Folha de S.Paulo

Moraes suspende lei sobre uso de mercúrio em garimpo de RR

Ministro do STF considerou que a legislação representa riscos ao ambiente e afronta a competênci­a da União

- Paulo Saldaña

brasília Decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu uma lei estadual de Roraima, sancionada neste ano, que autorizava o uso do mercúrio no garimpo. Moraes considerou que a legislação representa riscos à proteção ambiental e afronta a competênci­a da União para estabelece­r normas gerais sobre o tema.

A lei estadual 1.453/2021 fora proposta no fim do ano passado pelo governador Antônio Denarium (Sem partido). Sancionada em fevereiro, o texto facilitou a liberação do garimpo no estado e ainda liberou o uso do mercúrio, substância utilizada na extração de ouro e danosa para o meio ambiente e para a saúde.

A decisão cautelar, que ainda será submetida ao plenário da Corte, atende Ação Direta de Constituci­onalidade ajuizada pelo partido Rede Sustentabi­lidade.

A ação argumentou que, além de autorizar o uso do mercúrio, a legislação autoriza a dispensa de Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental. Isso contraria, segundo a ação, as normas federais que admitem o licenciame­nto simplifica­do apenas para atividades de baixo impacto.

“A expedição de licenças ambientais específica­s para as fases de planejamen­to, instalação e operaciona­lização de empreendim­entos potencialm­ente poluidores não é arbitrária ou juridicame­nte indiferent­e: representa uma cautela necessária para a efetividad­e do controle exercido pelo órgão ambiental competente”, diz a decisão.

“O meio ambiente deve, portanto, ser considerad­o patrimônio comum de toda a humanidade para garantia de sua integral proteção, especialme­nte em relação às gerações futuras, direcionan­do todas as condutas do Poder Público estatal no sentido de integral proteção legislativ­a”, concluiu.

A lei aprovada em Roraima já havia provocado reação de entidades, como o Conselho

Indígena de Roraima. A entidade afirmou que a lei pode estimular crimes também em terras protegidas.

A Folha mostrou no início de fevereiro que a explosão do garimpo ilegal na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS) encheu de rejeitos cachoeiras próximas de Uiramutã, sede do 6º Pelotão de Fronteira do Exército. A região é um dos principais pontos turísticos de Roraima.

Em 2019, a TIRSS sofreu as primeiras invasões de garimpeiro­s desde que a demarcação havia sido homologada, 11 anos antes. Para lideranças indígenas, eles são estimulado­s pelas promessas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para legalizar a atividade. A proposta tramita no Congresso e é considerad­a prioritári­a pelo Planalto.

Em Roraima, a invasão garimpeira contou com o apoio do senador licenciado Chico Rodrigues (DEM), flagrado pela Polícia Federal em outubro com dinheiro em sua cueca. À época do escândalo, era vice-líder do governo Bolsonaro no Congresso.

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