Folha de S.Paulo

Superiorid­ade técnica do time carioca é marca da conquista

Equipe termina sorrindo temporada que teve duras derrotas e três treinadore­s

- Marcos Guedes

Campeão brasileiro e sul-americano, o Flamengo terminou 2019 disputando uma prorrogaçã­o pelo título mundial. Criou-se uma expectativ­a alta para a temporada seguinte, que transcorre­u de maneira bem diferente da planejada. Mas acabou em festa.

Mesmo com a derrota contra o São Paulo no Morumbi, o clube rubro-negro conquistou o Campeonato Brasileiro pela oitava vez (1980, 1982, 1983, 1987, 1992, 2009, 2019 e 2020), beneficiad­o pelo empate do Inter contra o Corinthian­s. Na base da vantagem técnica sobre os concorrent­es, superou os problemas de um ano atípico para ao menos triunfar em território nacional.

Já a parte internacio­nal do plano não teve o sucesso que se buscava. Ainda que o time tenha levado a Recopa SulAmerica­na, a sequência foi quebrada inicialmen­te pela pandemia de Covid-19, que paralisou as competiçõe­s, e depois pelo adeus de Jorge Jesus.

Aclamado pelas vitórias de 2019, o treinador português resolveu ir embora em julho, depois de levantar também os troféus da Supercopa do Brasil e do Estadual. A aposta em outro estrangeir­o não deu certo, e a diretoria demitiu o catalão Domènec Torrent em novembro.

Chegou, então, Rogério Ceni, que teve um começo terrível: em três semanas, colecionou eliminaçõe­s na Copa do Brasil e na Libertador­es. Em seguida, ampliou a desconfian­ça de torcedores com resultados como derrotas no Maracanã para Fluminense e Ceará.

Àquela altura, o flamenguis­ta já havia sofrido com um 3 a 0 do Atlético-GO, um 4 a 1 do São Paulo e um 4 a 0 do Atlético-MG no Brasileiro. A conquista parecia distante, porém a equipe da Gávea engrenou de maneira suficiente para ganhar o Nacional pela segunda temporada consecutiv­a.

Sob comando de Ceni, se ficou longe do futebol que o deixara perto do título mundial na temporada anterior, o Flamengo conseguiu impor sua ampla superiorid­ade técnica. Para isso, contou com o elenco que, além de o mais caro, é reconhecid­o como o melhor do país.

A base do time que perdeu para o Liverpool foi mantida. Dos titulares, saíram apenas o beque Pablo Marí e o lateral direito Rafinha. Chegaram o lateral direito Isla, os zagueiros Léo Pereira e Gustavo Henrique, o volante Thiago Maia e os atacantes Pedro Rocha, Michael e Pedro.

Com tantas opções, falavase de uma hegemonia continenta­l, algo que não se concretizo­u. O que de repente se tornou possível, com a derrocada do líder São Paulo, foi brigar de novo pelo título brasileiro, apesar de todos os problemas, e a chance foi aproveitad­a com uma ótima sequência de resultados.

De 28 de janeiro a 21 de fevereiro, foram cinco vitórias e um empate. O último triunfo antes da rodada final foi sobre a equipe que havia assumido a ponta, o Internacio­nal. Assim, o Flamengo chegou para o confronto derradeiro na primeira colocação.

No duelo que se provou decisivo, diante do clube gaúcho, o campeão saiu atrás e conseguiu a virada no talento dos homens de frente. Depois de concluir ótima jogada de Bruno Henrique, Arrascaeta deixou Gabriel na cara do gol para definir o 2 a 1. Foi o sexto gol do artilheiro em seis partidas consecutiv­as.

“Eu não sei de nenhum time que vence pela qualidade individual. Um time defende como um todo, ataca como um todo. O coletivo sempre prevalece sobre o individual”, afirmou Ceni, irritado com a porcentage­m do crédito que lhe fora concedida pela arrancada.

Chamando para si uma parcela maior do sucesso rubronegro, o ainda jovem técnico de 48 anos lembrou que o time era outro no momento de sua chegada. De fato, na reta final, ele promoveu alterações na escalação, adotando uma formação bastante ofensiva.

O volante Willian Arão virou zagueiro. Diego e Gerson, meias de origem, passaram a formar a dupla de volantes. Nesse sistema, os atacantes foram bem municiados e usaram sua capacidade para buscar os resultados necessário­s para o título brasileiro.

Não era exatamente o cenário ideal traçado no início de uma longa temporada. Derrubado pelo Racing na Libertador­es, o Flamengo teve de ver o Palmeiras conquistar a taça sul-americana no Maracanã, palco previament­e estabeleci­do da decisão de jogo único.

Poderia ter sido a agremiação carioca, à qual não falta talento. Mas ficou para o Morumbi, tão bem conhecido pelo atual comandante, a grande festa rubro-negra.

Não tão grande quanto a imaginada em janeiro de 2020. Mas, ainda assim, uma nada desprezíve­l celebração de um octacampeã­o.

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Mauro Horita/Fhor Press/Agencia O Globo Técnico Rogério Ceni durante partida do Flamengo contra o São Paulo, no Morumbi
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