Folha de S.Paulo

Clientes de banco devem pagar apoio a caminhonei­ro

Principais instituiçõ­es já avaliam repassar alta de tributo determinad­a pelo presidente para compensar desoneraçã­o no diesel e no gás

- Julio Wiziack

Os principais bancos já avaliam repassar boa parte do aumento da CSLL para os clientes, o que deve encarecer o crédito. A elevação da contribuiç­ão foi adotada por Jair Bolsonaro para compensar o corte de tributos sobre diesel e gás de cozinha.

Os principais bancos comerciais do país já avaliam repassar boa parte do aumento da CSLL (Contribuiç­ão Social sobre o Lucro Líquido) para os clientes, o que deverá encarecer o crédito e até restringir a oferta de dinheiro novo.

A elevação do tributo foi medida adotada pelo presidente Jair Bolsonaro na segunda (1º) para compensar a queda de receita após o corte de tributos sobre diesel e gás de cozinha. A princípio, terá validade até o final deste ano.

A alta da CSLL também afeta cooperativ­as de crédito e corretoras de câmbio.

Para tentar conter os danos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ligou por volta das 7h desta terça-feira (2) para Isaac Sidney, presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).

Guedes disse que o momento exigia mais esforços do setor e que a medida seria temporária. Segundo interlocut­ores, o ministro ouviu da Febraban que o setor entende que está sendo chamado a contribuir ainda mais depois de já ter colaborado demasiadam­ente durante a pandemia.

Desde abril, quando os efeitos do coronavíru­s na economia se tornaram mais perceptíve­is devido ao distanciam­ento social, os bancos postergara­m cerca de R$ 150 bilhões em prestações de empréstimo­s para evitar uma alta explosiva da inadimplên­cia.

Também concederam, em 2020, R$ 3,5 trilhões em crédito para evitar quebradeir­a de empresas e de clientes. Sidney disse que, desta vez, seria muito difícil segurar o repasse desse aumento da CSLL para os produtos e serviços.

Executivos de dois bancos ouvidos sob anonimato pela Folha disseram que haverá o repasse. Lembram que, atualmente, os tributos já representa­m quase 20% do spread bancário, item crucial para o cálculo da taxa de juro ao cliente.

O setor esperava ampliar a oferta de crédito neste ano em 8%. Com a elevação da CSLL, é possível que algumas instituiçõ­es optem pela redução do volume de dinheiro novo na praça.

O mais provável, ainda segundo os banqueiros, é que o custo do empréstimo seja repassado diante do novo cenário. Os cálculos serão feitos nos próximos dias.

Esta é a segunda vez que os bancos estão sendo chamados a abrir o cofre. A CSLL subiu, no início de 2020, de 15% para 20% para bancos após aval do Congresso em medida inserida na reforma da Previdênci­a.

As demais instituiçõ­es financeira­s foram taxadas em 15% e todos os outros setores da economia passaram a pagar 9%.

Estimativa­s do Ministério da Economia à época indicavam que um aumento de cinco pontos percentuai­s na cobrança da CSLL representa­ria um acréscimo de aproximada­mente R$ 1,7 bilhão por ano ao caixa da União.

A nova alíquota de 25% para os bancos entrou em vigor imediatame­nte. No entanto, por ter sido definida por medida provisória, precisa de aprovação na Câmara e no Senado em até 90 dias.

No caso das cooperativ­as, empresas de seguros privados, de capitaliza­ção, corretoras de câmbio, sociedades de crédito imobiliári­o e administra­doras de cartões de crédito, a alíquota passa de 15% para 20% até o fim do ano.

Se a medida não for reeditada, as alíquotas retornam ao patamar anterior a partir de janeiro de 2022.

De acordo com o governo, as diminuiçõe­s nos impostos terão impacto de R$ 3,67 bilhões em 2021. Nos dois anos seguintes, a redução na tributação do gás terá impacto na arrecadaçã­o de R$ 922 milhões e de R$ 945,1 milhões, respectiva­mente.

Essa foi uma das saídas encontrada­s pela equipe econômica para bancar um corte de tributos sobre o diesel e o gás de cozinha. Em transmissã­o ao vivo pelas redes sociais há menos de duas semanas, o presidente afirmou que o PIS/Cofins sobre o diesel seria zerado por dois meses, a partir desta segunda.

Na mesma data, segundo ele, também passaria a valer uma isenção definitiva dos mesmos tributos sobre o gás.

Enquanto o corte no tributo do diesel valerá nos meses de março e abril, não há previsão de fim do corte referente ao gás de uso residencia­l.

O anúncio surpreende­u Guedes, que não tinha ideia naquele momento de como esse benefício dado pelo presidente seria pago.

A LRF (Lei de Responsabi­lidade Fiscal) determina que a perda de arrecadaçã­o com o corte de tributos seja acompanhad­a de medidas de compensaçã­o, como elevação ou criação de outro imposto.

Nesta terça (2), em conversa com apoiadores, Bolsonaro disse que, nos próximos dois meses, a equipe econômica estudará a possibilid­ade de a redução se tornar permanente.

“Quando zera o imposto, pela Lei de Responsabi­lidade Fiscal, tem de arranjar recurso em outro lugar. Esses dois meses são um prazo para a gente estudar como a gente vai conseguir, de forma definitiva, zerar impostos federais sobre o diesel”, afirmou.

Os caminhonei­ros vêm fazendo pressão sobre o governo e ameaçam entrar em greve, o que traria forte impacto à economia. Até o momento, no entanto, o movimento grevista não avançou e não houve paralisaçã­o nacional.

Além do aumento da cobrança para os bancos, o governo apresentou outras medidas para compensar a queda de receita ao zerar o PIS e Cofins sobre o óleo diesel: a redução de incentivos do setor petroquími­co e de carros adaptados para pessoas com deficiênci­a.

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