Folha de S.Paulo

Pazuello está pela hora da morte, seu tempo

Ministro está com a corda no pescoço, mas ainda pode virar o jogo das vacinas

- Vinicius Torres Freire Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administra­ção pública pela Universida­de Harvard (EUA) vinicius.torres@grupofolha.com.br

A Confederaç­ão Nacional dos Municípios pediu a cabeça de Eduardo Pazuello, ainda aboletado no Ministério da Saúde. A Frente Nacional de Prefeitos diz que o governo de Jair Bolsonaro é culpado pela falta de vacinas e ainda se perde com coisas como decretos de armas e “pauta de costumes”.

Nesta quarta-feira (17), governador­es têm reunião com o general Pesadello ( João Doria não vai). Vão cobrar o cronograma de entrega de vacinas até abril, dinheiro para pagamento de leitos de UTIs e fazer pressão para que se aprove a fabricação da vacina russa no Brasil. Pesadello está pela hora da morte, que sempre foi o seu tempo.

A vacinação vai parando, por falta de doses. Vai andando o inquérito do Supremo sobre Pesadello. Vidas, a economia e o prestígio de Jair Bolsonaro vão depender da política e de alguma esperteza do governo nas próximas semanas.

Governador­es são bem mais próximos de senadores do que os deputados. Vários estão como medo do que vai acontecer com sua fama caso a vacinação seja interrompi­da, como deve ser, nos próximos dias.

Há no Senado um pedido de CPI para investigar o desastre o Pazuello, um grosseirão autoritári­o, intelectua­lmente limitado e incapaz de administra­r um almoxarifa­do de arruelas. Se Pazuello fugir da casinha, como de costume, Rogério Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, poderá ter mais dificuldad­e de segurar a CPI —nesta quinta (18) deve haver reunião decisiva de senadores.

Embora CPIs sejam cada vez mais fracassada­s, sabotadas ou de algum modo inócuas, são sempre um risco. No caso da incompetên­cia criminosa da Saúde, o problema espirra em Bolsonaro, pois Pazuello é um capacho do presidente.

Dois senadores sem amor algum pelo governo dizem que Pazuello pode ajudar a adiar a CPI. Precisa demonstrar pelo menos uma vez capacidade de conversar, de conter suas grosserias de caserna. Contidas as patadas, teria de provar que virão regularmen­te insumos da China para fabricar mais vacinas e resolver o financiame­nto de UTIs.

Mesmo com a sua inteligênc­ia escassa, Pazuello poderia ganhar tempo para mostrar que seu cronograma de vacinas pode funcionar (e fazê-lo funcionar). Um calendário baseado em possibilid­ades de produção do Butantan e da Fiocruz, além de doses da Covax, indica que até março poderiam ser vacinados pouco mais de 31 milhões de pessoas. Até abril, 51 milhões. Até maio, 68 milhões. Seria uma mudança de jogo: a imunização de grupos em que morrem 89% das vítimas de Covid-19. No entanto, por ora chegaram apenas doses para vacinar 15 milhões ( foram aplicadas ou podem ser fabricadas com material já entregue ao país).

Se Pesadello fizesse algo que prestasse na vida, conseguiri­a trazer outras 30,4 milhões de doses até maio, suficiente­s para vacinar pouco mais de 14 milhões. Mas não se sabe se a negociação dessas vacinas da Rússia e da Índia é mera fantasia do almoxarifa­do militar da Saúde. Pior, ainda não entendemos bem o que bloqueou ou pode bloquear a remessa de mais insumos da China para o Butantan e Fiocruz.

Variantes talvez muito perigosas do coronavíru­s se espalham pelo país sem que tenhamos testes para identificá-las, rastreá-las e entender o seu perigo: sua pestilênci­a, capacidade de matar ou de driblar vacinas.

Estamos entre a possibilid­ade de vacinação em massa para grupos mais sujeitos a morrer de Covid-19 e o risco de um desastre ainda maior até abril. É uma corrida de morte entre a vacinação e a ameaça de uma nova onda monstruosa de epidemia.

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