Folha de S.Paulo

O centrão e a pauta da pilhagem

- Cristina Serra helio@uol.com.br

brasília A nova configuraç­ão de poder no Congresso é a mais favorável em tempos recentes à agenda do “correntão”, que pretende legalizar crimes já em curso na Amazônia, como grilagem de terras, desmatamen­to e garimpo em áreas indígenas.

Bolsonaro terá em Arthur Lira, experiente colecionad­or de infrações ao Código Penal, um parceiro à altura para conduzir a pauta da pilhagem. Em sua campanha à presidênci­a da Câmara, o líder do centrão serviuse de jatinho da Rico Táxi Aéreo, de Manaus. Em seu site, consta que a Rico cresceu no setor de transporte com “pequenas aeronaves que serviam ao garimpo na região”. A mesma empresa doou R$ 200 mil à campanha de Lira a deputado, em 2014.

Uma das maiores obsessões de Bolsonaro é o projeto que libera mineração, garimpo, agropecuár­ia, construção de hidrelétri­cas e extração de petróleo e gás em terra indígena. O projeto trata os povos nativos com a mesma lógica do colonizado­r europeu: dividir para governar. Estimula conflitos em torno da repartição de poder e do dinheiro das indenizaçõ­es que vierem a receber.

Na essência, é um projeto etnocida. Os cupins da manipulaçã­o política e econômica têm o potencial de desestrutu­rar essas sociedades por dentro. É também genocida porque os povos terão, forçosamen­te, contato com todas as desgraças levadas pelos invasores: doenças, drogas, violência. E alguém acredita que os órgãos de fiscalizaç­ão terão condições de agir nos confins da Amazônia se não foram sequer capazes de monitorar barragens em Minas Gerais ?

O projeto viola o preceito constituci­onal de respeito à integridad­e das terras “tradiciona­lmente” ocupadas pelos indígenas, criado durante a Constituin­te em árduo processo de negociação entre a direita e a esquerda. Pela direita, pasme, o negociador foi o então senador Jarbas Passarinho, ex-ministro da ditadura. Mas aqueles eram tempos de diálogo e de gestação de um pacto para a reconstruç­ão do país. Hoje, estamos diante da destruição desse pacto e da ruína civilizató­ria.

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