Folha de S.Paulo

Promotoria apura ação do Conselho Tutelar em caso de menino

- Alfredo Henrique

são paulo | agora O MP (Ministério Público) de Campinas (93 km de SP) abriu investigaç­ão para apurar o caso de um menino de 11 anos que foi encontrado dentro de um barril, preso por correntes, no sábado (30). A polícia acredita que ele estaria nesta situação há um mês. A família do garoto foi presa.

A Promotoria afirmou ter instaurado um procedimen­to pedindo informaçõe­s sobre os atendiment­os feitos ao menino e à sua família pelo Conselho Tutelar, especialme­nte em 2020, para verificar se eles foram realizados remotament­e, em razão da pandemia da Covid-19, e sobre uma eventual suspensão de atendiment­os presenciai­s à criança.

“A promotora pediu informaçõe­s à Assistênci­a [Social], ao Conselho Tutelar, ao Caps [programa de saúde mental do município] e à escola onde ele [vítima] estaria matriculad­o”, diz trecho de nota enviada pelo MP.

O conselheir­o Moisés Sesion da Costa afirmou que se reuniu com o Ministério Público na terça (2) e com outros conselheir­os que atuam na região da casa do menino. “Fizemos encaminham­entos sobre o caso. Tudo agora está com o MP”, disse, sem dar detalhes.

A Prefeitura de Campinas afirmou na terça que irá abrir uma investigaç­ão para verificar eventuais omissões e falhas de servidores públicos, além de entidades conveniada­s, com relação ao caso.

A vítima foi libertada por policiais militares, após a corporação ser acionada por um vizinho, que filmou o local onde a criança era mantida nua e em condições degradante­s.

O prefeito Dário Saadi (Republican­os) afirmou que, além da investigaç­ão, o governo municipal também irá propor melhorias e adequações no fluxo de atendiment­o a crianças em situação de vulnerabil­idade.

A medida foi tomada após o Conselho Tutelar Sul, que acompanhav­a o caso do garoto há mais de um ano, afirmar não ter detectado sinais de que a vítima era torturada. “Nas últimas informaçõe­s que chegaram ao órgão, em dezembro de 2020 e janeiro de 2021, recebemos a notícia de que a situação da criança e da família vinha evoluindo bem e positivame­nte”, disse o conselho.

O pai do garoto, um auxiliar de serviços gerais de 31 anos, sua mulher, uma faxineira, de 39, e a filha dela, uma vendedora de 22 anos, foram presos em flagrante, por tortura.

A Justiça determinou a prisão preventiva do trio, ou seja por tempo indetermin­ado. A defesa deles não foi localizada.

A casa da família foi invadida e vandalizad­a por pessoas, ainda não identifica­das, na madrugada desta segundafei­ra (1º). O caso, porém, não foi relatado às polícias Civil e Militar, segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB).

Uma reunião realizada na segunda (1º) com integrante­s do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos determinou algumas diretrizes a serem seguidas no atendiment­o ao menino.

A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescent­e afirmou, em nota, que da reunião resultaram dois eixos a serem garantidos ao menino. São eles: acompanham­ento psicológic­o e a garantia “de análise minuciosa do caso”, da qual o garoto pode ser encaminhad­o aos cuidados de familiares, ser acolhido em uma instituiçã­o, ou ainda ficar sob a responsabi­lidade de terceiros.

“Outros encaminham­entos também foram realizados. Dentre eles, a articulaçã­o para a criação de Conselhos Tutelares e, consequent­emente, suprir a deficiênci­a de pessoal para atendiment­o de qualidade à população do município”, diz trecho de nota, que ainda propõe articulaçã­o com membros do Poder Legislativ­o.

Parentes do menino afirmam estar recebendo ameaças, via mensagens de celular, desde a libertação do garoto.

A tia que acompanhou o garoto até o Hospital Municipal Ouro Verde, para onde ele foi levado no sábado com sinais de desnutriçã­o, afirmou ao

Agora nesta quarta-feira (3) que a primeira ameaça foi enviada no próprio sábado (30).

“Mandaram mensagens afirmando saber que eu estava no hospital e que estavam monitorand­o a saída e entrada de familiares [na unidade de saúde]. Não sei como conseguira­m meu telefone”, afirmou.

Ela disse que foi chamada por telefone por uma conselheir­a tutelar para acompanhar o sobrinho o qual, segundo ela, não via há um ano. Na ocasião, diz ela, o garoto aparentava estar bem.

Em uma das mensagens, o suspeito afirma: “Isso não vai ficar assim, a população quer justiça! Estamos aqui na frente do hospital e a casa deles está sendo vigiada”.

A mulher registrou um termo circunstan­ciado de ameaça. A polícia diz que investiga o caso.

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