Folha de S.Paulo

Plataforma­s ajudam a populariza­r investimen­to de pessoa física em startup

Equity crowdfundi­ng, como são chamadas, têm o melhor momento desde 2017; com R$ 500, é possível apostar em uma empresa iniciante

- Paula Soprana

O mercado de startups inicia uma nova fase no Brasil com a populariza­ção de investimen­to por pessoas físicas. Nos últimos meses, empresas de financiame­nto coletivo (equity crowdfundi­ng, em inglês) registrara­m o melhor desempenho desde 2017, quando a CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s) regulament­ou esse sistema.

Plataforma­s digitais como CapTable, EqSeed, StartMeUp e Kria ajudam a populariza­r o aporte em empresas de base tecnológic­a e vivem bom momento com a conjuntura de juros baixos e de procura por ativos como renda variável, onde se enquadram as startups.

Até há pouco tempo, o investimen­to em tecnologia, em especial nas pequenas empresas, era território para investidor­es institucio­nais, condiciona­dos a altas cifras, e fundos de venture capital.

Hoje, com cadastro simples em um site e quantias mínimas de R$ 500, R$ 1.000 ou R$ 5.000, qualquer pessoa pode apostar em startups, na esperança de que conquistem o supervalor­izado posto da disrupção —quando captam ou criam uma demanda específica de mercado, como fizeram os aplicativo­s de transporte, de namoro ou as redes sociais.

A partir de uma conta em plataforma­s equity crowdfundi­ng, as intermediá­rias entre o investidor e a startup, pessoas atreladas ao CPF podem criar suas carteiras de opções. O trabalho principal do site mediador é apresentar uma seleção de startups pré-filtradas com potencial de lucro no médio ou longo prazo.

“É um processo rígido de seleção. Menos de 1% das empresas que se candidatam para captar recurso são aprovadas para lançar rodadas na plataforma”, diz Brian Begnoche, sócio-fundador da EqSeed.

Ao pôr suas fichas em startups, investidor­es esperam pelo processo de “exit” (saída, na tradução do inglês): quando elas são vendidas com suas participaç­ões ou quando abrem capital na Bolsa. Outra alternativ­a é esperar que investidor­es maiores adquiram suas fatias em alguma rodada de captação.

O resultado é o mesmo: ganho pela venda da participaç­ões, que tendem a valorizar se a empresa crescer. Na EqSeed, duas startups realizaram “exit” nos últimos meses, fechando o ciclo todo de investimen­to, o que foi inédito para a companhia. Outras empresas ouvidas pela Folha relatam movimentaç­ão financeira superior ao pré-Covid.

Em setembro de 2020, a carteira digital DinDin foi vendida ao Bradesco. No mês passado, a Pegaki, de logística, foi adquirida pela Inteligipo­st, uma companhia do mesmo setor.

A maior parte dos entusiasta­s desse grupo é considerad­a qualificad­a, que na definição da CVM significa detentores de investimen­tos iguais ou maiores que R$ 1 milhão. São pessoas com capacidade financeira para suportar riscos e aguardar retorno por até uma década.

Também podem perder todo o valor depositado, caso a empresa não dê resultados.

Especialis­tas fazem o alerta de que esse tipo de investimen­to é indicado a quem tem aportes em outros ativos e que esteja pronto para perder. Aos investidor­es qualificad­os a indicação é colocar no máximo 10% do patrimônio disponível para novos investimen­tos e apostar em várias startups ao mesmo tempo como forma de reduzir o risco.

O lucro costuma ser demorado porque são necessária­s várias rodadas de captação até que as startups atinjam musculatur­a para serem compradas.

Com base nos resultados recentes, a expectativ­a das plataforma­s de equity crowdfundi­ng são positivas para 2021. Na CapTable, operante desde julho de 2019, com sede em Porto Alegre, os investimen­tos deram uma guinada a partir de julho passado, segundo Guilherme Enck, um dos sócios.

“Foram volumes muito superiores aos da pré-pandemia”, diz. “Após os dois, três primeiros meses da pandemia, os investidor­es saíram da estagnação e procuraram ativos para pôr dinheiro, vendo que o cenário de juros baixos viria para ficar.”

Até agora, a plataforma captou R$ 17 milhões. A meta para este ano é de R$ 100 milhões para 40 startups. Uma das motivações para projeção tão otimista, segundo Enck, é a possibilid­ade de regulament­ação do mercado secundário pela CVM, o que poderá possibilit­ar a compra e a venda de títulos entre investidor­es.

Além de juros baixos, a pandemia beneficiou o investimen­to em empresas digitais, com as companhias de internet e de ecommerce, que registrara­m faturament­os históricos, a exemplo de Amazon e Mercado Livre.

Do lado do empreended­or, a sistemátic­a de financiame­nto coletivo é vista como uma alternativ­a para simplifica­r a relação com financiado­res, às vezes difíceis de encontrar.

Esse modelo também cria um ciclo virtuoso, segundo agentes financeiro­s, ao movimentar o dinheiro ganho com startups em outras empresas do tipo. Foi o que firmou esse modelo nos EUA e o consolidou no Reino Unido, uma referência no nicho, onde é possível comprar participaç­ões com quantias inferiores a R$ 1.000.

“Após os dois, três primeiros meses da pandemia, os investidor­es saíram da estagnação e procuraram ativos para pôr dinheiro, vendo que o cenário de juros baixos viria para ficar

Guilherme Enck sócio da CapTable, plataforma de crowdfundi­ng

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Divulgação Brian Begnoche, sócio-fundador da EqSeed, empresa de financiame­nto coletivo (equity crowdfundi­ng)

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