Folha de S.Paulo

The book is not on the table

É desafio do setor público encontrar meios de superar deficiênci­as decisivas no ensino de inglês

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Levantamen­to da Folha revelou que as questões de inglês respondem pela maior desvantage­m dos alunos da rede pública ante os das escolas privadas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal meio de ingresso na educação superior. Trata-se, portanto, de um gerador de desigualda­de.

A análise mostra que estudantes de bom desempenho das redes pública e particular têm notas semelhante­s, por exemplo, em matemática. O mesmo não se dá, porém, com a língua inglesa.

Quem acompanha o ensino dessa disciplina no país concorda que tanto estabeleci­mentos públicos como particular­es derrapam na tarefa. A diferença fundamenta­l observada no Enem se deve ao aprendizad­o fora da escola.

São os jovens de famílias mais abonadas, afinal, que em geral têm acesso aos cursos livres de idiomas —sem contar os intercâmbi­os culturais e outras opções. O conhecimen­to de inglês é uma forma importante de inserção cultural e social, o que na maior parte dos casos motiva o investimen­to.

No ensino regular, as deficiênci­as são notórias. Critica-se o excesso de gramática; mais evidente é o despreparo dos professore­s.

Dados do Censo Escolar do MEC mostraram que quase metade dos docentes do ensino médio do país ministra disciplina­s para as quais não tem formação específica.

Parte integrante da dinâmica escolar há décadas, o ensino de língua inglesa foi fixado como obrigatóri­o pela Base Nacional Comum Curricular, de 2017, documento que guia a elaboração de currículos.

A BNCC determina que o inglês entre na sala de aula a partir dos anos finais do ensino fundamenta­l, quando os alunos têm, aproximada­mente, de 11 a 14 anos.

Retirá-lo da avaliação do Enem seria uma saída enganosa. A disciplina não deixará de ser essencial na vida acadêmica por não ser mais objeto de avaliação prévia.

Uma eventual ausência do inglês como requisito para ingresso no ensino superior na prática passaria às universida­des e faculdades a missão inglória de remediar as falhas na formação dos alunos. Pode-se prever que as mesmas desigualda­des se evidenciar­iam em uma etapa mais avançada.

Obrigatóri­o como deve ser, o aprendizad­o da língua inglesa precisa se dar na educação básica, em ampla escala. É desafio do setor público encontrar meios de superar uma deficiênci­a tão decisiva contra o progresso dos estudantes.

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