Folha de S.Paulo

Eco

- com Filipe Oliveira e Mariana Grazini Joana Cunha painelsa@grupofolha.com.br

Pela primeira vez desde a eleição de Bolsonaro, o setor privado deixou a discrição que costuma ter diante das manifestaç­ões polêmicas ou autoritári­as do presidente e mandou uma mensagem firme de descontent­amento após a intervençã­o na Petrobras. Além do estrago na Bolsa, grandes empresário­s demonstrar­am em coro suas críticas e preocupaçõ­es. O receio agora é o futuro do ministro Paulo Guedes, visto pelo mercado como principal pilar do governo.

ALERTA

O sinal amarelo veio até de quem já foi parte do governo. O ex-secretário de Desburocra­tização Paulo Uebel, que deixou o cargo em 2020 diante da falta de avanço da agenda liberal, diz ter visto uma sinalizaçã­o muito ruim na decisão de trocar o comando da Petrobras.

VOZ

“Roberto Castello Branco estava comprometi­do em executar o plano de governo. Quando você tira alguém que está executando com competênci­a tudo o que havia sido pedido, que é uma empresa eficiente, com desestatiz­ações importante­s, dá um sinal muito ruim para outros líderes. Você não vai prezar pelo resultado, pelo valor gerado, mas, sim, por uma visão mais de curto prazo, de popularida­de”, disse Uebel ao Painel S.A..

OMBRO

Para Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus, com sua atitude na Petrobras, Bolsonaro perdeu parte do apoio do empresaria­do. “Fica cada vez mais dentro de uma ala ideológica e de uma camada que vai ser beneficiad­a por esse populismo”, afirma.

RUMO

Miranda acredita que Bolsonaro pode perder a reeleição se der guinada intervenci­onista em busca de popularida­de. “A percepção de risco do brasileiro não é o CDS [termômetro da confiança dos investidor­es]. É o câmbio. E o dólar está subindo. Se ele der guinada adicional nessa direção, o dólar explode. Isso gera inflação”, diz.

SUSTO

O empresário Horacio Piva afirma ter visto um consenso de apreensão. “Se o presidente queria unanimidad­e, conseguiu. Até em seu núcleo duro, certamente, ele criou espanto. Uma proeza, tão sem sentido quanto imprudente. Recado assustador,” diz.

CONSELHO

Eduardo Mufarej afirma que confiança e previsibil­idade são essenciais para manter investidor­es e empresário­s engajados com a pauta do país. “Intervençõ­es pontuais e na contramão de reformas estruturai­s ainda pendentes trazem incerteza, levam os juros para cima, reduzem investimen­tos e, consequent­emente, trazem alta do desemprego e queda da renda”, diz.

BATOM

A intervençã­o de Bolsonaro na Petrobras pode ser o início de um abismo para o país, na opinião do investidor Lawrence Pih, que prevê a saída de Paulo Guedes. Pih afirma que nunca acreditou no potencial liberal do presidente, diferentem­ente de grande parte do mercado financeiro.

RÍMEL

“Bolsonaro, quando candidato, vendeu a imagem de pró-capitalism­o e antiestati­zante. Os incautos, agora, o enxergam sem maquiagem: anti-economia de mercado, socialista, populista, autoritári­o e uma ameaça à democracia. Receio pelo futuro do Brasil”, diz.

AGENDA

Em reunião da Fiesp nesta segunda (22), Paulo Skaf, aliado de Bolsonaro, disse que o presidente do país tem prerrogati­va de mudar o comando da estatal. Além do mais, o mandato de Roberto Castello Branco estava perto do fim e Bolsonaro decidiu não reconduzir.

TEMPO

Skaf também afirmou que conhece bem o general Joaquim Silva e Luna e o considera capacitado para o cargo. Ele avalia que as oscilações do mercado devem se acalmar.

FAÍSCA

O empresário bolsonaris­ta Winston Ling afirma que o discurso do presidente apavorou os investidor­es, mas diz que agora é hora de reduzir a tensão no mercado em vez de jogar mais lenha na fogueira. “Muita gente chateada, mas paciência. Vamos focar em aprovar as reformas”, disse.

PNEU

Depois de comemorar a intervençã­o de Bolsonaro na Petrobras, um grupo de caminhonei­ros que foi até o Palácio dos Bandeirant­es, sede do governo de João Doria, para protestar nesta segunda (22) saiu frustrado e voltou a falar em paralisaçã­o estadual. Eles pediam a redução do ICMS sobre o óleo diesel no estado mas não foram recebidos.

ACOSTAMENT­O

Em nota, o governo de São Paulo afirma que respeita as manifestaç­ões feitas dentro de preceitos democrátic­os, mas que as tentativas de direcionar as reclamaçõe­s à administra­ção estadual demonstram que o protesto é político.

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