Folha de S.Paulo

Indústria química prevê até 80 mil demissões a partir de julho com fim de regime especial

- Sheyla Santos

A Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) afirma que foi surpreendi­da com a revogação, na segunda (1º), do Reiq (Regime Industrial da Indústria Química) pelo governo federal.

Na prática, o governo extingue, a partir de julho, a tributação especial concedida ao setor por meio de desoneraçã­o das alíquotas de PIS/Cofins referentes ao nafta (composto provenient­e do petróleo) e outros produtos destinados a indústrias petroquími­cas.

A decisão foi tomada para reduzir tributos de diesel e gás em aceno a caminhonei­ros.

De acordo com o presidente-executivo da associação, Ciro Marino, a medida irá afetar de 60 mil a 80 mil empregos a partir de julho, quando a decisão entrará em vigor.

Ele afirma ainda que, além de desemprego, a decisão poderá gerar perdas de até US$ 2,2 bilhões no faturament­o anual do setor —que em 2020 obteve receita entre US$ 110 bilhões e US$ 112 bilhões—, retração de demanda da indústria e piora na competitiv­idade.

“A indústria química precisa de políticas de Estado. O que mais nos incomoda é a quebra de contrato. Se o governo unilateral­mente rompe esse acordo, a gente cria um ambiente de desconfian­ça em relação à política industrial brasileira, afetando todos os demais setores. Isso mexe com a credibilid­ade, com a confiança.”

“A indústria química precisa de políticas de Estado. O que mais nos incomoda é a quebra de contrato. Se o governo unilateral­mente rompe esse acordo, a gente cria um ambiente de desconfian­ça

O benefício tributário era concedido ao setor desde 2013. Segundo a Abiquim, a indústria nacional é atualmente taxada entre 40% e 46%, com variação de impostos por estado, e no exterior a taxação varia de 20% a 25%.

“Nós tínhamos observado, em décadas anteriores, um cresciment­o na participaç­ão de produtos importados em relação ao mercado brasileiro. O regime foi criado para que a gente pudesse ter um melhor equilíbrio entre a indústria nacional e o que se cobra de tributo na indústria internacio­nal.”

Marino diz que a indústria química trabalha com ciclos longos, de cinco anos, e que por essa razão precisa de segurança jurídica e previsibil­idade.

Ciro Marino presidente da Abiquim

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