Substituto de Bezos, Andy Jassy é a personificação da cultura da Amazon
Futuro presidente do gigante da tecnologia foi responsável por difundir a computação em nuvem
san francisco | the wall street journal Andy Jassy, o líder da Amazon que assumirá a presidência-executiva da companhia, em substituição ao fundador Jeff Bezos, é um veterano acólito de seu chefe e ajudou a desenvolver uma das ideias mais lucrativas do gigante da tecnologia: a computação em nuvem.
Desde o lançamento da AWS (Amazon Web Services), em 2006, Jassy, 53, que assumirá o comando na Amazon no terceiro trimestre, vem sendo o principal arquiteto e proponente dessa unidade de negócios. Desenvolveu suas operações de uma ideia nascente e seriamente questionada na comunidade da tecnologia a um empreendimento multibilionário que domina a internet.
Depois de começar na Amazon, em 1997, e ajudar a pequena empresa de venda online de livros a expandir seu catálogo incluindo CDs, ele começou a acompanhar Bezos como assistente técnico, no começo da década de 2000.
Em 2003, participou de uma sessão de “brainstorming” na sala de estar de Bezos. Foi lá que eles desenvolveram, juntos, a ideia de criar a plataforma de computação em nuvem hoje conhecida como AWS.
Os empregados que participaram da sessão começaram a estudar de que maneira a maciça infraestrutura de processamento de dados que a companhia mantinha para acionar suas operações de varejo poderia ser transformada em um novo negócio.
O foco deles foi criar uma estrutura que pudesse ser usada por empresas para hospedar dados e desenvolver códigos e com base na qual eles pudessem oferecer serviços a empresas que operam na nuvem.
A visão era que “qualquer pessoa, em sua garagem ou alojamento universitário”, disse Jassy ao Wall Street Journal em uma entrevista alguns anos atrás, “poderia acesso à mesma estrutura de custos, à mesma facilidade de ampliação e à mesma infraestrutura que as maiores companhias do planeta.”
A AWS se tornou uma das maiores fontes de lucro da Amazon e banca boa parte das perdas da empresa com outras apostas operacionais que ela realiza e que terminam gerando déficits.
Em seu trimestre mais recente, a AWS teve vendas líquidas de US$ 12,7 bilhões, com receita operacional de US$ 3,6 bilhões, o que representa mais de metade da receita operacional geral da companhia.
A divisão detinha uma fatia de mercado de cerca de 34% no quarto trimestre do ano passado, de acordo com o Synergy Research Group. Os serviços de computação em nuvem da Microsoft, que estão crescendo rapidamente, ocupam a segunda posição, com 20%.
Quando foi lançada, a AWS era usada primordialmente por startups desprovidas de estruturas de computação preexistentes, por exemplo centrais de processamento de dados repletas de servidores. Quando companhias como o Airbnb, a Uber e a Netflix começaram a crescer e se tornar importantes, a AWS as acompanhou.
Nos últimos anos, o modelo de negócios que a unidade desenvolveu conquistou tamanho sucesso que a maioria das grandes empresas e agências do governo —mesmo aquelas que dispunham de estruturas existentes de computação— começou a pensar na computação em nuvem como parte de seus planos para o futuro. A pandemia acelerou a migração, já que essas organizações estão em busca de maior flexibilidade em seus gastos com tecnologia e de maneiras de facilitar o trabalho remoto.
Jassy cresceu em Scarsdale (NY) e se graduou e fez seu MBA na Universidade Harvard. Seu primeiro emprego depois de se graduar foi na MBI, que produz joias e moedas.
Jassy é conhecido como um verdadeiro devoto da cultura implacável da Amazon, um tecnocrata que busca detalhes e permite que suas equipes explorem ideias e produtos de maneira descentralizada. Ele é conhecido por sua curiosidade e por seu respeito pelos dados, de acordo com pessoas que têm laços estreitos com a companhia.
Jassy começa pelo problema que os clientes enfrentam e trabalha de lá em busca da origem, disse Matt McIlwain, diretor-executivo do Madrona Venture Group, empresa de capital para empreendimentos de Seattle que estava entre os primeiros investidores na Amazon e mantém um relacionamento estreito com a companhia.
“Acredito que seria impossível trazer alguém de fora da empresa para assumir o posto de Jassy”, disse McIlwain. “Existem muitas ideias e princípios culturais aos quais seria difícil alguém se adaptar. Andy personifica a Amazon, culturalmente.”
A cada ano, Jassy faz a principal palestra no evento da empresa sobre computação em nuvem, chamado re:Invent, na qual anuncia novos serviços em que os desenvolvedores trabalharão.
“Andy é bom em mobilizar pessoas por trás de uma ideia”, disse Ray Wang, fundador da Constellation Research.
“Ele às vezes se aprofunda nos detalhes e propõe novos modelos de negócio.”
Embora a AWS continue a ser a líder dominante, como pioneira do mercado, ela agora encara um concorrente sério na Microsoft, cujo presidente-executivo, Satya Nadella, vem pressionando a companhia a concentrar esforços na computação em nuvem.
Os negócios de computação em nuvem da Microsoft vêm crescendo rapidamente. Sua participação de mercado subiu de 10%, em 2017, para 20%, no quarto trimestre de 2020, de acordo com o Synergy Research Group. A Amazon, enquanto isso, manteve-se na faixa de 32% a 34% nos últimos quatro anos.
Nos últimos anos, surgiu um tom defensivo nos comentários públicos de Jassy sobre a Microsoft. “Eles não priorizam o que importa a vocês como clientes”, disse, sobre a concorrente na conferência anual da AWS sobre computação em nuvem em Las Vegas, em dezembro de 2019.
Mesmo com as tensões crescentes entre as duas companhias, Nadella enviou um bilhete de congratulação ao colega, via Twitter. “Um reconhecimento muito merecido de tudo que você realizou.”