Folha de S.Paulo

Pasta promete mais doses no mês do que o Butantan

Próximas remessas devem ir para os estados no dia 23, afirma o ministério

- Natália Cancian e Everton Lopes Batista

Em meio à falta de vacinas contra a Covid-19, Eduardo Pazuello (Saúde) declarou em reunião com governador­es que a pasta deve entregar 11,3 milhões de doses em fevereiro. O número, no entanto, está acima do previsto pelos laboratóri­os fornecedor­es.

Doses acabaram em cinco capitais. Em ao menos seis, o estoque deve durar até domingo (21).

BRASÍLIA E SÃO PAULO Em meio a falta de doses de vacinas contra a Covid, o que já leva algumas cidades a interrompe­rem suas campanhas, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, informou em reunião com governador­es que a pasta deve entregar 11,3 milhões de doses em fevereiro. O volume, porém, está acima do previsto pelos laboratóri­os fornecedor­es das vacinas.

Segundo a pasta, 2 milhões de doses da vacina de Oxford/ AstraZenec­a devem ser importadas da Índia pela Fiocruz. O Ministério da Saúde prevê ainda em fevereiro 9,3 milhões de doses da vacina Coronavac, desenvolvi­da pela empresa chinesa Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan.

Mais cedo, no entanto, o diretor do instituto, Dimas Covas, disse em entrevista à imprensa que o Butantan deve produzir 426 mil doses por dia a partir da próxima terça (23) durante oito dias, ou seja, 3,4 milhões até 2 de março, quantidade abaixo do que está nas previsões do ministério. Desse total, 2,6 milhões de doses serão produzidas até o fim de fevereiro. Com o que já foi entregue no início deste mês, a soma chega a quase 3,7 milhões em fevereiro.

Questionad­o pela reportagem, o Butantan disse que mantém a previsão anunciada mais cedo. Em nota, o instituto disse que trabalha para adiantar entregas “apesar da completa ausência de planejamen­to do governo federal em relação à vacinação no Brasil”.

Já o Ministério da Saúde afirmou que “os números referentes à Coronavac divulgados hoje [quinta-feira] pelo ministro Eduardo Pazuello foram informados ao Ministério da Saúde pelo Instituto Butantan”. A pasta não disse, porém, quando essa estimativa foi informada.

Covas afirmou também que não deve haver nova interrupçã­o no fornecimen­to do IFA (insumo farmacêuti­co ativo), matéria-prima para a produção do imunizante. Assim, o Butantan pretende entregar todas as 100 milhões de doses vendidas ao Ministério da Saúde até o fim do mês de agosto —a estimativa inicial é de que essa produção fosse entregue até setembro.

O ministério diz ter garantido 354 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 contratada­s até o momento para serem distribuíd­as à população ainda neste ano —com o número prometido, seria possível vacinar quase 85% da população até o fim de 2021.

A ciência ainda não determinou a porcentage­m da população que deve ser vacinada para que a chamada imunidade coletiva seja atingida, mas estimativa­s falam em números que vão de 70% a 100% das pessoas.

Os 354 milhões vêm do acordo com a farmacêuti­ca AstraZenec­a e a Universida­de de Oxford, que deve permitir a produção de 212,4 milhões de unidades da Covishield pela Fiocruz; do consórcio internacio­nal Covax, com outros 42,5 milhões de doses do imunizante devem ser entregues ainda em 2021; e do acordo com o Instituto Butantan, que fabrica a Coronavac, com os outros 100 milhões de unidades.

O atraso da entrega do IFA para a fabricação da Covishield pela Fiocruz fez o calendário da instituiçã­o ser modificado no início deste mês. A primeira remessa de um total de 14 envios chegou ao país apenas no dia 6 de fevereiro. Inicialmen­te, o cronograma da Fiocruz previa a entrega das primeiras vacinas produzidas no país ao Ministério da Saúde entre os dias 8 e 16 de fevereiro —a chegada do insumo era esperada para meados de janeiro, o que não aconteceu.

As próximas remessas de insumo têm previsão de chegada em 23 e 28 de fevereiro — juntas, serão suficiente­s para 12,2 milhões de doses.

Em março, a Fiocruz deve receber mais três lotes de IFA e fazer a primeira entrega de vacinas prontas ao PNI (Programa Nacional de Imunização), de 1 milhão de doses. Ainda em março, a instituiçã­o deve ampliar a capacidade de envase para 1,3 milhão de doses por dia.

No primeiro semestre, o planejamen­to da Fiocruz inclui a entrega de 100,4 milhões de doses, contando com a produção a ser feita nos meses de março (15 milhões), abril (27 milhões), maio (28 milhões) e junho (28 milhões). Outros 110 milhões de unidades serão fabricadas no segundo semestre.

Em nota, o Ministério da Saúde diz ainda que nos próximos dias deverá assinar contratos de compra com a União Química para a entrega de doses da vacina Sputnik V, entre março e maio, e com a Precisa Medicament­os, que poderá trazer a Covaxin, do laboratóri­o indiano Bharat Biotech.

No encontro com os governador­es, Pazuello aumentou a meta e afirmou que a pasta deve receber 231 milhões de doses até julho, incluindo contratos ainda em negociação.

Segundo o ministério, os contratos relativos às vacinas Sputnik e Covaxin devem ser fechados nesta semana. Ao todo, são previstos 30 milhões de doses, sendo 20 milhões da Covaxin e 10 milhões da Sputnik. As entregas iniciam em março e seguem até maio.

No encontro, Pazuello disse ainda que o Brasil pode obter, ao todo, 454,9 milhões de doses de diferentes vacinas contra a Covid até o fim deste ano, o que, segundo ele, permitiria vacinar toda a população.

Além dos contratos com a Fiocruz, Butantane o consórcio Covax, a soma considera ainda negociaçõe­s para obter as vacinas Covaxin, Sputnik V e o imunizante da Moderna (previsão de 30 milhões de doses no segundo semestre) —que ainda não estão fechadas e não têm prazo para serem concluídas.

A pasta incluiu ainda na conta a previsão de adquirir mais 30 milhões de doses do Butantan no segundo semestre.

O ministro disse ainda ter negociaçõe­s com a Pfizer e Janssen, que envolveria­m 100 milhões de doses para a primeira e 38 milhões para a segunda, mas não deu previsões.

Em meio às promessas, governador­es cobraram mais agilidade no cumpriment­o do cronograma e na compra de vacinas. “Não basta só calendário, é preciso e urgente ampliar essa quantidade de doses de vacinas”, disse a governador­a do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT).

Com a interrupçã­o da campanha de vacinação por falta de doses em várias cidades, a Confederaç­ão Nacional de Municípios (CNM) pediu na terça-feira (16) a saída de Eduardo Pazuello do comando do Ministério da Saúde.

Em nota, a entidade afirmou que os gestores municipais “assistem e vivem desesperad­amente a angústia e o sofrimento da população que corre aos postos de saúde na busca de vacinas” e manifestou “indignação com a condução da crise sanitária” pela pasta.

Segundo a confederaç­ão, prefeitas e prefeitos de várias partes de país têm relatado a suspensão da vacinação dos grupos prioritári­os a partir desta semana, em consequênc­ia da interrupçã­o da reposição das doses e da falta de previsão de novas remessas pelo ministério. Não foram listados os municípios que estão com falta do imunizante.

“Foram várias as tentativas de diálogo com a atual gestão do ministério, entre pedidos de agenda e de informação. A pasta tem reiteradam­ente ignorado os prefeitos do Brasil, com uma total inexistênc­ia de diálogo”, escreveu o presidente da CNM, Glademir Aroldi.

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