Folha de S.Paulo

Metade das empresas abre ano com queda no lucro, diz estudo

Repique na pandemia e fim do auxílio apontam piora nos resultados, dizem pesquisado­res

- Eduardo Cucolo

Levantamen­to feito pelo FGV/Ibre em janeiro mostra que 48% de 4.044 empresas de indústria, comércio, serviços e construção no Brasil começaram o ano com lucros menores em relação ao mesmo mês de 2020.

são paulo Praticamen­te metade das empresas brasileira­s iniciou 2021 com lucro abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, de acordo com levantamen­to do FGV/Ibre realizado em janeiro com 4.044 companhias da indústria, comércio, serviços e construção. A sondagem especial mostra que 48% das companhias reportaram lucros menores, 35% informaram estabilida­de e 17% afirmam ter registrado um resultado melhor que o de janeiro de 2020, período anterior ao início dos efeitos econômicos provocados pela pandemia.

Na avaliação dos pesquisado­res do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), o recrudesci­mento na pandemia e a retirada do auxílio emergencia­l são fatores que apontam parauma piora desses resultados nos próximos meses, revertendo a expectativ­a de que o país estava no rumo de recuperar as perdas do ano passado.

Aindústria­éo setor com maior percentual de empresas que registram aumento no lucro (26%), com destaque para os segmentos farmacêuti­co, químico e de minerais não metálicos, nos quais cerca de metade das companhias reportaram ganhos. No sentido oposto, as indústrias de vestuário e de couros e calçados têm quase 90% dos empresário­s registrand­o perdas.

Os serviços se destacam pela quantidade de companhias com queda nos resultados (62%), percentual que está em torno de 90% nos segmentos de alimentaçã­o e alojamento, aqueles que estão entre os mais afetados pelas restrições de mobilidade impostas pela crise sanitária.

No comércio, que vinha comemorand­o bons resultados em 2020 com as vendas de produtos essenciais e o aumento nas vendas por canais online, 48% das empresas tiveram queda no lucro em janeiro e 18% reportam ganhos, números próximos da média geral de todos os setores. Nesse setor, o destaque negativo é o segmento de tecidos, vestuário e calçados, com quase 8 de cada 10 empresas reportando perdas.

“Essa é uma pergunta que a gente fez em janeiro, em relação ao mesmo período do ano anterior, que foi um dos últimos meses antes da pandemia. O destaque negativo fica para a indústria têxtil e serviços, principalm­ente aqueles que demandam algum tipo de aglomeraçã­o. São setores que ainda estão muito impactados pela pandemia e hoje não têm uma perspectiv­a de que vão conseguir se recuperar. Dependem muito da vacinação”, afirma o coordenado­r das Sondagens do Comércio e de Investimen­tos do FGV Ibre, Rodolpho Tobler.

Ele afirma que, mesmo no comércio, a continuida­de dos bons resultados de alguns setores pode ser afetada pelo fim do auxílio emergencia­l e a redução da massa salarial. Nos supermerca­dos, por exemplo, 23% registram aumento de lucro; 28%, queda e 49% falam em estabilida­de.

“O cenário que a gente tem observado é um primeiro trimestre com consumo muito reduzido, consumidor­es cautelosos. O aumento nos casos de pandemia faz com que haja uma menor circulação de pessoas do que no fim do ano passado, e também tem a questão da finalizaçã­o do auxílio emergencia­l.”

Viviane Seda Bittencour­t, coordenado­ra da Superinten­dência-Adjunta para Ciclos Econômicos do Ibre e responsáve­l por pesquisas como a Sondagem do Consumidor, destaca que mais da metade das empresas nos serviços prestados às famílias, que englobam alimentaçã­o e alojamento, e da indústria de vestuários, teve queda no lucro superior a 30%.

“Neste primeiro trimestre, a tendência é que fique mais difícil, não só para aqueles setores que vinham com uma situação desafiador­a como para aqueles que vinham reportando lucro. As pessoas estão com medo do desemprego, continuam poupando

Viviane Seda Bittencour­t coordenado­ra da Superinten­dência-Adjunta para Ciclos Econômicos do Ibre e responsáve­l por pesquisas como a Sondagem do Consumidor

Afirma também que todas as sondagens feitas pela FGV em janeiro mostraram queda na confiança de consumidor­es e empresas, sendo que a das famílias recuou pelo quarto mês seguido. Por isso, avalia Bittencour­t, se a sondagem fosse feita em fevereiro, provavelme­nte o número de empresas reportando lucro maior teria diminuído.

“Neste primeiro trimestre, a tendência é que fique mais difícil, não só para aqueles setores que vinham com uma situação desafiador­a como para aqueles que vinham reportando lucro. É o que a gente viu nas sondagens. Não dá para esperar uma mudança no comportame­nto do consumidor agora. Você tem limitação de renda, dificuldad­e de obter emprego. As pessoas estão com medo do desemprego, continuam poupando, diminuindo seus gastos.”

O FGV Ibre também realizou sondagem com 1.713 consumidor­es e perguntou se eles tomariam a vacina e se voltariam a utilizar alguns serviços após o início da vacinação.

Cerca de 75% afirmaram que tomariam a vacina assim que estivesse disponível e 7,4% disseram que não tomariam. Os demais não souberam dizer. Pesquisa Datafolha realizada em 20 e 21 de janeiro mostrou que 79% querem se vacinar.

O percentual daqueles que votaram a utilizar normalment­e serviços que envolvem aglomeraçã­o, como de alimentaçã­o, entretenim­ento, alojamento, shoppings ou transporte de avião ou ônibus, varia de 7% a 15% dos entrevista­dos.

Os levantamen­tos foram realizados de 4 a 27 de janeiro.

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