Folha de S.Paulo

Netflix esmaga suas rivais no Globo de Ouro e impera nas categorias de televisão

- Luciana Coelho

Para a surpresa de ninguém, num ano pandêmico em que o que diferencio­u filmes e séries muitas vezes foi só a duração, os votantes do Globo de Ouro também passaram 2020 assistindo à Netflix. É isso que levam a crer as 42 indicações ao prêmio para a plataforma.

Curiosamen­te, contudo, suas séries mais vistas não foram lembradas, e outras, como “O Gambito da Rainha”, não chegaram a acumular muitas indicações —duas, neste caso.

Na lista, o gigante do streaming abocanhou 35% de todas as indicações sozinho —36% se considerar­mos só televisão.

Se a liderança é inequívoca no caso dos distribuid­ores, o mesmo não ocorre como as séries em si, nas quais há pulverizaç­ão. O drama “The Crown”, com a quarta temporada na cola da rainha Elizabeth 2ª, foi o campeão de indicações, com seis. Pode, entretanto, levar no máximo quatro.

Além de melhor drama, categoria mais disputada, Olivia Colman (a rainha) e Emma Corrin (Diana) brigam pela estatueta de atriz dramática, e Helena Bonham Carter (princesa Margaret) e Gillian Anderson (Thatcher), pela de coadjuvant­e. A chance é menor para Josh O’Connor, finalista entre os atores por seu Charles.

A maior concorrent­e é outra série veterana da Netflix, o drama criminal-familiar “Ozark”, que pode ficar com os prêmios de drama, atriz (Laura Linney) e atriz coadjuvant­e (Julia Garner). Jason Bateman concorre a melhor ator, mas qualquer resultado diferente de Bob Odenkirk em “Better Call Saul” seria injusto (sim, mesmo Al Pacino, caricato na medonha “Hunters”).

A competição na categoria é acirrada, porém. Inclui a fantasia de terror racial “Lovecraft Country”, cria de Jordan Peele para a HBO, além da divertida “The Mandaloria­n”, no recém-chegado Disney+, e “Ratched”, viagem de terror de Ryan Murphy para a Netflix. Sim, o terror está em alta e anda bem mais criativo do que a comédia, talvez reflexo desses nossos tempos.

Sem sucessos inequívoco­s como “Fleabag” e “Maravilhos­a Sra. Maisel”, as estatuetas cômicas parecem já poder ser enviadas para “Schitt’s Creek”, sobre o perene tema da família disfuncion­al obrigada a se readaptar, que sempre acerta quando o elenco é bom, como neste caso, e que levou uma bacia de troféus no Emmy.

A pop “Emily em Paris” é bonitinha, e só, e “Ted Lasso” já foi longe demais ao chegar à lista. “The Flight Attendant”, cria expectativ­a, mas não causou estrondo —ainda não está disponível no Brasil.

Olhando atuações cômicas, é difícil alguém tirar a taça da dupla de “Schitt’s Creek”, Catherine O’Hara e Eugene Levy, mas Kaley Cuoco, de “Flight Attendant”, está no páreo.

Neste ano, a categoria minissérie reuniu três dramas bastante pop —“Normal People”, já adorada em sua versão livro; “O Gambito da Rainha”, um sucesso de público, e “The Undoing”, boa série cujo final foi execrado pela internet. Deve caber à mais hardcore “Nada Ortodoxa”, no entanto, repetir suas conquistas do Emmy, com chance da indefectív­el Cate Blanchett (“Mrs. America”) tirar o prêmio da protagonis­ta Shira Haas.

E, para não faltar palpite polêmico, fica a torcida de melhor ator em minissérie para Hugh Grant, que com seu personagem dissimulad­o em “The Undoing” se mostrou, tardiament­e, um grande intérprete.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil