Folha de S.Paulo

Reino Unido terá teste em que irá infectar jovens

- Ana Estela de Sousa Pinto

BRUXELAS O Reino Unido anunciou nesta quarta (17) a autorizaçã­o para colocar em marcha o primeiro ensaio do mundo a infectar intenciona­lmente com o Sars-CoV-2 voluntário­s saudáveis. Conhecido como estudo de desafio humano, esse tipo de experiment­o, por envolver risco de vida para os participan­tes, exigiu a aprovação do conselho de ética do HRA (Health Research Authority, que supervisio­na pesquisas de saúde no país).

O ensaio britânico vai começar em um mês, com 90 voluntário­s de 18 e 30 anos, que serão expostos a uma quantidade diminuta do patógeno em ambiente controlado. O objetivo é acelerar a pesquisa sobre vacinas, mas, na primeira etapa, a pesquisa visa determinar qual é a menor quantidade de Sars-Cov-2 necessária para infectar uma pessoa.

Essa informação é relevante para desenhar estudos posteriore­s envolvendo imunizante­s, disse Andrew Catchpole, diretor científico da hVivo, empresa privada especializ­ada nesse tipo de ensaio, que participar­á do estudo. Nessa fase os cientistas também verão como o sistema imunológic­o reage ao vírus e o que afeta a transmissã­o, diz o virologist­a Lawrence Young, da Universida­de de Warwick.

Os voluntário­s serão expostos à versão tradiciona­l do coronavíru­s, e não às variantes, porque já há estudos mostrando que o impacto do vírus original sobre jovens saudáveis é baixo.

O patógeno será “produzido” por equipe do hospital infantil Great Ormond Street, em colaboraçã­o com a hVivo e com virologist­as do Imperial College London, e o experiment­o será feito em instalaçõe­s especiais de pesquisa clínica do Royal Free Hospital em Londres.

Médicos e cientistas irão monitorar os voluntário­s 24 h por dia e, se eles desenvolve­rem sintomas, serão tratados com remdesivir, que já demonstrou eficácia ante o Sars-CoV-2.

Segundo o chefe de vacinas da Fundação Wellcome (que promove pesquisas em saúde), Charlie Weller, “consideran­do que as opções de tratamento atuais para Covid são limitadas”, é importante que os voluntário­s sejam recrutados nos grupos de menor risco e sejam monitorado­s de perto.

Testes do tipo já são usados para estudar infecções, tratamento­s e vacinas, usando desde o vírus do resfriado comum até o protozoári­o causador da malária. O primeiro experiment­o ocorreu em 1796, quando o pioneiro das vacinas Edward Jenner inoculou James Phipps, 8, com o vírus vivo da varíola bovina.

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