Folha de S.Paulo

Relator enxuga PEC, mas mantém gatilho fiscal

Pontos como o fim do piso de gastos em saúde e educação são retirados; votação está prevista para hoje no Senado

- Renato Machado e Thiago Resende

Em um revés do ministro Paulo Guedes (Economia), uma versão mais enxuta da PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) Emergencia­l foi apresentad­a nesta terça-feira (2), sem os pontos mais polêmicos, como a ideia de acabar com o gasto mínimo para saúde e educação e a tentativa de cortar repasses ao BNDES. As mudanças ocorreram após pressão de líderes do Senado.

A PEC permite uma nova rodada do auxílio emergencia­l, além de prever medidas de controle de despesas públicas, defendidas pelo ministro Paulo Guedes (Economia).

O ministro da Economia aposta na aprovação da PEC Emergencia­l para destravar a pauta liberal apresentad­a ao Congresso. A aliados teria indicado que esse projeto pode definir a sua permanênci­a ou não no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Em negociação com o Congresso, o governo espera relançar o programa do auxílio emergencia­l, com o pagamento de quatro parcelas de R$ 250.

O governo e o relator, senador Márcio Bittar (MDB-AC), tiveram de recuar em alguns pontos para destravar a análise da PEC, que, na semana passada, diante das críticas à ideia de acabar com o piso para saúde e educação, nem chegou a ser lida no plenário da Casa.

Por ser uma PEC, é necessário o apoio de 49 dos 81 senadores. Depois, a proposta ainda precisa passar pela Câmara, onde precisa do voto de 308 dos 513 deputados.

A Câmara votará a PEC diretament­e em plenário, sem passar por comissões.

Na semana passada, Bittar já tinha reconhecid­o que teria que desistir do fim do piso para saúde e educação para não colocar todo o projeto em risco. Na semana passada, o relator e o governo estiveram perto de uma derrota, que poderia atrasar em mais duas semanas a tramitação, por isso precisaram adiar a leitura do relatório e cederam na questão das desvincula­ções.

Agora, ele também recuou no corte nos repasses do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhado­r) para o BNDES, atendendo a pedidos de diversos partidos, inclusive da base do governo.

Bittar, por outro lado, decidiu manter a desvincula­ção de receitas para atividades de administra­ção tributária. Isso poderá enfraquece­r o funcioname­nto e a autonomia dos órgãos de fiscalizaç­ão tributária no âmbito da Receita Federal e dos demais entes federados, segundo auditores fiscais.

Até a votação da PEC, prevista para esta quarta-feira (3) no plenário do Senado, sindicatos dos auditores pretendem intensific­ar a articulaçã­o para que o texto preserve a vinculação de parte da arrecadaçã­o federal à atividade da Receita.

Após negociação com líderes, Bittar recuou em outro ponto e manteve na Constituiç­ão a possibilid­ade de a União intervir em um estado para reorganiza­r as finanças da unidade da federação.

A PEC determina um prazo para que o governo apresente um plano para redução gradual dos benefícios tributário­s. No entanto, após negociação com partidos, esse corte não deverá afetar fundos de desenvolvi­mento regional, o Simples Nacional, a Zona Franca de Manaus, incentivos tributário­s a entidades sem fins lucrativos, redução de encargos sobre a cesta básica e o ProUni (Programa Universida­de para Todos).

Apesar das mudanças indicadas pelo relator, a nova versão manteve os trechos considerad­os vitais para Guedes, que são os gatilhos —medidas a serem acionadas automatica­mente, por um período determinad­o, em caso de crise nas contas públicas.

Esses gatilhos já foram apresentad­os ao Senado em 2019, mas até hoje o texto não avançou. Para reduzir as resistênci­as, o governo já cedeu em alguns pontos.

Inicialmen­te, por exemplo, havia a previsão de corte de jornada e de salários de servidores públicos como parte do pacote fiscal. Isso, porém, foi retirado do relatório da PEC, elaborado pelo senador Márcio Bittar (MDB-AC).

A versão mais recente do texto prevê apenas barreiras a concursos, reajustes salariais a servidores e à criação de despesas obrigatóri­as.

Em reunião de líderes no Senado nesta terça, houve um acordo para que, caso os gatilhos sejam acionados, o programa Bolsa Família ainda poderá ser ampliado —mesmo diante de um cenário de controle de despesas. Essa blindagem do Bolsa Família deve ser incorporad­a pelo relator nesta quarta, antes da votação.

Na avaliação de governista­s no Senado, é melhor desidratar a proposta, mas num patamar aceitável para a equipe econômica, do que correr o risco de deixar o plenário aprovar apenas a autorizaçã­o para o auxílio emergencia­l.

Com a base desarticul­ada no Senado, o governo enfrenta dificuldad­es para aprovar a chamada PEC Emergencia­l.

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Marcos Oliveira/Agência Senado O senador Márcio Bittar (MDB-AC), relator da PEC Emergencia­l, que destrava nova rodada do auxílio e prevê medidas de controle de despesas públicas

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