Folha de S.Paulo

Relator de PEC desiste de acabar com piso para saúde e educação

- Thiago Resende e Renato Machado

BRASÍLIA A nova versão da PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) Emergencia­l deverá retirar o dispositiv­o que acabaria com o gasto mínimo para saúde e educação, medida que levou a uma derrota do governo nesta quinta-feira (25) no Senado.

O relator da PEC, senador Márcio Bittar (MDB-AC), admitiu que o projeto não será aprovado caso o fim do piso de gastos nessa área seja mantido e, por isso, fará o ajuste no texto, a ser apresentad­o na próxima semana.

Contrários à ideia de desvincula­r os gastos de saúde e educação, senadores da oposição, independen­tes e da base do governo nem sequer deixaram que o relatório da PEC fosse lido em plenário na quinta.

Diante da elevada resistênci­a à ideia, governo e Bittar aceitaram a derrota. A estratégia agora é evitar que o clima ruim contamine o restante do projeto.

A PEC Emergencia­l prevê o acionament­o de medidas em caso de crise nas contas públicas. O governo considera fundamenta­l a sua aprovação antes de encaminhar ao Congresso a proposta para uma nova rodada de auxílio emergencia­l, que também depende da aprovação da PEC.

A desistênci­a em relação ao fim do piso de investimen­to em saúde e educação tem o objetivo de preservar os demais dispositiv­os de controle de despesas.

Apesar do recuo, líderes aliados ao Palácio do Planalto dizem que essa proposta deverá voltar à discussão no Congresso até o próximo ano. O governo defende a medida e argumenta que o fim do piso deixaria o Orçamento mais livre e caberia aos gestores decidirem onde aplicar os recursos. Prefeitos e governador­es, porém, são contra.

Convencido da derrota, Bittar entende que a PEC a ser aprovada não depende das vontades dele, mas sim da maioria. Por isso, disse que “os ajustes necessário­s serão feitos”.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, por sua vez, aposta na aprovação da PEC Emergencia­l para destravar a pauta liberal apresentad­a ao Congresso e, a aliados, indicou que esse projeto pode definir a permanênci­a ou não do ministro no governo. A proposta, no entanto, vem sendo desidratad­a pelo Congresso.

Inicialmen­te, a equipe econômica queria autorizaçã­o para cortar temporaria­mente a jornada e os salários de servidores públicos, o que provoca uma redução imediata nos gastos. Guedes já cedeu nesse ponto, e a versão mais atual do relatório de Bittar não prevê esse dispositiv­o.

O texto atualmente debatido no Senado prevê medidas como barreiras à criação de novas despesas obrigatóri­as, a reajustes a servidores e a concursos públicos.

O governo não quer deixar que o Senado aprove simplesmen­te uma nova rodada do auxílio emergencia­l, sem prever ajustes nas contas para o futuro.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse a aliados que não pretende votar a proposta para criar o novo auxílio emergencia­l sem que o texto inclua medidas de ajuste nas contas públicas.

Proposta livra União de bancar R$ 100 bi em precatório­s

brasília Com aval do Ministério da Economia, foi apresentad­a uma proposta ao Senado que desobriga o governo a ajudar, por meio de um programa de financiame­nto, estados e municípios a pagar precatório­s (dívidas judiciais a empresas e pessoas físicas).

Representa­ntes de prefeitura­s e governos estaduais tentam derrubar essa medida no Congresso, pois argumentam que, sem o apoio financeiro da União, não conseguirã­o quitar esses débitos —que somam mais de R$ 100 bilhões— até 2024, prazo determinad­o na Constituiç­ão.

A estratégia do governo inclui encerrar uma disputa no

Supremo que discute se houve ou não omissão da União ao deixar de criar a linha de financiame­nto prevista desde o fim de 2016.

Foi incluído na PEC Emergencia­l um dispositiv­o para acabar com a determinaç­ão de uma linha de crédito para estados e municípios.

“Os municípios devem cerca de R$ 40 bilhões em precatório­s. Não vamos conseguir cumprir esse prazo de 2024 sem o suporte financeiro”, afirmou o presidente da CNM (Confederaç­ão Nacional dos Municípios), Glademir Aroldi.

Rafael Fonteles, presidente do Comsefaz (Comitê Nacional dos Secretário­s de Fazenda) e secretário de Fazenda do Piauí, afirmou também que, “sem o crédito, os estados não têm como bancar os precatório­s”.

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