Folha de S.Paulo

Por compras, Congresso propõe mudar MP da vacina

- Raquel Lopes

O Congresso propõe alterar a MP das vacinas para reduzir regras, facilitar a compra e dar celeridade à aprovação do imunizante no Brasil. A medida já oferece um processo mais simplifica­do para a aquisição de doses e insumos. Parlamenta­res enviaram 147 emendas ao texto, com intenção de afrouxar mais as normas.

BRASÍLIA O Congresso propõe alterar a MP (medida provisória) das vacinas pra reduzir regras, facilitar a compra e dar celeridade a aprovação do imunizante contra a Covid-19.

Deputados federais e senadores enviaram 147 emendas com a intenção de que sejam incorporad­as ao texto.

A MP 1.026 foi publicada no Diário Oficial da União no dia 6 de janeiro. Apesar de produzir efeitos jurídicos imediatos, ela precisa do aval da Câmara e do Senado para se converter definitiva­mente em lei.

A intenção é de afrouxar ainda mais as regras. A MP do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já estabelece um processo simplifica­do para a compra de vacina contra a Covid-19 e de insumos.

A medida permite que o poder público celebre contratos sem licitação para aquisição de imunizante­s e insumos, inclusive antes do registro sanitário e do aval para uso emergencia­l da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A norma permite, por exemplo, que a administra­ção pública realize pagamentos antecipado­s para comprar vacinas.

Uma das propostas de emenda é do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ele pele que seja incluído no texto a autorizaçã­o para que a União possa assumir riscos sobre eventuais efeitos adversos que a vacina possa apresentar referentes à responsabi­lidade civil, desde que a Anvisa tenha concedido o registro ou o uso emergencia­l.

Além disso, a União poderia constituir garantias ou contratar seguro privado, ainda que internacio­nal, para a cobertura dos riscos que o governo iria assumir.

As propostas facilitari­am a compra de imunizante­s da

Pfizer, uma vez que o contrato previa que o Brasil fizesse um fundo garantidor em conta no exterior e que fosse assinado um termo que isentasse a empresa de responsabi­lidades.

O Ministério da Saúde, porém, usou esses argumentos para que as doses da Pfizer não fossem adquiridas.

As medidas foram apresentad­as por AGU (Advocacia-Geral da União), CGU (Controlado­ria-Geral da União), e ministério­s da Saúde e da Justiça ao Planalto, mas não foram acrescenta­das ao texto final.

“A exclusão dos dispositiv­os demonstra uma tentativa deliberada do governo de atrapalhar e dificultar a imunização”, escreveu o senador na justificat­iva da emenda.

No artigo 16 da MP é estabeleci­do que a Anvisa poderá conceder autorizaçã­o excepciona­l e temporária para importação e distribuiç­ão de vacinas que tenham recebido luz verde de autoridade­s sanitárias de EUA, União Europeia, Japão, China ou Reino Unido.

Parlamenta­res pedem a inclusão de mais autoridade­s sanitárias estrangeir­as, entre elas a da Rússia e da Índia.

Há emendas que pedem ainda que o uso emergencia­l seja autorizado em até 72 horas; outras em 5 dias úteis —desde que aprovada por autoridade­s de outros países. Isso aconteceri­a independen­temente de exigência de realização de estudos clínicos no Brasil.

“A gente quer trazer mais agilidade para aquisição da vacina, é ela quem vai salvar vidas e nos trazer mais desenvolvi­mento econômico e segurança”, destacou o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), que pede o prazo de até cinco dias.

Mudanças feitas pela Anvisa na quarta-feira (3) já retiraram da exigência a realização de estudos clínicos de fase 3 no Brasil como requisito para análise. Nesse caso, porém, o prazo de análise passa a ser de 30 dias —e não mais de 10.

A Folha ouviu técnicos da Anvisa que afirmaram ser praticamen­te impossível fazer uma análise em 72 horas.

Um ponto que gerou diversas emendas também faz parte do artigo 16. De acordo com a MP, profission­ais de saúde que administra­rem a vacina e que tenha recebido autorizaçã­o para uso emergencia­l pela Anvisa devem avisar ao paciente sobre “potenciais riscos e benefícios do produto”.

As emendas propõem que seja retirado do texto a necessidad­e do agente de saúde, no ato da vacinação, falar sobre possíveis efeitos colaterais, riscos e benefícios da vacina.

Parlamenta­res propuseram ainda incluir na MP que vacinas comerciali­zadas em clínicas privadas também possam ser aplicadas para uso emergencia­l.

A MP aguarda despacho do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Ele designa uma comissão mista que analisa as emendas; o texto então segue para o plenário da Câmara e depois do Senado.

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