Folha de S.Paulo

A razão de todos

Altamente inflacioná­rio, aumento do ICMS prejudica a retomada econômica

- Alfredo Cotait Neto Presidente da Associação Comercial de São Paulo e da Federação das Associaçõe­s Comerciais do Estado de São Paulo

“Todos têm razão. Mas não dá para todos terem razão ao mesmo tempo.” Em meio à pior pandemia do século, nunca foi tão válida a frase de Eugênio Gudin, um dos mais importante­s economista­s brasileiro­s.

O estado de São Paulo, que gerencia o combate à pandemia de Covid-19, tem razão em afirmar que teve suas finanças por ela atingidas —tanto do lado dos gastos como das receitas. Como reação, optou por elevar o ICMS de vários produtos, enquanto restringia o funcioname­nto das atividades econômicas.

Já as empresas e a população, que tiveram suas economias devastadas, têm razão em clamar por um alívio fiscal e uma liberdade maior para funcionar, apesar de atentas para as medidas de segurança contra a Covid-19. No momento, o início da vacinação renovou as esperanças de que este ano possa consolidar o controle da pandemia, criando condições para a gradativa retomada das atividades em geral e da economia em especial.

Mas precisamos promover o máximo esforço para que as várias “razões” convirjam em torno de um objetivo comum. Desde o início da epidemia, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e a Federação das Associaçõe­s Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp) colaborara­m com o governo paulista, orientando as empresas no sentido de cumprir as restrições impostas pelas autoridade­s —mas sempre alertando para o impacto negativo sobre as atividades econômicas, o emprego e a renda.

Assim, as entidades solicitara­m aos governos municipal, estadual e federal a prorrogaçã­o de impostos, com posterior parcelamen­to, para as atividades atingidas pelas medidas de restrição ao funcioname­nto, além de outras providênci­as de apoio às empresas, aos trabalhado­res e à população mais carente.

O não atendiment­o das medidas fiscais solicitada­s resultou em forte endividame­nto e na inadimplên­cia de milhares de empresas, sem contar as que fecharam definitiva­mente as portas, agravando o desemprego.

As medidas do governo federal, como o auxílio emergencia­l, na área trabalhist­a e as linhas de crédito, foram essenciais —e, em parte, amenizaram a situação das empresas e da população, mas se esgotaram com o fim dos benefícios.

Quando parecia que a situação estava sob controle, e que a economia iria recuperar-se, o estado de São Paulo, que não havia atendido aos pedidos de postergaçã­o dos impostos, ainda elevou o ICMS para um grande número de produtos —medida que não foi suspensa quando se constatou o aumento da pandemia e a adoção de novas restrições ao funcioname­nto das empresas.

Sempre vale lembrar que o aumento do ICMS é altamente inflacioná­rio, pois eleva os custos das cadeias produtivas, pesando no preço final e prejudican­do uma sociedade já abatida pelo impacto econômico.

Não se pode aceitar esse aumento de imposto, pois ainda temos um difícil período de travessia até que os benefícios da vacinação sejam efetivos. Para superar esse período, é essencial o apoio conjugado das três esferas do poder público.

O Congresso tem a possibilid­ade de selecionar as prioridade­s e fazer avançar as medidas necessária­s para colocar o país no caminho do cresciment­o econômico sustentáve­l e do desenvolvi­mento social indispensá­vel.

Sem dúvida, a aprovação do Orçamento e da PEC Emergencia­l devem ser as primeiras a serem votadas, pois, sem isso, será difícil discutir outros assuntos igualmente importante­s —autonomia do Banco Central, reforma administra­tiva, do pacto federativo, tributária, Lei do Gás e aprimorame­nto do marco legal para as concessões, entre outras.

Nesse sentido, espera-se do governo federal, novamente, algum tipo de apoio à população mais carente —através de remanejame­nto de verbas, sem compromete­r o teto do Orçamento— e a desoneraçã­o dos encargos sobre a folha de pagamentos para estimular o setor privado a expandir a oferta de novos empregos.

Temos sempre de lembrar que o Estado, ainda que tenha boas razões, dispõe de mais condições para suportar as perdas do que empresas e cidadãos. Em São Paulo, a ACSP e a Facesp esperam que o aumento do ICMS seja revisto.

Quando parecia que a situação estava sob controle, e que a economia iria recuperar-se, o estado de São Paulo, que não havia atendido aos pedidos de postergaçã­o dos impostos, ainda elevou o ICMS para um grande número de produtos —medida que não foi suspensa quando se constatou o aumento da pandemia e a adoção de novas restrições ao funcioname­nto das empresas

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