Folha de S.Paulo

Sou grato pelo espaço dado à ciência

Histórico de fomentar o debate de ideias me estimulou a assumir esse espaço

- Marcelo Viana Matemático e diretor-geral do Impa. Ganhador do prêmio francês Louis D.

Há anos venho defendendo que está na hora de termos um protagonis­ta de novela, de qualquer gênero, que seja um matemático. Não (apenas!) para a eterna glória da minha profissão e sim, sobretudo, como um lembrete bem humorado da necessidad­e de aproximarm­os a ciência do dia a dia de todos.

Henri Poincaré escreveu que “o pensamento não é mais do que um relâmpago no meio de uma longa noite, mas é esse relâmpago que é tudo”. E precisa ser compartilh­ado para que ilumine a todos.

Nunca é demais enfatizar a importânci­a de que a sociedade compreenda a importânci­a da ciência e o seu papel no nosso desenvolvi­mento material e espiritual, individual e coletivo. Essa tarefa cabe, antes de mais nada, aos cientistas: quem se não nós pode apresentar as maravilhas do conhecimen­to científico e o quanto ele já fez pela humanidade?

A receptivid­ade do público brasileiro, sempre ávido e carente de conhecimen­to e cultura, não está em dúvida. Até eu, que escrevo sobre tema sabidament­e ingrato de comunicar, sou frequentem­ente agraciado com dúzias e dúzias de mensagens dos leitores, com respostas aos desafios que coloco, pedidos de temas a serem abordados, questionam­entos sobre assuntos relacionad­os.

Talvez menos conhecida no meio acadêmico e científico, mas não menos importante, é a receptivid­ade dos nossos grandes meios de comunicaçã­o, escrita, falada e visual, a conteúdos de natureza científica voltados para o público geral. Ainda temos um caminho a percorrer para alcançarmo­s a presença da ciência na comunicaçã­o de massa de que desfrutam países mais avançados, mas a disponibil­idade dos veículos está aí.

Sou grato à Folha de S.Paulo pelo espaço que me abriu para me comunicar semanalmen­te com todo o Brasil, com total liberdade para escrever sobre os temas que me interessam e que, acredito, podem interessar também aos leitores.

O histórico da Folha de prestigiar a ciência e fomentar a livre discussão de ideias foi um grande motivador do meu interesse em assumir esse espaço, há quase 4 anos. A tarefa de escrever um artigo por semana nem sempre se coaduna bem com a agenda pesada, mas ela já se tornou parte daquilo que faço como matemático.

Na próxima sexta-feira (19), a Folha completa um século de existência. É uma honra fazer parte do grupo de colunistas que o jornal reuniu ao longo dos anos para, nestas páginas, levarem até os leitores um pouco do relâmpago de Poincaré.

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