Folha de S.Paulo

Proposta não reduziria os preços, afirmam especialis­tas

- Nicola Pamplona

rio de janeiro A proposta de mudança no sistema de cobrança do ICMS sobre combustíve­is enfrenta oposição dos estados e, segundo analistas, não traria impactos de curto prazo sobre os preços nos postos. Para o mercado, a tendência é que gasolina e diesel continuem pressionad­os durante o ano, diante da recuperaçã­o das cotações do petróleo.

A ideia, anunciada por Jair Bolsonaro como uma resposta à insatisfaç­ão dos caminhonei­ros, não é nova: o próprio presidente já havia defendido as mudanças há um ano, quando as cotações do petróleo dispararam após o assassinat­o do general iraniano Qasem Soleimani.

Também é defendida pelo setor de combustíve­is há anos, sob o argumento de que reduz os riscos de fraudes e garante maior previsibil­idade aos preços.

Os estados, porém, são contra a ideia. “Não é cabível que o presidente da República queira vulnerabil­izar o equilíbrio fiscal dos estados brasileiro­s transferin­do a responsabi­lidade para os estados”, afirmou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Ele defendeu que, em São Paulo, o ICMS representa apenas 13% do preço final do diesel e sugeriu ao governo que mexa em impostos federais ou na própria Petrobras se quiser baixar os preços. Doria afirmou que, após a entrevista em que Bolsonaro anunciou a proposta, conversou com “diversos governador­es” com posição contrária ao tema e ameaçou com ação conjunta para derrubar eventuais mudanças.

Para especialis­tas, a simples mudança na sistemátic­a de cobrança do ICMS não impactaria os preços, já que, caso aceitem a proposta, os estados deverão estabelece­r alíquotas que mantenham os níveis de arrecadaçã­o.

“Os estados têm seus orçamentos e não estão com superávit. Na hora em que determinar um valor fixo [do ICMS], vão olhar para sua necessidad­e de caixa. Não acredito em imediata redução da carga tributária”, diz o Sérgio Araújo, presidente da Abicom (Associação Brasileira das Importador­as de Combustíve­is).

Para os especialis­tas, os preços dos combustíve­is seguirão pressionad­os pela recuperaçã­o das cotações internacio­nais do petróleo, que reagem às expectativ­as de retomada da economia com o avanço da vacinação contra a Covid-19 pelo mundo.

“De julho para cá, o petróleo Brent [referência internacio­nal usada pela Petrobras] subiu quase 40%. E, para piorar, o real desvaloriz­ou muita coisa”, comenta Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestru­tura).

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