Sou grato pelo espaço dado à ciência
Histórico de fomentar o debate de ideias me estimulou a assumir esse espaço
Há anos venho defendendo que está na hora de termos um protagonista de novela, de qualquer gênero, que seja um matemático. Não (apenas!) para a eterna glória da minha profissão e sim, sobretudo, como um lembrete bem humorado da necessidade de aproximarmos a ciência do dia a dia de todos.
Henri Poincaré escreveu que “o pensamento não é mais do que um relâmpago no meio de uma longa noite, mas é esse relâmpago que é tudo”. E precisa ser compartilhado para que ilumine a todos.
Nunca é demais enfatizar a importância de que a sociedade compreenda a importância da ciência e o seu papel no nosso desenvolvimento material e espiritual, individual e coletivo. Essa tarefa cabe, antes de mais nada, aos cientistas: quem se não nós pode apresentar as maravilhas do conhecimento científico e o quanto ele já fez pela humanidade?
A receptividade do público brasileiro, sempre ávido e carente de conhecimento e cultura, não está em dúvida. Até eu, que escrevo sobre tema sabidamente ingrato de comunicar, sou frequentemente agraciado com dúzias e dúzias de mensagens dos leitores, com respostas aos desafios que coloco, pedidos de temas a serem abordados, questionamentos sobre assuntos relacionados.
Talvez menos conhecida no meio acadêmico e científico, mas não menos importante, é a receptividade dos nossos grandes meios de comunicação, escrita, falada e visual, a conteúdos de natureza científica voltados para o público geral. Ainda temos um caminho a percorrer para alcançarmos a presença da ciência na comunicação de massa de que desfrutam países mais avançados, mas a disponibilidade dos veículos está aí.
Sou grato à Folha de S.Paulo pelo espaço que me abriu para me comunicar semanalmente com todo o Brasil, com total liberdade para escrever sobre os temas que me interessam e que, acredito, podem interessar também aos leitores.
O histórico da Folha de prestigiar a ciência e fomentar a livre discussão de ideias foi um grande motivador do meu interesse em assumir esse espaço, há quase 4 anos. A tarefa de escrever um artigo por semana nem sempre se coaduna bem com a agenda pesada, mas ela já se tornou parte daquilo que faço como matemático.
Na próxima sexta-feira (19), a Folha completa um século de existência. É uma honra fazer parte do grupo de colunistas que o jornal reuniu ao longo dos anos para, nestas páginas, levarem até os leitores um pouco do relâmpago de Poincaré.