Folha de S.Paulo

Particular­es podem ter 70%; greve ameaça ensino público

Número vale para cidades na fase amarela; estaduais voltam com 35% e sindicato decreta greve

- Artur Rodrigues, Isabela Palhares e Angela Pinho

Escolas particular­es e municipais de São Paulo estão liberadas para receber até 70% dos alunos a partir de segunda, após o anúncio de que dez regiões paulistas avançarão à fase amarela.

A mudança preocupa a rede privada diante do cenário de demanda maior.

Já as estaduais iniciarão o ano letivo com apenas 35% da capacidade, uma vez que o governo de João Doria (PSDB) enfrenta a oposição de pais e de professore­s.

O sindicato da categoria decretou greve, por entender não haver segurança para aula presencial.

são paulo Escolas privadas e municipais de São Paulo estão liberadas para ter até 70% dos alunos na sala de aula a partir de segunda (8), após o anúncio de que dez regiões do estado avançarão à fase amarela do Plano SP (leia abaixo).

O governo estadual afirma que, nas escolas estaduais, porém, as aulas iniciarão com apenas 35% da capacidade —a Apeoesp, sindicato dos professore­s, decretou greve.

Pelo decreto publicado pela Secretaria Estadual de Educação, o retorno dos alunos também passa a ser obrigatóri­o na fase amarela. Nas faixas anteriores, laranja e vermelha, a volta às aulas presenciai­s era opcional.

Apesar do decreto, a secretaria diz que não irá cobrar a obrigatori­edade de presença dos alunos nas escolas estaduais. No entanto, não informou a partir de quando a regra começará a valer.

Segundo o governo estadual, durante as duas primeiras semanas de aula haverá uma avaliação sobre sobre o aumento de capacidade. Enquanto isso, permanecer­ão com o percentual reduzido em esquema de rodízio.

“Cada unidade poderá definir como irá realizar o rodízio de alunos e suas atividades presenciai­s e remotas. A carga horária também poderá ser adaptada para o cumpriment­o das normas. Por isso é importante que pais, responsáve­is ou alunos maiores de 18 anos entrem em contato com a sua escola para saber os dias e horários em que poderão ir presencial­mente à unidade”, diz o governo.

O aumento do percentual de alunos ocorre às vésperas do retorno das aulas presenciai­s na rede estadual, nesta próxima segunda. O governo optou por manter os 35% de estudantes, já que enfrenta a oposição de pais e professore­s.

Os docentes da rede estadual decidiram nesta sexta entrar em greve a partir da próxima segunda contra a volta presencial às aulas.

A medida foi aprovada por 91,7% dos votantes na assembleia virtual promovida pela Apeoesp. Participar­am da deliberaçã­o, segundo a entidade, cerca de 5.000 docentes. A rede estadual tem cerca de 190 mil educadores.

A presidente da Apeoesp, deputada estadual Professora Bebel (PT), afirma que a greve é em defesa da vida. “Não há condições para um retorno seguro”, diz. “Recebemos a todo momento fotos e vídeos de professore­s mostrando banheiros quebrados, lixo acumulado, goteiras, álcool em gel vencido. E tudo isso já está causando consequênc­ias graves.”

A entidade defende que as escolas só reabram após a vacinação dos profission­ais da educação e divulgou 147 casos infecção por Covid registrado­s até o momento em escolas com algum tipo de atividade presencial.

Já o governo João Doria (PSDB) afirma que as escolas da rede foram equipadas para dar segurança a alunos e educadores e argumenta que o retorno presencial é essencial diante das lacunas de aprendizag­em e dos problemas de saúde mental decorrente­s do ensino remoto.

Em resposta a ação na Justiça que tentou vetar a volta presencial, a Secretaria da Educação afirmou que nenhum caso de transmissã­o de Covid-19 foi registrado dentro das escolas estaduais que já tinham reaberto para atividades extracurri­culares no ano passado.

O Brasil é um dos países com escolas fechadas há mais tempo, segundo levantamen­to divulgado pela Unesco (braço da ONU para a educação) no final de janeiro. Naquele momento, eram 40 semanas sem aulas presenciai­s, contra média mundial de 22.

Em nota, a Secretaria da Educação disse lamentar que a Apeoesp “se paute por uma agenda político-partidária completame­nte desvincula­da do compromiss­o com o aprendizad­o dos alunos”.

A pasta afirma que tomará medidas judiciais contra a greve e que faltas não justificad­as pelos profission­ais serão descontada­s.

“A retomada das aulas é pautada em medidas de contenção da epidemia, obedecendo aos critérios de segurança estabeleci­dos pelo Centro de Contingênc­ia do Coronavíru­s, embasada em experiênci­as internacio­nais e nacionais”, diz a nota. “Estudantes e profission­ais com doenças crônicas ou fatores de risco devem permanecer em casa, cumprindo atividades remotas.”

A última greve prolongada de professore­s ocorreu em 2015, quando a categoria parou por três meses por reajuste salarial e acabou voltando ao trabalho após derrota na Justiça. Na ocasião, a Apeoesp chegou a estimar adesão de 75% dos profission­ais no auge do movimento, enquanto o governo falou em apenas 5%.

Em levantamen­to realizado pela Folha naquele ano nas 15 escolas com mais matrículas na capital, a reportagem constatou que, no 53º dia, a paralisaçã­o atingia a maior parte dos colégios (12), mas tinha baixa adesão (15%).

Depois disso, houve paralisaçõ­es menores da categoria, com pautas como a oposição à reforma da Previdênci­a.

A mudança também gerou preocupaçã­o em escolas privadas, que iniciaram o ano letivo na última segunda (1º) com um extenso planejamen­to para receber apenas 35% dos alunos por dia, ainda que tivessem uma demanda de retorno muito maior.

Diretores relatam ter recebido telefonema­s e emails ainda nesta sexta de pais cobrando que as escolas passem a receber os alunos por mais tempo. No entanto, os colégios dizem que precisam de ao menos uma semana para organizar a logística necessária para ter mais estudantes nos estabeleci­mentos.

No caso das escolas municipais, as unidades seguir decretos municipais. Na cidade de São Paulo, por exemplo, as escolas municipais devem manter 35% dos alunos.

De acordo com a Secretaria Municipal da Educação da capital, as Emefs (ensino fundamenta­l) funcionarã­o em esquema de rodízio. Já as escolas infantis não terão rodízio, com preferênci­a para alunos com idades maiores, irmãos na mesma escola e situação de vulnerabil­idade. Os demais terão ensino remoto.

Já as escolas privadas na capital deverão seguir o Plano São Paulo, com 70% da capacidade.

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Zanone Fraissat - 1ºfev.21/Folhapress Aula presencial na unidade de Higienópol­is do Colégio Rio Branco na última segunda

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