Jornalistas são independentes e eficientes
É preciso destruir o muro para criar nova maneira de pensar e de executar o futebol
Vacina sim, sem furar a fila, sem aglomerar, com máscara.
Na coluna anterior, escrevi que o futebol europeu é superior ao da América do Sul, por causa de melhores condições econômicas, científicas, sociais, educacionais e profissionais. Com isso, contratam os principais jogadores e desenvolvem, com mais eficiência, a técnica coletiva, a organização, dentro e fora de campo, e a maneira de fazer as coisas.
Um leitor contrapôs e disse que os brasileiros são mais habilidosos e criativos e que deveríamos retornar à nossa essência na maneira de jogar. Essas qualidades são importantes, mas o talento individual não é mais decisivo como era no passado. O jogo ficou muito mais complexo.
Temos de olhar e de aprender com o passado, mas é necessário separar a nostalgia, a saudade, um delicioso sentimento, do saudosismo de achar que tudo de antes era melhor. Muitas vezes, os saudosistas idealizam um passado que nunca existiu. Além disso, por causa da globalização e por ter jogadores de todos os países espalhados pelo mundo, não há mais as marcantes diferenças de estilo de outras épocas.
Os europeus, cada vez mais, formam jogadores habilidosos, criativos e fantasistas, e os sul-americanos, cada vez mais, produzem jogadores técnicos, práticos e pragmáticos. O estilo das equipes varia nos dois continentes.
Para formar um grande time, é necessário unir a habilidade com a técnica, o drible com o passe, a disciplina com a criatividade, o conhecimento com o saber fazer e o encantamento com o resultado. Não é ficar em cima do muro. É destruir o muro e criar uma nova maneira de pensar e de executar.
100 anos
Desde 1999, há 22 anos, escrevo na Folha, às quartas e aos domingos. Estive presente em alguns Mundiais. Impressionou-me como os jornalistas da Folha são eficientes e independentes. O Datafolha, com a introdução das estatísticas, trouxe uma evolução nas análises do futebol.
No Mundial de 2002, eu estava em Ulsan, na Coreia do Sul, acompanhando os treinos da seleção brasileira, antes da estreia. Eu e o fotógrafo Eduardo Knapp viajamos até Seul, para fazer a cobertura do jogo inaugural da Copa, entre França e Senegal.
Na manhã do jogo, Knapp apareceu com altíssima febre e dores na garganta. Examinei-o e dei a ele antibióticos e antitérmicos, que levara de casa. Pegamos o avião para Seul, passamos no hotel e fomos para o estádio. A febre subia e descia, com o medicamento.
No estádio, fiquei em cima, no lugar reservado à imprensa escrita, e Eduardo, no gramado. Chovia bastante. Eu olhava para o jogo e para ele. Várias vezes, Knapp ia para um canto, onde enviava fotos, pela internet, para o Brasil, uma grande novidade na época. Além da máquina fotográfica, com imensas lentes, ele tinha que carregar o computador. E ainda chovia.
Logo após a partida, nos encontramos na sala de imprensa. Como havia muito mais jornalistas que postos de trabalho, ofereci meu lugar reservado a alguém, já que não usava o computador, sentei-me no chão, em um canto, onde escrevi minha coluna, à mão, como era habitual. Telefonei para Belo Horizonte, ditei o texto para uma pessoa que trabalhava comigo, e ele encaminhou à Folha.
No outro dia, pela manhã, continuava a febre de Knapp. Voltamos para Ulsan, e vi, no jornal, pela internet, meu texto e a belíssima foto do amigo. À tarde, a febre e os sintomas desapareceram. Fiquei aliviado e feliz.
Parabéns à Folha pelos 100 anos!