Folha de S.Paulo

Congresso tem 15 propostas para derrubar decretos pró-armas

- Renato Machado e Ricardo Della Coletta

BRASÍLIA Deputados e senadores voltarão do Carnaval com ao menos 15 propostas para anular os decretos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para facilitar o acesso a armas e munições.

Bancadas e congressis­tas de PT, Cidadania, PSOL, PSB, PC do B, entre outros, preparam ou já protocolar­am PDLs (projetos de decretos legislativ­os) para sustar quatro decretos publicados na sexta (12).

As normas constam de edição extra do DOU (Diário Oficial da União), publicada às vésperas do Carnaval. Bolsonaro facilitou a aquisição de armas e aumentou de quatro para seis o limite de armas de fogo de uso permitido que um cidadão pode comprar.

Nos casos de determinad­as categorias, como policiais, magistrado­s, membros do Ministério Público e agentes prisionais, há ainda a autorizaçã­o para a compra de duas armas de uso restrito.

Em outra frente, Bolsonaro retirou uma série de itens do rol de produtos controlado­s pelo Comando do Exército, facilitand­o a aquisição de produtos como projéteis de munição para armas até ao calibre 12,7mm e acessórios como miras telescópic­as.

Os decretos do presidente contrariam até congressis­tas que são a favor da flexibiliz­ação do porte de armas.

“Sou favorável à flexibiliz­ação do porte e da posse de armas de fogo, mas não na forma descontrol­ada e irresponsá­vel proposta reiteradam­ente pelo governo”, afirma o senador Alessandro Vieira, líder da bancada do Cidadania.

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) e o deputado Daniel Coelho (Cidadania-PE) ingressara­m com PDLs contra a flexibiliz­ação das armas.

As bancadas do PT na Câmara e no Senado também vão protocolar medidas para anular o decreto de Bolsonaro. “É um decreto que prioriza a violência e a morte, negando a defesa da vida. E isso em um contexto de pandemia”, afirma o líder petista no Senado, Paulo Rocha (PA).

Rocha acrescenta que os decretos sinalizam o objetivo de armar milícias para eventualme­nte questionar resultados de processos democrátic­os e cita a invasão da sede do Congresso dos EUA por apoiadores de Donald Trump.

O líder da minoria, o também petista Jean Paul Prates (RN), afirma que as medidas têm um caráter “diversioni­sta” para tirar o foco do fracasso do governo no processo de vacinação da população contra o novo coronavíru­s.

Alguns parlamenta­res consideram que as iniciativa­s para barrar as medidas pró-armas podem não avançar, pois Bolsonaro tem aliados no comando das Casas.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já afirmou que os decretos presidenci­ais não invadem a competênci­a do Congresso.

“Quando nós conseguimo­s barrar os decretos há dois anos, nós tínhamos um presidente da Câmara mais independen­te e um no Senado que estava começando. Agora a situação não é tão favorável”, afirma o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Rodrigues foi o autor do PDL, em junho de 2019, que barrou o decreto anterior de Bolsonaro flexibiliz­ando o porte de armas. Ele apresentou um novo PDL agora e recorreu ao Judiciário. “Nossa esperança maior está na ação no Supremo”, diz o senador.

Por outro lado, houve dissidênci­as no centrão —bloco de sustentaçã­o do governo. O primeiro vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), criticou as decisões.

“Mais grave que o conteúdo dos decretos relacionad­os a armas editados pelo presidente é o fato de ele exacerbar do seu poder regulament­ar e adentrar numa competênci­a que é exclusiva do Poder Legislativ­o”, escreveu em rede social no domingo (14).

O líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (MS), defende mais debate: “É preciso encontrar um meio-termo. Não permitir armas nos deixa vulnerávei­s perante os bandidos, mas o excesso de armas pode empoderar muitas pessoas que não necessitar­iam”, diz.

Uma das poucas manifestaç­ões públicas de apoio dentro do Congresso partiu de um exaliado do bolsonaris­mo.

O senador Major Olímpio (PSL-SP) escreveu, em rede so

 ?? Dieter Gross-15. fev.21/Ishoot/ Agência O Globo ?? Com Carnaval cancelado por causa da escalada dos números de casos e mortes por Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viajou com a família para a praia de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, no sábado (13), e gerou aglomeraçã­o ao passear de jetski na segunda-feira (15) AGLOMERAÇíO OFICIAL
Dieter Gross-15. fev.21/Ishoot/ Agência O Globo Com Carnaval cancelado por causa da escalada dos números de casos e mortes por Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) viajou com a família para a praia de São Francisco do Sul, em Santa Catarina, no sábado (13), e gerou aglomeraçã­o ao passear de jetski na segunda-feira (15) AGLOMERAÇíO OFICIAL

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