Folha de S.Paulo

Auxílio pode congelar salários de servidores por três anos

Medida é analisada nas conversas entre Executivo e Congresso como forma de compensar impacto do programa nas contas públicas

- Fábio Pupo

brasília A concessão de um auxílio emergencia­l com regras amplas poderia levar a um congelamen­to dos salários no serviço público federal por três anos para compensar o impacto do programa nas contas públicas.

Apesar de ainda não estar fechada, a alternativ­a é comentada nas conversas entre Executivo e Congresso —conforme pessoas com conhecimen­to do assunto relataram à Folha.

Para evitar a necessidad­e de compensar grandes volumes, defende-se no governo um programa com custos mais contidos do que em 2020.

Influencia nas visões sobre o programa o aumento no endividame­nto do país. A dívida bruta chegou ao fim do ano passado em 89,3% do PIB (Produto Interno Bruto) e deve subir novamente com a expectativ­a de mais um déficit nas contas públicas em 2021.

É defendida entre membros do Executivo a necessidad­e de filtrar os beneficiár­ios do auxílio emergencia­l em relação aos recebedore­s de 2020 para direcionar o programa aos mais pobres e manter o custo do programa sob controle.

Além disso, a ideia é restringir a duração dos pagamentos por três ou quatro meses. Esse prazo se baseia na premissa de que, dentro do período, haverá vacinação em massa da população idosa e queda no número de hospitaliz­ações.

Também é defendido um valor entre R$ 200 e R$ 250 mensais por beneficiár­io. A quantia é menor do que os R$ 600 mensais concedidos em 2020 nas cinco primeiras parcelas e do que os R$ 300 dos últimos quatro pagamentos.

O valor das parcelas em um patamar menor do que em 2020 é visto como forma de deixar o valor mais próximo ao do Bolsa Família. O programa de transferên­cia de renda concede, em média, um valor aproximado de R$ 200 por cartão.

A visão entre integrante­s do Executivo é que, quanto mais restritiva­s as regras do auxílio emergencia­l, menor seria o custo da medida e, portanto, menor a necessidad­e de medidas compensató­rias.

Por outro lado, o entendimen­to é que, quanto mais amplas forem as regras, maior a demanda por cortes de outras despesas.

O Ministério da Economia vem expressand­o reiteradas vezes a necessidad­e de contrapart­idas fiscais para a concessão do auxílio emergencia­l e para a liberação de gastos para combater os efeitos da pandemia.

A visão é que liberar mais gastos para enfrentar a Covid-19 não pode significar um novo cheque em branco, por causa do menor espaço fiscal do país após o rombo recorde de R$ 740 bilhões nas contas primárias em 2020.

Conforme mostrou a Folha nesta semana, a recriação do auxílio emergencia­l vai atender mais pessoas do que o inicialmen­te previsto e chegar a mais de 40 milhões de beneficiár­ios em 2021. Isso, por si só, já representa uma pressão sobre o custo.

Mesmo assim, o auxílio deve contemplar uma população menor do que a de 2020 (mais de 60 milhões). O objetivo é fazer uma filtragem e deixar o programa mais focado, direcionan­do recursos apenas à população mais pobre.

Mesmo com a perspectiv­a de liberação de novos gastos públicos neste ano para combater as consequênc­ias econômicas da pandemia, o ministro Paulo Guedes (Economia) planeja amenizar o impacto das medidas nas contas públicas.

Conforme mostrou a Folha também nesta semana, a equipe econômica desenha iniciativa­s em 2021 com uma engenharia financeira que gere efeitos similares aos observados no ano passado, mas que reduza ou até mesmo descarte a necessidad­e de recursos do Tesouro Nacional dependendo do caso.

No caso do programa de manutenção do emprego, Guedes tem dito a interlocut­ores que pretende eliminar o uso do caixa do Tesouro. A volta da medida que evita demissões já é uma certeza no Ministério da Economia para 2021.

O programa criado no ano passado, visto por governo e especialis­tas como fundamenta­l para a preservaçã­o de postos formais em 2020, permitia a suspensão de contratos de trabalho ou reduções de 25%, 50% ou 70% nas jornadas, com corte proporcion­al de salário.

Como compensaçã­o, o trabalhado­r afetado recebia do Tesouro um valor proporcion­al ao seguro-desemprego.

Agora, o ministro estuda usar recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhado­r), responsáve­l pelo custeio do seguro-desemprego e do abono salarial, para antecipar recursos ao trabalhado­r empregado.

No ano passado, foram usados R$ 51,5 bilhões da União para compensar trabalhado­res pela redução de salário ou suspensão dos contratos.

O chamado BEm (Benefício Emergencia­l de Manutenção do Emprego e da Renda) foi o terceiro programa que mais recebeu recursos do Tesouro em 2020 (atrás do auxílio emergencia­l e dos repasses a estados e municípios).

Outro exemplo são os programas de empréstimo­s. As linhas de crédito criadas em 2020 para socorrer empresário­s usaram em grande parte recursos da União, que garantiu o risco de até 100% de cada operação.

Neste ano, técnicos discutem um meio de os empréstimo­s dependerem menos de recursos públicos e terem uma parcela maior do risco assumido pelos próprios bancos.

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Luis Macedo - 12.fev.21/Divulgação Câmara Os presidente­s da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e o ministro Paulo Guedes (Economia) durante entrevista, na semana passada, sobre o auxílio

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