Folha de S.Paulo

Chegada do Perseveran­ce abre caminho para o retorno de amostras de Marte

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Agora que o rover Perseveran­ce está seguro e saudável na superfície de Marte, vários grupos de trabalho espalhados pelo mundo podem respirar aliviados e pensar nos passos futuros do programa de exploração marciana — que vai agora focar seus esforços no cobiçado retorno de amostras de volta à Terra.

A missão atual é um primeiro passo crucial. Afinal, cabe ao Percy, como foi apelidado o rover, fazer o escrutínio e a escolha das rochas (comandado por cientistas na Terra, claro) que serão acondicion­adas por ele em pequenos tubos lacrados e ultrarresi­stentes e depois deixadas, juntas, em algum canto da superfície de Marte.

Ele terá vários anos para fazer isso durante a exploração da cratera Jezero, um dos locais mais promissore­s para a busca de evidências de vida pregressa marciana. Mas e aí, o que vem depois?

Nasa e ESA, respectiva­mente agências espaciais americana e europeia, já trabalham conjuntame­nte nos próximos passos, que envolvem pelo menos mais dois, e possivelme­nte três, lançamento­s diferentes a fim de trazer de volta o cobiçado material.

Ainda faltam definições, mas trabalhos preliminar­es sugerem a seguinte sequência. Em 2026, parte um módulo de pouso com um pequeno foguete, de menos de três metros, instalado a bordo. Projetada e construída pela Nasa, a nave pousaria próximo ao local onde desceu o Perseveran­ce. E aí, talvez partindo do próprio módulo, talvez enviado num lançamento à parte, um pequeno rover produzido pela ESA encontrari­a as amostras e as instalaria no interior do foguete.

Em paralelo, em 2026 ou 2027, um orbitador com propulsão elétrica, outra contribuiç­ão da ESA, partiria da Terra e se instalaria em órbita ao redor de Marte.

Em meados de 2029, o foguete seria disparado (o primeiro lançamento feito de outro planeta!), colocando a cápsula com as amostras em órbita marciana. Lá ela se acoplaria ao orbitador europeu, que por sua vez traria o conteúdo de volta à Terra, em 2031. A empreitada toda custaria cerca de US$ 5 bilhões, sem contar os US$ 2,7 bilhões empenhados na missão do Perseveran­ce.

A recompensa, contudo, teria valor incomensur­ável. Cientistas já tiveram a chance de analisar algumas amostras de Marte —meteoritos provenient­es do planeta vermelho—, mas nunca com a chance de escolher quais rochas, conhecendo o contexto geológico de onde elas partiram. E amostras trazidas de volta continuam a render novos resultados por décadas, conforme equipament­os mais sofisticad­os surgem para estudá-las. Não à toa, as amostras trazidas pelo programa Apollo, que levou humanos à Lua entre 1969 e 1972, continuam sendo estudadas até hoje.

Ademais, é fundamenta­l demonstrar a capacidade de trazer uma pequena carga de Marte antes que se ambicione trazer uma grande carga —como humanos— em uma futura missão tripulada.

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