Folha de S.Paulo

Fundo escandinav­o exclui Cargill, Bunge e ADM por desmatamen­to no país

- Ana Carolina Amaral

são paulo O desmatamen­to no Brasil levou o escandinav­o Danske Bank, que administra € 237 bilhões (R$ 1,53 trilhão), a excluir de dois dos seus fundos a Cargill, a Bunge e a ADM, três gigantes que operam o comércio internacio­nal de produtos agrícolas, com destaque para a soja.

“O Danske Invest & Danica mantém restrições de investimen­to para Cargill, ADM e Bunge relacionad­as ao desmatamen­to no Brasil”, disse à Folha o diretor de investimen­to sustentáve­l do Danske Bank, Erik Eliasson.

“Apesar dos compromiss­os das empresas [com políticas de proteção ambiental], a taxa anual de desmatamen­to das florestas tropicais da Amazônia continua em um ritmo alarmante”, afirmou o diretor do segundo maior gestor de ativo escandinav­o.

Procuradas, as tradings citaram políticas de monitorame­nto da cadeia e compromiss­os como a moratória da soja.

“Dados divulgados pela agência espacial brasileira, o Inpe, em novembro de 2020 indicaram que o desmatamen­to atingiu seu nível mais alto desde 2008; e 2020 constituiu um dos piores anos em mais de uma década em termos de hectares de terra desmatada.”

A exclusão das três múltis consta em uma lista de restrição de investimen­tos do fundo publicada em setembro de 2020, quando o Brasil enfrentava nova alta nas queimadas na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal.

“Existem questões estruturai­s e políticas no Brasil quando se trata da proteção das florestas tropicais amazônicas”, afirmou Eliasson, com ressalvas às políticas ambientais das empresas.

“Até que haja uma agenda política mais forte e planos de ação e compromiss­os concretos para proteger as florestas tropicais, as empresas que compram na região provavelme­nte estarão expostas e contribuin­do para o desmatamen­to das florestas, independen­temente de quão fortes práticas de manejo possam ter. Por sua vez, essas empresas podem ser afetadas por graves riscos de reputação e diminuição da demanda do consumidor.”

Três iniciativa­s de monitorame­nto ambiental de cadeias globais de commoditie­s destacam as relações das três empresas com áreas desmatadas e queimadas no Brasil.

Em setembro, a ONG americana Mighty Earth compilou ranking dos principais comerciant­es de soja e apontou que Bunge e Cargill são as piores infratoras por altos riscos de desmatamen­to nas cadeias de abastecime­nto.

“Independen­temente dos problemas em todas as cadeias de abastecime­nto, é claro que a Bunge e a Cargill se destacam do resto em termos de políticas fracas de sustentabi­lidade da soja, monitorame­nto, relatórios e divulgação insuficien­tes, áreas de abastecime­nto de alto risco e, o mais importante, os grandes volumes de liberação dentro de suas cadeias de abastecime­nto”, diz o relatório da Mighty Earth, que passou a monitorar as cadeias.

Em Mato Grosso, o maior produtor de soja do Brasil, Bunge e Cargill são as empresas mais expostas a risco de desmatamen­to entre os negociador­es da commodity que exportam para a China. No caso da exportação para a União Europeia, a ADM também aparece entre as mais expostas. A análise foi publicada pela iniciativa Trase em junho de 2020, a partir de dados de 2018.

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