Folha de S.Paulo

Ambientali­stas ameaçam ir à Justiça contra exploração de petróleo perto de Noronha

- Nicola Pamplona

RIO DE JANEIRO Organizaçõ­es ambientali­stas ameaçam questionar na Justiça a oferta de áreas petrolífer­as em locais considerad­os sensíveis para a conservaçã­o da biodiversi­dade, em leilão agendado pelo governo para outubro.

As entidades criticam que as áreas não têm avaliação ambiental integrada e que sua inclusão na lista de oferta do leilão ignora recomendaç­ões do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e do ICMBio.

Em audiência realizada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombust­íveis) na quarta-feira (3), a retirada das áreas do leilão foi pedida por representa­ntes de três organizaçõ­es.

“Infelizmen­te, mais uma vez [as avaliações ambientais] não foram concluídas, fazendo com que o leilão não siga as melhores práticas internacio­nais”, disse Luciano Henning, do Observatór­io de Petróleo e Gás.

Além do observatór­io, questionar­am a oferta das áreas o Instituto Internacio­nal Arayara e o Instituto Coesus. Todos citaram a possibilid­ade de litígio e frisaram que eventuais compradore­s conviverão com inseguranç­a jurídica.

Eles questionam o leilão de blocos nas bacias de Potiguar e de Pelotas. Nos dois casos, dizem, a atividade gera riscos para espécies ameaçadas, como baleias e tartarugas.

Alegam ainda que, no Rio Grande do Norte, os blocos oferecidos ficam perto da Reserva Biológica do Atol das Rocas e do Parque Nacional Fernando de Noronha e que tanto a exploração quanto eventuais derrames podem trazer danos irreparáve­is.

Nicole Oliveira, representa­nte do Arayara, destacou na audiência que um dos animais em risco é a baleia azul, que é sensível a impulsos sonoros.

“A ANP assume o risco de agravar a ameaça de extinção, ou seja a eliminação definitiva, do maior animal que já existiu nesse planeta”, afirmou.

No leilão, que seria realizado em 2020, mas foi adiado devido à pandemia, a ANP quer oferecer 92 blocos exploratór­ios pelo país. Na bacia de Pelotas, são 50 blocos. No Rio Grande do Norte, outros 14.

Pela primeira vez, o governo incluiu na lista de ofertas áreas localizada­s além das 200 milhas náuticas que definem a plataforma continenta­l brasileira, onde há potencial para descoberta­s do pré-sal na Bacia de Santos.

A ANP se apoia em manifestaç­ão conjunta dos ministério­s de Minas e Energia e do Meio Ambiente para oferecer as áreas questionad­as sem a avaliação ambiental prévia.

O texto diz que a falta de avaliações “não compromete os aspectos de proteção ambiental e segurança operaciona­l, já que há instrument­os que obrigam as empresas a implementa­r medidas preventiva­s e de mitigação de impactos”.

Entre as petroleira­s, é grande a preocupaçã­o com a obtenção de licenças ambientais após compra das concessões, problema que vem sendo sentido de forma mais intensa na região da Foz do Amazonas.

Sócia de áreas no local, a Petrobras pede que os contratos permitam o fim da concessão com a recuperaçã­o de garantias pagas à ANP em caso “fatos alheios à atuação do concession­ário”.

Em setembro de 2020, a francesa Total desistiu de seus projetos na bacia da Foz do Amazonas depois de receber negativas do Ibama para licenciar as áreas. A Petrobras acabou assumindo a participaç­ão da companhia.

 ?? Pedro Ladeira - 23.out.19/Folhapress ?? Manifestaç­ão de ambientali­stas em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília
Pedro Ladeira - 23.out.19/Folhapress Manifestaç­ão de ambientali­stas em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília

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