‘Para uma ideia dar certo, é necessário aceitar que errar faz parte do processo’
Meu último estágio na faculdade de engenharia mecânica foi dentro do laboratório de prototipação e novos produtos no Senai Cimatec, em Salvador, em 2008.
Anos mais tarde, decidi empreender com um sócio, o Thiago Lopes. Percebemos que muitas pessoas trabalham o dia todo e não têm ninguém para receber encomendas em casa. E, nos prédios, muitas portarias têm se tornado remotas, sem um porteiro. Além disso, boa parte das residências não estão na área de entrega dos Correios —no Rio, chegam a 40%.
Como solução a esse problema, pensamos na instalação de lockers, armários para a retirada de encomendas.
Em 2018, fizemos os primeiros protótipos em MDF no Fab Lab de Heliópolis, em São Paulo. Montamos, fizemos a automação das caixas e a programação eletrônica. Depois, testamos em um condomínio. Foi um sucesso.
Funciona assim: o entregador deixa a mercadoria e coloca o número do apartamento. O morador é notificado e, então, apresenta um QR code e a porta se abre.
Hoje, o projeto já evoluiu. O modelo mais comercializado é de aço e fica na clausura dos condomínios.
Para 60 apartamentos, um modelo de dez portas é suficiente. O condomínio estabelece o prazo máximo de retirada —geralmente de um ou dois dias. Já temos mais de 50 módulos instalados e fizemos a guarda de mais de 33 mil caixas de encomenda.
Poder testar a nossa ideia num Fab Lab antes de ir para o mercado foi fundamental. Para dar certo, é preciso aceitar que errar faz parte do processo.
A cultura maker permite o erro até você chegar a uma ideia mais madura. É importante sempre tentar entender qual é o seu foco e o que você quer criar.
Infelizmente, o ambiente de tecnologia e logística ainda é muito masculino. Desde pequenas, não somos incentivadas. Não à toa, ganhamos brinquedos de casinha e os meninos, de cientista. A própria universidade é machista. Vi cenas de desencorajamento de meninas quando estudava. A taxa de desistência de mulheres em faculdades de engenharia é altíssima.