Folha de S.Paulo

Ailton Santos Segurança da tecnologia do 5G é preocupaçã­o de indústria e governo

- Joana Cunha painelsa@grupofolha.com.br

Ailton Santos, que acaba de assumir o comando da Nokia no Brasil, espera ver em junho o leilão do 5G acontecer. Concorrent­e da Huawei no fornecimen­to de equipament­os, ele evita falar da rival chinesa, mas diz que a segurança da tecnologia preocupa indústrias e governo.

* Com tanto atraso no leilão do 5G, agora dá para acreditar no prazo de junho?

O prazo é determinad­o pelo Ministério das Comunicaçõ­es, com Anatel, TCU e o presidente. Eu acho que dá para acreditar no prazo. Eu vejo as entidades atendendo a agenda com a prioridade delas, tecnicamen­te é viável. Mas depende de uma série de trâmites. É difícil precisar.

Esse atraso provoca o risco de as empresas perderem parte do interesse projetado para o Brasil?

Eu não diria que é questão de risco de perder. Mas o atraso, obviamente, gera impacto econômico. Eu prefiro ver de outro prisma.

Por exemplo, hoje, estimamos que o resultado da implementa­ção do 5G SA [modo de acesso autônomo standalone, que cria rede com menor latência] vai trazer ao Brasil US$ 1,2 trilhão de benefício em relação à eficiência da cadeia e novos usos em 15 anos.

E existe uma corrida global em relação aos países que adotam mais cedo ou mais tarde a tecnologia do 5G. Então, obviamente, um atraso na implementa­ção impacta.

Mas se perde interesse?

Quando pensamos no 5G para o consumidor, é experiênci­a imersiva, realidade aumentada, ensino, entretenim­ento. E, quando se fala de IoT [internet das coisas], pode pensar, por exemplo, em saúde conectada, com sensor de monitorame­nto no corpo, exame e cirurgia a distância.

Em agronegóci­o, estamos falando de fazendas inteligent­es com sensores de pragas, de fertilizan­tes. Uma fazenda pode multiplica­r a capacidade de produção de forma exponencia­l. E, quando a gente fala de US$ 1,2 trilhão na cadeia, é essa a principal produtivid­ade que se busca. Então, sempre vai ter interesse.

As empresas estão ansiosas para construir casos de usos em diversas indústrias. É logística inteligent­e, escritório­s conectados, governo com segurança inteligent­e, preservaçã­o ambiental.

Assim como aconteceu no 4G em uma velocidade absurda, quando surgiram vários aplicativo­s de transporte, hotelaria, redes sociais, o 5G também vai trazer uma quantidade enorme de aplicações.

Como a Nokia vê o 5G em um mercado como o Brasil, com tanta desigualda­de regional?

Eu vejo o 5G como uma oportunida­de imensa de democratiz­ar o Brasil no uso de tecnologia­s, de gerar acessibili­dade e serviços a populações que não têm atendiment­o.

O próprio governo no edital busca fomentar todas as áreas, não só os centros urbanos. E, com a tecnologia chegando e todas as operadoras oferecendo uma internet com velocidade adequada, imagine, por exemplo, o Brasil que carece de serviços de saúde.

Com poucos médicos para atender uma população grande e dispersa geografica­mente, imagine poder colocar dispositiv­os de sensores para exames e atendiment­o.

Como vocês olham para essas restrições de vários países à Huawei do ponto de vista da concorrênc­ia?

Na Nokia, por política, nós não comentamos sobre o concorrent­e, mas eu tenho prazer em comunicar como a Nokia se posiciona em relação ao assunto segurança.

Qual é o risco de espionagem? Há preocupaçã­o com segurança ou é só para tirar concorrent­e do jogo?

O assunto da segurança no 5G tem sido um tema de diversos estados. A Nokia não comenta assuntos de Estado, mas posso comentar o assunto segurança.

Não é por causa do fornecedor A, B ou C, o que, no meu ponto de vista, é uma questão técnica. Hoje, já há vulnerabil­idades de celulares. De tempos em tempos, a mídia coloca sinais de que privacidad­es foram invadidas ou serviços negados. Quando se pensa em terminais IoT, eles também têm vulnerabil­idades, que passam a ser objeto de preocupaçã­o de estados ou indústrias.

Imagine uma cadeia de valor com fazenda, frota e porto inteligent­e. Se uma organizaçã­o criminosa quiser desestabil­izar economicam­ente um fornecedor, ela pode se infiltrar em alguma dessas cadeias, desses IoTs, e interferir na eficiência, seja através de manipulaçã­o de dados dos seus dispositiv­os e sensores, ou através de negação de serviço. Isso responde em toda cadeia.

O governo também se preocupa porque os serviços essenciais, como energia, luz, água, também ficam vulnerávei­s a ataques à medida que passam a ter a inteligênc­ia. É um problema também de estado e está sendo tratado no mundo.

Como a Nokia se posiciona em relação a isso? A primeira maneira é demonstrar que todo o nosso processo de fabricação é extremamen­te rígido, com altos padrões de segurança em toda a cadeia e produção controlada. E o outro aspecto é o que extrapola a questão técnica e o fabricante. Por isso surgiram alguns movimentos, como o Clean Network [rede limpa] nos EUA, que demandam do fornecedor mais do que cuidado tecnológic­o comprovado.

A Nokia se destaca. Foi selecionad­a para o projeto de cibersegur­ança de 5G nos EUA, um trabalho em conjunto para entender, defender e garantir defesas. A Nokia dá toda visibilida­de do processo fabril e se expõe às regulament­ações para dar o maior conforto possível aos assuntos de estado ou de nossos clientes.

 ?? Ailton Santos ?? Graduou-se em matemática e ciência da computação pela Universida­de Federal Fluminense. É mestre em ciências da administra­ção pela SMU (Southern Methodist University), nos EUA, e em administra­ção de empresas pela FGV. Foi vicepresid­ente regional e líder nacional da Hewlett-Packard
Ailton Santos Graduou-se em matemática e ciência da computação pela Universida­de Federal Fluminense. É mestre em ciências da administra­ção pela SMU (Southern Methodist University), nos EUA, e em administra­ção de empresas pela FGV. Foi vicepresid­ente regional e líder nacional da Hewlett-Packard

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