Folha de S.Paulo

O ‘clube dos cafajestes’

- Cristina Serra

brasília Um ano depois do primeiro caso de Covid no Brasil, vivemos o momento mais grave da pandemia. Um ano inteiro de sacrifício­s, dor e morte não serviram para nada. Caso único no mundo. Estaca zero. Andamos em círculos. Falta vacina. Falta leito. Falta ar. E vai piorar.

Mas nada disso tira o sono do dinheiro grosso no Brasil, que só chiou com a intervençã­o militar na Petrobras. Para compensar a corda esticada, Bolsonaro oferece a Eletrobras e os Correios na bacia das almas.

No campeonato de canalhice da República, é difícil superar Paulo Guedes e a pressão pela aprovação da PEC emergencia­l, tentativa de assalto aos direitos sociais inscritos na Constituiç­ão.

A lógica da negociação é perversa: o governo só voltaria a pagar o auxílio emergencia­l em troca do fim dos gastos públicos obrigatóri­os com saúde e educação. A chantagem faz todo sentido para essa gente oculta sob a alcunha de “mercado”: onde já se viu pobre receber auxílio e ainda ter saúde e educação gratuitas ?

O investimen­to obrigatóri­o em educação só foi eliminado no auge de duas ditaduras, a do Estado Novo e no regime militar de 1964. Os gastos foram sacramenta­dos na Constituiç­ão de 1988 e, ao que parece, serão mantidos em virtude das reações à PEC. Mas os cães hidrófobos a serviço do extremismo liberal não irão descansar.

A Câmara deu mais uma contribuiç­ão ao festival de tapas na cara da sociedade ao articular a tal PEC da impunidade, digo, da imunidade de suas excelência­s. Confundem exercício do mandato e liberdade de expressão com licença para cometer crimes. O Judiciário não poderia ficar de fora desse “e daí ?” geral, com o benevolent­e acolhiment­o dispensado ao senador e primeiro-filho.

Nos anos 1950, um grupo de ricaços boêmios do Rio de Janeiro ficou conhecido como o “Clube dos Cafajestes”. A crônica carioca de então registra que eles aprontavam em festas de arromba com muita bebida e mulheres. Cafajestes??? Que injustiça com os playboys de outrora.

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