Folha de S.Paulo

Villas Bôas ironiza crítica de Fachin; Gilmar Mendes vê deboche

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brasília, são paulo e do uol, em brasília O ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas ironizou nesta terça (16) uma crítica aos militares feita um dia antes pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal). Sem citar o general, Gilmar Mendes reagiu.

A reprimenda de Fachin foi uma resposta à revelação de que a cúpula do Exército, então comandado por Villas Bôas, articulou um tuíte de alerta ao Supremo antes do julgamento de um habeas corpus que poderia beneficiar o ex-presidente Lula, em 2018.

Lula acabou tendo o pedido negado pelo plenário do Supremo, foi preso e levado para Curitiba. Deixou a cadeia 580 dias depois, após o STF derrubar a regra que permitia prisão a partir de condenação em segunda instância.

Nesta terça, Villas Bôas comentou notícia sobre as críticas de Fachin: “Três anos depois”. O general, que sofre de esclerose lateral amiotrófic­a, usa aparelhos de informátic­a para se comunicar.

Fachin é o relator da Operação Lava Jato no Supremo.

Após a publicação de Villas Bôas, houve a manifestaç­ão de Gilmar, ministro da ala mais garantista da corte. No Twitter, Gilmar disse que “a harmonia institucio­nal e o respeito à separação dos Poderes são valores fundamenta­is da nossa república”. “Ao deboche daqueles que deveriam dar o exemplo responda-se com firmeza e senso histórico: Ditadura nunca mais!”, escreveu.

A mensagem de Villas Bôas era um comentário à postagem de Antonio Lorenzo, que já foi chefe de comunicaçã­o da Aeronáutic­a. Lorenzo publicou três emojis com expressão de sono e escreveu: “Três anos depois...”.

Em livro-depoimento, Villas Bôas afirma que o texto do tuíte de 2018 foi escrito por “integrante­s do Alto Comando”.

“A declaração de tal intuito, se confirmado, é gravíssima e atenta contra a ordem constituci­onal. E ao Supremo Tribunal Federal compete a guarda da Constituiç­ão”, disse Fachin, em nota que fez referência a reportagem da Folha publicada no domingo (14), que mostrou que a postagem do então comandante do Exército tinha teor bastante mais incendiári­o do que o publicado.

Além disso, segundo o relato do general, que comandou o Exército de 2014 a 2019, ao menos três ministros do governo Bolsonaro e o atual chefe da Força souberam da nota.

O post de Villas Bôas acabou atenuado por ação do então ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e Luna, hoje diretor-geral de Itaipu.

“Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituiçõ­es e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?”, dizia postagem de Villas Bôas de 3 de abril de 2018.

“Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilh­ar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituiç­ão, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucio­nais”, afirmava.

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