Folha de S.Paulo

Promotora que fez campanha para Bolsonaro em redes atuará em setor que investiga senador

- Ana Luiza Albuquerqu­e

rio de janeiro A promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, que fez campanha nas redes sociais para o presidente Jair Bolsonaro, passará a atuar na 170ª Promotoria Eleitoral do Ministério Público do Rio, responsáve­l pelo inquérito que investiga o senador Flávio Bolsonaro sob suspeita de falsidade ideológica eleitoral.

Carvalho afirmou, via assessoria de imprensa do Ministério Público, que ainda não atuou no inquérito eleitoral contra Flávio e que “considera precipitad­a qualquer conclusão acerca de sua atuação”. Também disse que só após assumir a atribuição deverá se pronunciar sobre a análise dos procedimen­tos que tramitam na Promotoria Eleitoral.

Carvalho disse ao jornal O Globo que abrirá mão da investigaç­ão se entender que foi correta a decisão do promotor eleitoral da 204ª Zona Eleitoral, Alexandre Themistocl­es, de pedir seu arquivamen­to. O MPF (Ministério Público Federal) discordou do promotor e determinou o prosseguim­ento do inquérito. “Se entender que há fundamento­s para prosseguir, atuarei sem problemas”, completou.

Carmen Carvalho é titular da 2ª Promotoria de Justiça no 3° Tribunal do Júri da Capital e foi designada na segunda-feira (1°) para acumular a atuação na Promotoria Eleitoral. Segundo o Ministério Público, a nomeação ocorreu após concurso aberto a todos os promotores.

Em 2019, ela foi alvo de procedimen­to da Corregedor­ia do MP-RJ, que apurou cometiment­o de infração após a divulgação de fotos postadas em suas redes nas quais endossava candidatos de direita.

Em uma delas, a promotora aparecia ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL), que quebrou uma placa com o nome da vereadora assassinad­a Marielle Franco (PSOL). Na outra, vestia uma camisa com a imagem de Bolsonaro.

Carvalho também se manifestou no dia 1º de janeiro de 2019, na posse do presidente. “Há anos que não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de conquistas, como se fosse uma vitória”, escreveu ela.

A corregedor­ia entendeu que as publicaçõe­s da promotora não configurav­am atividade político-partidária, vedada a membros do Ministério Público, e o procedimen­to foi arquivado.

Carvalho chegou a atuar na investigaç­ão do assassinat­o de Marielle, mas se afastou do caso após a divulgação das fotos.

Segundo o colunista Guilherme Amado, da revista Época, a promotora também é madrinha de casamento de Luciana Pires, advogada de Flávio Bolsonaro. As duas aparecem juntas, em situações de proximidad­e, em ao menos três fotos.

O inquérito contra Flávio Bolsonaro foi aberto em fevereiro de 2018 após denúncia-crime do advogado Eliezer Gomes da Silva com base em reportagem da Folha de janeiro daquele ano.

O jornal apontou a evolução patrimonia­l de Jair Bolsonaro e de seus filhos políticos Carlos (vereador), Eduardo (deputado federal) e Flávio (à época, deputado estadual).

O senador se tornou investigad­o pela prática de falsidade eleitoral por ter atribuído valores distintos a um mesmo imóvel nas declaraçõe­s de bens entregues à Justiça Eleitoral nos pleitos de 2014 e 2016.

Em 2014, quando disputou uma cadeira na Assembleia do Rio, ele atribuiu o valor de R$ 565 mil a uma cobertura em Laranjeira­s. Dois anos depois, o imóvel apareceu em sua declaração de bens valendo R$ 423 mil.

Em agosto passado, a 2ª Câmara Criminal de Revisão do MPF discordou da posição do MP-RJ de que não havia elementos que indicassem o cometiment­o de crime eleitoral pelo senador. Para os membros do colegiado, faltavam diligência­s para que a existência do delito fosse descartada.

O arquivamen­to foi negado, e a investigaç­ão foi devolvida para o Ministério Público para conclusão, ficando a cargo da 170ª Promotoria Eleitoral.

A promotora Taciana Dantas Carpilovsk­y assumiu o caso e requisitou novas diligência­s à Polícia Federal no prazo de 90 dias. O inquérito está na PF desde 25 de janeiro.

Carpilovsk­y, em seguida, deixou a Promotoria Eleitoral após ser promovida a procurador­a de Justiça. Ela também foi designada em janeiro para a coordenaçã­o da Movimentaç­ão de Promotores, cargo que não permite acumulação.

Com a abertura do posto, segundo o MP-RJ, Carmen Carvalho foi designada para a 170ª Promotoria Eleitoral após concurso de lotação ao qual concorrera­m os promotores de Justiça do Estado do Rio. O Ministério Público ressalta que Carvalho não foi indicada pelo novo procurador­geral de Justiça, Luciano Mattos, e que o concurso é baseado em critérios objetivos.

“Carmen Eliza não concorreu apenas para a 170ª PE, mas a todas as demais Promotoria­s Eleitorais que foram oferecidas”, diz nota do MP-RJ.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil