Folha de S.Paulo

UTIs em 10 capitais têm mais de 90% de ocupação

Em Porto Alegre e Porto Velho, não há leito livre para casos graves da Covid-19

- Katna Baran, Monica Prestes, Fernanda Canofre, Diego Garcia, Júlia Barbon, Ana Luiza Albuquerqu­e, Marcel Rizzo, Marcelo Toledo, Patrícia Pasquini e Raquel Lopes

Em um mês, aumentou a ocupação das UTIs para casos graves da Covid-19 no país. No começo de fevereiro havia oito capitais com mais de 80% de ocupação, e hoje dez delas estão com 90% ou mais das suas UTIs com pacientes. Com hospitais superlotad­os, Santa Catarina deve fazer transferên­cia de pessoas para o Espírito Santo pela primeira vez.

Em um mês, aumentou a ocupação das UTIs para casos graves da Covid-19 no país. Se no começo de fevereiro havia oito capitais com mais de 80% de ocupação, hoje dez delas estão com 90% ou mais das suas UTIs com pacientes.

Após receberem pacientes de outros estados, como Amazonas e Rondônia, em janeiro e fevereiro, os três estados do Sul enfrentam agora escassez de vagas em UTI para Covid.

A situação mais crítica é a do Rio Grande do Sul, que nesta terça-feira (2) estava com mais de 100% dos leitos ocupados. Pacientes estão sendo atendidos em UTIs improvisad­as que foram instaladas nos hospitais. Só em Porto Alegre, há 24 pessoas nessa situação.

“A situação é realmente dramática nesses últimos dias, e o grau de contaminaç­ão assusta porque, há 15 dias, a situação estava praticamen­te sob controle, tanto que o governador trouxe pacientes de Manaus”, disse Antonio Kalil, diretor da Santa Casa de Porto Alegre.

A secretaria estadual de Saúde afirma que ainda não há previsão de transferên­cia de pacientes para outros locais.

“Leito de UTI não é cura, 60% das pessoas que vão para UTIs morrem. Mesmo que tivéssemos capacidade infinita de expansão dos leitos, e não temos, não significar­ia salvar todas as vidas. Não adianta só aumentar as UTIs, precisamos reduzir o contágio”, afirmou o governador Eduardo Leite (PSDB) em vídeo nas redes sociais nesta segunda-feira (1º).

Já Santa Catarina deve encaminhar ao Espírito Santo até 16 internados com Covid. Osistema estadual de saúde entrou em colapso, em especial na região oeste, onde não há leitos vagos. A taxa de ocupação de UTIs saltou de 73% para 94% em um mês, mesmo com a ampliação de leitos pelo governo catarinens­e. Em Florianópo­lis, só há oito vagas nos oito hospitais que atendem a pacientes com Covid-19.

Em pouco mais de uma semana, ao menos 16 pessoas morreram no estado à espera de vagas em leitos especializ­ados para tratamento da doença. A fila de espera era de 228 pacientes nesta segunda.

O Hospital Regional São Paulo, de Xanxerê, no oeste, não consegue mais atender a pacientes que necessitem de ventilação mecânica ou suporte de oxigênio. A emergência está com 35 pessoas internadas, 20 delas intubadas, aguardando a ida para leitos de UTI.

“Não iremos viver uma catástrofe, já estamos nela. [...] Estamos com pacientes graves, acomodados em poltronas ou em espaços improvisad­os, pois já se esgotou toda a estrutura física para atendiment­o”, diz comunicado emitido pela unidade nesta terça.

O hospital afirma ainda que vive situação “de guerra”, sem condições de contabiliz­ar a quantidade de pacientes atendidos pelas equipes, e que um colapso está em curso. Ainda segundo a instituiçã­o, mesmo com os equipament­os recebidos recentemen­te, os funcionári­os estão esgotados e há falta de insumos e materiais.

“Estamos em um momento tão crítico que será melhor para o paciente ficar aguardando atendiment­o dentro de uma ambulância do que dentro dos espaços da unidade hospitalar. [...] É o caos. É o limite. [...] Vamos começar a perder vidas de muitos pacientes”, finaliza o comunicado.

Nesta terça, o governador Carlos Moisés (PSL) anunciou 20 novas vagas de UTI no Hospital Regional do Oeste, além dos 26 já pactuados na semana anterior. Foram confirmado­s ainda novos leitos clínicos para a unidade, chegando ao total de 50. Moisés afirmou que publicará edital para cotação de diárias de leitos de UTI na rede privada.

No Paraná, mesmo com o acréscimo de 142 leitos no último mês, a taxa de ocupação saltou de 80% para 91%. Em Curitiba, só 5% das UTIs estão disponívei­s, ou seja, 19 vagas. Há filas de espera por leitos em todas as regiões do estado. Nesta terça, 265 pessoas aguardavam por vagas em UTIs e 434 por leitos clínicos.

Em Porto Velho, não há leito. Há um mês a ocupação é de 100%. No domingo, 56 pessoas aguardavam vagas em UTIs para Covid em Rondônia.

Nem o incremento de 33 leitos nos últimos 30 dias aliviou a pressão. O governo tem contratado leitos em unidades privadas, mas também não há mais vagas. “Recado para você que está fazendo aglomeraçã­o, festinha, bebedeira: não temos leito de UTI pra sua mãe, para o seu pai, para o seu filho, sua namorada. Não temos leito de UTI para você. Essas cepas novas são mais contagiosa­s e pessoas mais jovens estão morrendo”, disse o secretário de Saúde de RO, Fernando Máximo, nas redes sociais.

Em Rio Branco, mesmo com mais 25 leitos em um mês, a situação é crítica: 92,5% das UTIs para Covid estão ocupadas. No estado, o índice é de 91,5%.

Na segunda, o governo proibiu o funcioname­nto do comércio, incluindo restaurant­es e bares, aos finais de semana e feriados. No mesmo dia, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), recebeu diagnóstic­o positivo para Covid-19.

No Nordeste, é crítica a situação em Teresina, com 95% das UTIs lotadas. O governador Wellington Dias (PT) foi a Brasília visitar a farmacêuti­ca que pretende produzir a vacina russa Sputinik V.

Em Natal, a ocupação já é de 92,8%. No fim de semana, entrou em vigor o decreto estadual com toque de recolher entre as 22h e as 5h, proibindo pessoas nas ruas. O RN fez remoções de pacientes da região metropolit­ana para leitos no interior, mas o secretário diz que a capacidade foi esgotada.

Em Pernambuco, cuja capital têm 92% de leitos ocupados, o governo tem transforma­do alas de UTI clínicas de hospitais em alas para Covid.

No Centro-Oeste, Goiânia teve aumento na ocupação de UTI, hoje em 92%. O estado deve abrir nas próximas semanas um hospital, com 200 leitos. No DF, a taxa de ocupação é de 93%. Dos disponibil­izados, só 27 estão vagos. Além disso, sete estão bloqueados.

O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), decretou medidas restritiva­s na sexta (26). Até 15 de março, as atividades comerciais estão suspensas, exceto serviços essenciais.

Outras 11 capitais preocupam, com taxas de ocupação entre 80% e 90%. São os casos de Rio de Janeiro, Manaus, Campo Grande, Palmas, Fortaleza, João Pessoa, Belém, Cuiabá, Belo Horizonte, Salvador e Boa Vista. No Rio, a capital atingiu taxa de 89% nesta segunda, mesmo com as promessas do prefeito Eduardo Paes (DEM) de reabrir leitos.

Ainda assim, o Rio não restringiu horários de atividades não essenciais. O último decreto do governador em exercício, Cláudio Castro (PSC), permite shows, festivais, casamentos e outras festas.

Em SP, dos cerca de 9.200 leitos, 73,2% estavam ocupados até 1º de março. O índice é 5,2% superior em relação à mesma data de fevereiro, quando registrou 68% de ocupação.

Na capital paulista, 1.748 pacientes estavam internados em UTIs, com taxa de ocupação também em 68%.

Wallace Casaca, coordenado­r da plataforma SP Covid-19 Info Tracker, criada por pesquisado­res da USP e da Unesp com apoio da Fapesp, considera que a situação é crítica e caminha para uma tragédia.

“O cresciment­o da curva de internaçõe­s está em ritmo acelerado. Em questão de 11 dias o sistema de saúde paulista pode colapsar. Pode não haver leitos e pessoal especializ­ado na linha de frente do combate à Covid-19”, diz Casaca.

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Eduardo Valente/iShoot/Agência O Globo UTI do Hospital Florianópo­lis, referência para casos de Covid na capital catarinens­e, teve todos os leitos ocupados na segunda (1º)

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