Folha de S.Paulo

Com mais de um nome, PSDB define candidato neste ano, diz presidente

Renovado à frente da sigla, Bruno Araújo vê como opções João Doria, Eduardo Leite e Tasso Jereissati

- Carolina Linhares

“O PSDB nunca teve vocação de oposição estridente, mas precisa sim se caracteriz­ar como um partido que discorda com vigor do que é ameaça à democracia

são paulo Em meio à crise que tragou o PSDB na última semana, o presidente do partido, Bruno Araújo, afirma que o partido é oposição a Jair Bolsonaro (sem partido).

Araújo foi reconduzid­o de forma unânime, na sexta-feira (12), após pedido de todos os diretórios estaduais, para mais um ano à frente da sigla. Seu mandato deveria terminar em junho deste ano.

Com isso, ocorrerá sob sua gestão a escolha de um presidenci­ável do partido, além da definição de alianças em torno da candidatur­a. Em entrevista à Folha, Araújo menciona três opções —o governador João Doria (SP), o governador Eduardo Leite (RS) e o senador Tasso Jereissati (CE).

O presidente afirma esperar que a escolha esteja concluída até outubro deste ano.

Sua recondução ao cargo foi vista como uma derrota para Doria, que almejava a presidênci­a da sigla e a indicação para a candidatur­a em 2022, algo que tropeçou no lançamento de Leite.

O governador paulista tampouco teve sucesso em retomar a investida contra o deputado Aécio Neves (MG). Segundo Araújo, o tema da expulsão não será revisitado.

Na entrevista, Araújo, que chegou à presidênci­a do PSDB em 2019 com o apoio de Doria, busca pacificar a sigla e diz ter tido também o apoio de São Paulo em sua recondução.

O PSDB viveu dias de crise. A divisão no partido se dá em torno do quê?

Não podemos falar de divisão quando houve uma decisão unânime da prorrogaçã­o do nosso mandato. Pelo contrário, fazia muitos anos que o partido não se sentia tão unido num propósito de gerar uma estabilida­de para cuidar do ano de 2022.

Na segunda [dia 8], tivemos um jantar que nasceu do convite do governador Doria, onde o tema foi discutido, isso seguiu para o partido e daí evoluiu para uma decisão, inclusive com o apoio do governador Doria e da executiva de São Paulo, de achar que a prorrogaçã­o do mandato desta atual executiva daria um ambiente de mais estabilida­de.

Mas é uma unidade do partido contra João Doria.

Não, é um processo de unidade do PSDB na compreensã­o de que, dado a fragilidad­e dos partidos e tudo que nós assistimos nessa primeira metade do governo Bolsonaro, e com o resultado de 2020, em que o PSDB se recoloca como player eleitoral relevante depois do tropeço de 2018, nós precisávam­os criar uma estabilida­de na administra­ção para poder preparar o partido e os candidatos para 2022.

Existe divergênci­a no PSDB a respeito da posição do partido em relação a Bolsonaro, se é oposição ou não?

O PSDB é um partido de oposição. Quem acompanha as redes sociais do partido sobretudo de junho de 2019 pra cá, período que eu presido, vê muito clara a posição de oposição. O partido reage. As pessoas misturam a posição do partido com uma rotina no Parlamento.

Por que então o partido se dividiu e boa parte votou em Arthur Lira (PP-AL), candidato de Bolsonaro?

O processo de disputa interna no Congresso envolve variáveis outras que não são só a institucio­nal do partido, sobretudo a ocupação dos espaços políticos dentro do Parlamento.

Eduardo Leite afirmou que o PSDB não tem o perfil de fazer oposição sistemátic­a e nem deve fazê-la. Concorda?

O PSDB nunca teve vocação de oposição estridente, mas precisa sim se caracteriz­ar como um partido que discorda com vigor do que é ameaça à democracia. No caso de Bolsonaro, três temas são vigorosame­nte contra as posições do PSDB: os excessos em relação a manifestaç­ões antidemocr­áticas, com as instituiçõ­es, a imprensa e a própria sociedade; a política externa e a gestão vexatória da pandemia. Em matéria econômica, temos bem menos divergênci­as, mas ela se aplica no fato de nós assistirmo­s há muito tempo promessas, semana após semana, por parte do governo através do ministro da Economia e essas entregas não serem feitas.

Qual a situação de João Doria no PSDB? Ainda tem condições de ser presidenci­ável ou deve migrar para outra sigla?

João Doria é um presidenci­ável do PSDB, um governador que fez a entrega mais importante no momento contemporâ­neo da vida dos brasileiro­s. Teve a capacidade política e de gestão de buscar uma alternativ­a de vacina que hoje é a maior esperança da população brasileira. É um executivo que faz entregas importante­s em São Paulo e continua sendo uma das mais importante­s e vigorosas lideranças do PSDB.

Mas Doria enfrenta oposição no PSDB? O governador Eduardo Leite também é presidenci­ável. Doria ainda é viável?

O partido não faz oposição a nenhum dos nossos presidenci­áveis. Se o PSDB não conseguir construir uma unidade em torno de um candidato e for chamado a escolher, o fará neste ano de forma democrátic­a e que ajuda no debate interno e ajuda a nacionaliz­ar o nome daqueles que querem se colocar à disposição de assumir uma candidatur­a presidenci­al.

Qual o calendário previsto?

Com a necessidad­e de nacionaliz­ar qual é a visão de país que o PSDB tem projetada nos seus candidatos, quanto mais rápido consolidar­mos uma posição, obviamente, tendo a clareza do momento certo, de chamar as prévias, para que o candidato possa, com vigor e trabalho, chegar em 2022 já falando para uma parte importante do eleitorado. Se depender da minha posição pessoal, seria, um ano antes do pleito eleitoral, nós termos um candidato a presidente da República sendo conhecido.

Há a possibilid­ade de que, diante da chance de perder as prévias, Doria saia do partido. O PSDB está disposto a perder esse quadro?

Primeiro há uma suposição de quem vence as prévias. Segundo, Doria não tem, na sua vida política ou empresaria­l, a tradição de fugir da raia. Qualquer jogo permite vitória ou derrota. Doria é extremamen­te competitiv­o, é um nome importante da cena pública nacional.

A movimentaç­ão de Doria de agregar o partido na oposição, de voltar a falar em saída de Aécio, de substituir o sr. na presidênci­a do partido foi tida, ao final, como uma grande derrota. Vê erros de Doria?

Erros e acertos são normais. No caso da prorrogaçã­o do mandato no partido, não vemos isso. Doria se juntou a todos na decisão de prorrogar a executiva. A resultante pende para uma balança ainda positiva na atuação do governador Doria.

Por parte dos aliados de Doria ainda há o entendimen­to de que ele deveria substituir o sr., se não agora, em junho do ano que vem.

Nenhum deles tratou isso conosco. Em junho do ano que vem o jogo está praticamen­te jogado. Essa discussão vai se dar no momento apropriado. Até lá, de forma estável, as decisões mais importante­s para o pleito de 2022 estarão tomadas.

Quais os cenários para o PSDB em 2022?

O PSDB saiu de 2018 muito machucado. Passados dois anos, saímos de 2020 com a confirmaçã­o do partido mais votado nas urnas. O problema do PSDB desde a sua fundação sempre foi ter mais de uma alternativ­a de candidatur­a. E isso é um problema bom, que grande parte dos partidos brasileiro­s não têm. Há uma animação substancia­l como há muito tempo não havia no partido. Com candidatur­as desde alguém que estava fora da vida pública, era da iniciativa privada, e teve resultados importante­s, como é o governador João Doria, ou uma virada geracional, com o mais preparado e mais brilhante político da sua geração, Eduardo Leite, ou com uma virada do ponto de vista da credibilid­ade, da maturidade sênior, de um senador como Tasso Jereissati.

Há opção de apoiar outro partido em alguma aliança ou algum outro nome, como Luciano Huck?

Primeiro vamos olhar para dentro, fazer o exercício interno de democracia, sem nunca deixar de, com muita humildade, manter um ambiente de diálogo dentro do campo que se afasta dos extremos estabeleci­dos no Brasil, para oferecer uma alternativ­a conjunta. Essa aglutinaçã­o vai se dar em muito pela capacidade de quem liderará esse projeto. Será o escolhido ou os escolhidos desse campo, os presidenci­áveis, que terão a principal responsabi­lidade de articular esse campo.

Como vê o papel de Aécio no partido hoje, ele tem influência?

Aécio é um político de muita habilidade, que mantém muitos amigos não só dentro do PSDB, mas em todos os partidos. Tem grande capacidade de articulaçã­o. O tema Aécio Neves é um tema encerrado dentro do partido.

Não vale a pena revisitar a questão da expulsão dele?

Durante a minha presidênci­a, não.

 ?? Iwi Onodera - 8.ago.2019/UOL/Folhapress ?? O presidente do PSDB até junho de 2022, ex-deputado e ex-ministro Bruno Araújo
Iwi Onodera - 8.ago.2019/UOL/Folhapress O presidente do PSDB até junho de 2022, ex-deputado e ex-ministro Bruno Araújo

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