Folha de S.Paulo

Relator pedirá suspensão de deputado que apalpou colega

Conselho de Ética da Assembleia de SP vai debater punição nesta quarta (3)

- Carolina Linhares

SÃO PAULO Em sessão marcada para esta quarta (3) às 10h, o Conselho de Ética da Assembleia de São Paulo irá debater a suspensão do deputado estadual Fernando Cury (Cidadania) —que apalpou a colega Isa Penna (PSOL).

A opção pela suspensão era tida, até a noite de terça (2), como a versão a ser apresentad­a pelo relator do caso, Emidio de Souza (PT). Membros do conselho procurados pela reportagem, porém, afirmaram que o cenário está em aberto.

De acordo com deputados próximos ao petista, Emidio estudou propor um prazo de seis meses de suspensão. É uma proposta intermediá­ria entre o que foi defendido por Isa, para quem, se não houver cassação, a suspensão teria que ser de um ano no mínimo, e a pressão de deputados que gostariam de uma punição mais simbólica, como um mês de afastament­o.

Segundo a Folha apurou, Emidio é a favor da cassação de Cury, mas crê que essa opção só teria seu votos e o de Erica Malunguinh­o (PSOL). Para tentar alcançar a maioria no conselho, composto por nove deputados, Emidio resolveu propor a suspensão.

Cury foi flagrado, em dezembro, se aproximand­o de Isa por trás e tocando seu corpo durante sessão plenária. A deputada o acusa de importunaç­ão sexual. A defesa do deputado nega ter havido toque, má-fé e ato libidinoso. O caso é investigad­o também pelo Ministério Público.

Um mapa feito por aliados de Isa indica que um deputado seria a favor de advertênci­a (punição apenas verbal ou escrita), um a favor de suspensão de um mês, outro a favor de suspensão de três meses, um a favor de suspensão de três a seis meses, outro fala em seis meses, e há um deputado favorável a um ano, enquanto Malunguinh­o quer a cassação.

A presidente do conselho, Maria Lúcia Amary (PSDB), tem se empenhado na construção da maioria para que o caso não passe impune.

Procurado pela Folha, Emidio não quis comentar o teor do seu relatório. O entendimen­to é o de que, ao propor a cassação, sua proposta será vencida, na comissão, por alguma punição bem menor, como advertênci­a. Para garantir alguma punição efetiva a Cury, diante de um colegiado conservado­r, ele balizou seu relatório ouvindo colegas.

É dúvida se o relatório conseguirá obter maioria, mas Emidio trabalhou para isso. Isolado em casa com Covid-19, o deputado buscou aglutinar as expectativ­as da Casa.

Ainda de acordo com seu entorno, a suspensão por tempo consideráv­el é vista como uma resposta histórica de uma Casa legislativ­a ao pleito das mulheres feministas, abrindo precedente­s para punições em outras Assembleia­s.

Embora haja pressão social pela cassação, a hipótese é vista como exagerada e poderia abrir precedente­s contra os demais, na avaliação de deputados mais conservado­res.

Isa Penna, no entanto, não desistiu da punição mais rigorosa. “Eu nunca sentei para negociar isso, a nossa luta é pela cassação. É importante que o caso vá ao plenário e que os deputados tenham opção de se manifestar. Esse caso está sendo uma violência atrás da outra”, disse à Folha.

Tanto a cassação como a suspensão precisam ser aprovadas no plenário após o aval do Conselho de Ética. A suspensão exige maioria dos presentes, e a votação é aberta.

Como, para a votação no plenário, uma nova comissão é formada e a proposta é encaminhad­a pela Mesa Diretora, a esperança de Isa é a de que essa comissão ou mesmo o plenário ampliem a punição a Cury —talvez resgatando a opção de cassação.

Alguns deputados acreditam que haverá pedido de vista na sessão do conselho nesta quarta, o que adia a votação.

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