PM é preso sob suspeita de ter dado disparo que matou menina em Niterói
Ana Clara Machado, de 5 anos, foi atingida na porta de casa, em uma favela, na terça (2); família nega que tenha havido confronto
rio de janeiro Um policial militar foi preso em flagrante pela Polícia Civil suspeito de ter dado o tiro que matou a menina Ana Clara Machado, 5, na terça-feira (2) em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro. A identidade do agente não foi divulgada.
Ana Clara brincava com o irmão na porta de casa, na comunidade Monan Pequeno, na manhã de terça-feira, quando foi baleada. A criança foi levada para o Hospital Estadual Azevedo Lima, mas não resistiu aos ferimentos.
A Polícia Militar afirma que agentes do 12° BPM estavam em patrulhamento quando criminosos atiraram contra eles, iniciando um confronto.
A corporação também diz que, em deslocamento pela área, moradores pediram socorro para uma criança ferida, que, por isso, teria sido levada ao hospital na viatura.
A família de Ana Clara contesta a versão dos policiais militares, nega que tenha havido confronto com criminosos e afirma que os agentes chegaram ao local atirando.
“Dentro da viatura eu falava para eles: ‘vocês mataram a minha filha, vocês acabaram com a minha vida’”, disse a jornalista Cristiane Silva, mãe da menina.
A DHNSG (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e ItaboraÍ) abriu um inquérito para investigar o caso e identificou contradições nas declarações dos policiais militares, diante dos depoimentos prestados por testemunhas e da perícia realizada no local. Por esse motivo, um dos agentes, suspeito de ter dado o tiro que atingiu Ana Clara, foi preso em flagrante.
A Polícia Civil afirmou que realiza procedimentos para identificar a origem do disparo e para responder se havia confronto no local, como alegado pelo suspeito. As armas dos policiais foram apreendidas para confronto balístico.
A Polícia Militar também disse, em nota, que um procedimento de apuração interno foi instaurado.
A plataforma Fogo Cruzado, que reúne dados da violência armada na Região Metropolitana do Rio, contabiliza que quatro crianças já foram baleadas no estado desde o início do ano.
Além de Ana Clara, também morreu Alice Pamplona de Souza, 5, atingida por um tiro no pescoço quando celebrava a virada do ano com a família no morro do Turano, zona norte do Rio de Janeiro.
A ONG Rio de Paz calcula que, desde 2007, 80 crianças já morreram vítimas de armas de fogo no estado —no ano passado foram 12.
É o caso das primas Emily Victória Silva dos Santos, 4, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, 7, mortas ao serem atingidas por balas de arma de fogo em dezembro quando brincavam na porta de casa, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Dez pessoas morrem em operação policial em favelas no Rio
Dez pessoas morreram na manhã desta quarta durante operações da Polícia Militar em favelas da zona norte e oeste do Rio de Janeiro. Nenhum dos mortos era policial.
Durante a operação foram apreendidos cinco fuzis, uma submetralhadora, quatro pistolas, granadas, rádios comunicadores e drogas.
A ação ocorre em meio à determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendeu em junho todas as operações policiais no Rio enquanto durar o estado de calamidade pública decorrente da pandemia da Covid-19.
Segundo decisão do ministro Edson Fachin, apenas incursões excepcionais poderiam acontecer. A restrição foi confirmada em agosto pelos demais ministros, no plenário.
A ação ocorreu nas comunidades da Caixa D’Água e do Morro do 18, em Quintino, do Morro do Urubu, em Pilares, do Flexal, no Engenho da Rainha, e da Barão, Bateau Mouche e Chacrinha, na Praça Seca, territórios disputados pela milícia e pelo tráfico.
A polícia afirma que foi atacada por criminosos armados em diversos pontos das favelas, o que teria iniciado os confrontos que resultaram nas mortes. Outras 11 pessoas foram presas.
A corporação diz que a ação teve como objetivo estabilizar a região, disputada pelo crime. De acordo com a Polícia Militar, as facções desejam ampliar o tráfico de entorpecentes e controle de serviços fornecidos à população local, como a venda de gás e o fornecimento de internet e TV a cabo, práticas típicas das milícias.
A reportagem questionou o Ministério Público do Rio se a operação desta quarta-feira foi comunicada pela Polícia Militar, e se haveria investigação para apurar as mortes, mas não obteve resposta.
O aumento do número de mortes por intervenção policial no Rio em outubro, a despeito da decisão do STF, levou Fachin a exigir respostas do governo fluminense.
O ministro determinou em novembro que o estado do Rio de Janeiro apresentasse os motivos para a realização das operações, com cópia dos ofícios encaminhados ao Ministério Público, assim como a descrição dos cuidados tomados durante as ações.
De junho a setembro, após a decisão do Supremo, o número de mortes por intervenção do Estado caíram drasticamente no Rio. Em outubro, no entanto, dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostram que o índice voltou ao patamar anterior à determinação. Já em novembro e dezembro os números foram novamente reduzidos.