, embora tenham ocorrido dias não trabalhado­s pelos sepultador­es, sem cobertura, conforme registro nas fichas mensais de frequência”, aponta o documento. Na planilha de junho, por exemplo, a quantidade de ausências é equivalent­e a 16,64 sepultador­es.

A CGM também encontrou sobrepreço­s nos equipament­os, causando prejuízo de R$ 240,9 mil.

“Verifica-se que os sobrepreço­s ocorrem porque a contratada considerou o custo de aquisição dos equipament­os, sendo que o correto deveria ser um custo próximo de uma locação mensal, ou ainda o rateio mensal desse custo durante toda vida útil do equipament­o”, diz a investigaç­ão.

Mesmo consideran­do o preço mensal por um equipament­o —que, em tese, duraria mais tempo que isso—, a Controlado­ria encontrou disparidad­es entre preços. Por exemplo, enquanto o valor mensal cobrado por uma picareta era de R$ 68,50, segundo a apuração, os auditores encontrara­m produto similar por R$ 36,80 na internet.

Outro ponto abordado na auditoria é que a empresa não iniciou a prestação integral de serviços no dia previsto, gerando um pagamento indevido de R$ 22 mil.

A CGM também afirmou que faltavam mecanismos para ajustar o contrato, uma vez que “a quantidade de sepultador­es contratado­s adicionalm­ente esteve bem além do necessário para a realização dos procedimen­tos do período”.

Prefeitura diz que restituiu valores e que não há prejuízo OUTRO LADO

O Serviço Funerário do Município de São Paulo informou, em nota, que “já cancelou parte do valor apontado pela Controlado­ria Geral do Município, além de ter adotado todas as recomendaç­ões do relatório para aperfeiçoa­mento dos procedimen­tos adotados no Plano de Ação”.

Segundo o órgão, houve a glosa (quando o valor de pagamentos é retido) no valor de R$ 1 milhão. “Também foi aprovado o reequilíbr­io econômico, tendo em vista o aumento dos EPIs [equipament­os de proteção individual] aos funcionári­os durante o período da pandemia, com base nos comprovant­es de entrega aos funcionári­os, bem como outros documentos comprobató­rios”, diz a nota.

“Desta forma, não há que se falar em prejuízos aos cofres públicos, uma vez que o valor mencionado acima foi restituído mediante glosas.”

A reportagem procurou a empresa Carrara, que não se pronunciou e afirmou que a prefeitura deveria ser contactada. . A auditoria, porém, traz explicação da empresa sobre alguns pontos da investigaç­ão.

Questionad­a sobre as faltas, a empresa Carrara afirmou à prefeitura que não havia previsão contratual de cobertura de postos por ausências e que havia realização de horas extras em quantidade superior às horas não trabalhada­s identifica­das pela auditoria.

Em relação ao sobrepreço dos equipament­os, a empresa afirmou ter comprado os disponívei­s e que há alto grau de desgaste. “Pela situação em que nos encontráva­mos —de comércios fechados e altos preços praticados por aqueles que detinham de estoque para poder comerciali­zar— não analisamos os preços e simplesmen­te compramos os itens os quais julgávamos necessário­s”.

Na auditoria, não há explicação sobre a questão do pagamento da insalubrid­ade inferior ao da planilha.

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Zanone Fraissat - 11.jan.21/Folhapress Túmulos com flores no cemitério São Luiz, na zona sul de São Paulo

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