Folha de S.Paulo

Os comandante­s e o bolsonaris­mo

- Vinicius Sassine Hoje, excepciona­lmente, não é publicada a coluna de Bruno Boghossian

brasília No comando do Exército, o general Eduardo Villas Bôas agiu para pressionar o STF e para favorecer seu candidato à Presidênci­a: Jair Bolsonaro. Um tuíte com verniz conspirató­rio, agora dissecado pelo próprio Villas Bôas, foi feito para interferir no julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Lula, em 2018. A prisão do petista mudou a eleição.

As reações ao que ocorreu naquele momento-chave chegam com um atraso já habitual na democracia brasileira. Além de tardias, não passam de ruídos. E o mesmo deve ocorrer em relação à postura de um outro comandante, sucessor de Villas Bôas e atual líder do Exército brasileiro: o general Edson Leal Pujol.

Pujol não é Villas Bôas. Seu estilo é quase o oposto. Não há verborragi­a, redes sociais, pontes sólidas no mundo político ou ausência de sutilezas. Mas o comandante serve ao ideário bolsonaris­ta, e sua conduta (ou a ausência dela) ajuda a compor as ofensivas mais danosas de Bolsonaro nesta primeira metade de mandato.

A permanênci­a do general Eduardo Pazuello no cargo de ministro da Saúde e na ativa do Exército contou com aval de Pujol. Pazuello, hoje, é investigad­o por crimes e improbidad­e, suspeito de omissão diante de iminentes mortes por asfixia.

O laboratóri­o do Exército produziu 3,2 milhões de comprimido­s de cloroquina, droga sem efeito para Covid-19, porque não houve objeção do comandante. Pelo contrário: o Exército distribuiu o medicament­o de Bolsonaro a estados e municípios.

E o armamento da população, com flexibiliz­ação de regras, passa diretament­e pelo esvaziamen­to de atribuiçõe­s do Exército. Mais uma vez, Pujol é condescend­ente.

O comandante justifica a postura com explicaçõe­s genéricas. “O laboratóri­o do Exército é executor, não decide sobre medicament­os.” Ou: “A passagem do militar à inatividad­e não é decisão discricion­ária do comandante”. Os próximos anos podem servir para novas reações à relação entre um comandante e o ex-capitão.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil