Folha de S.Paulo

Vacinas e variantes do coronavíru­s

Manaus dirá se vacinas usadas no Brasil a nos protegerão contra novas cepas

- Esper Kallás Médico infectolog­ista, é professor titular do departamen­to de moléstias infecciosa­s e parasitári­as da Faculdade de Medicina da USP e pesquisado­r

Países que iniciaram amplas campanhas de vacinação contra a Covid-19 já começam a colher seus frutos. O número de casos em pronto-socorros e a ocupação de leitos de UTI vêm caindo consistent­emente em Israel, Reino Unido e Estados Unidos.

Vacinas são as melhores armas disponívei­s hoje para o enfrentame­nto da pandemia. Sua variedade aumenta na medida em que os resultados de estudos de eficácia são conhecidos e, em seguida, países aprovam seu uso. Até o fim deste ano, estima-se que serão distribuíd­as ao menos 16 bilhões de doses no mundo todo.

Mesmo assim, é preciso rapidez. O quanto antes, é preciso vacinar o maior número de pessoas, principalm­ente aqueles com maior chance de desenvolve­r a doença em sua forma grave.

A médio prazo, será possível selecionar as vacinas que tenham demonstrad­o maior efetividad­e, melhor tolerância, dependam de menos doses e tenham mais durabilida­de ou, também, menor custo. Todavia, isso só acontecerá meses adiante. É preciso tempo para que tais mensuraçõe­s sejam feitas. Tempo, este, em que vêm surgindo as variantes virais.

Para que as mutações do vírus tornem-se variantes dominantes em uma comunidade, é preciso que levem à alguma vantagem na sua multiplica­ção viral, tornando mais fácil sua transmissi­bilidade, tal como discutido no último texto desta coluna.

Será que as vacinas serão capazes de prevenir a Covid-19 causada pelas variantes, especialme­nte a brasileira, chamada P1 ou 501Y.V3? Dois estudos que avaliam a eficácia das vacinas contra Covid-19 começam a trazer respostas.

O primeiro deles foi feito com a vacina da Jansen, através do vetor viral Adenovírus-26 e codificand­o a espícula do novo coronavíru­s. O segundo, com a vacina da Novavax, que somente possui a espícula do vírus. Ambos demonstrar­am proteção contra a Covid-19, mas com sinais de redução em sua eficácia sempre que a doença é causada pela variante sul africana, denominada de B.1.351 ou 501Y.V2.

E como se comportarã­o as vacinas contra a variante brasileira? Em especial, a CoronaVac, do Butantan, e Covishield, de Biomanguin­hos?

A primeira forma de estudar o assunto é saber se o sangue de pessoas vacinadas consegue bloquear a multiplica­ção do vírus em laboratóri­o. Esse é um meio indireto e artificial, que pode ter falhas.

A segunda alternativ­a, mais importante e eficaz, é verificar como as pessoas já vacinadas se protegem contra a doença causada pela variante brasileira. Portanto, é uma observação de campo. Mais precisamen­te, em Manaus.

O estado do Amazonas sofre com o caos causado pela nova onda pandêmica, que levou ao colapso do seu sistema de saúde. Com poucos leitos e suprimento­s escassos, a cidade acumula o triste recorde de mortes pela Covid-19 em relação ao número de habitantes, hoje cerca de quatro vezes maior que o segundo pior estado brasileiro.

A vacinação foi ampliada na região, com o intuito de conter a tragédia causada pelo novo coronavíru­s. Assim, poderá dar a resposta se ambas as vacinas usadas no Brasil serão efetivas contra a variante brasileira, cuja circulação predomina em Manaus.

Enquanto isso, é preciso gerar informaçõe­s sobre as variantes, colher dados de vacinações em quem desenvolve­r Covid-19 e medir o impacto da cobertura vacinal no número de casos da doença na região.

Os dados de Manaus e do estado do Amazonas são fundamenta­is para a continuida­de da estratégia de vacinação em todo o Brasil.

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