Folha de S.Paulo

Senado aprova MP para análise de vacina com aval no exterior

- Renato Machado

brasília O Senado aprovou nesta terça-feira (2) Medida Provisória que estabelece um prazo de até sete dias úteis para que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decida sobre aprovação temporária para vacinas contra a Covid-19 que tenham sido autorizada­s por agências estrangeir­as.

O texto facilita, portanto, a análise para autorizar vacinas como a Covaxin (Índia) e Sputnik V (Rússia). Recentemen­te, o governo federal assinou contrato para a aquisição dessas imunizaçõe­s.

A MP também facilita a compra de vacinas, de insumos e serviços para a imunização contra a Covid-19, principalm­ente abrindo a possibilid­ade de licença de licitação e regras mais flexíveis para contratos. Essas regras se aplicam mesmo para vacinas que ainda não obtiveram autorizaçã­o de uso no Brasil.

A proposta foi aprovada por 73 votos a favor e nenhum contrário. Como já havia tramitado pela Câmara dos Deputados, segue para a sanção do presidente Jair Bolsonaro.

A aprovação pelos senadores acontece no dia seguinte à decisão de Bolsonaro de vetar dispositiv­o semelhante, mas que concedia um prazo menor para a agência, de cinco dias.

O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, havia solicitado ao presidente que vetasse a medida anterior, argumentan­do que o tempo de análise era “irreal”.

Fontes na Anvisa relatam que o prazo previsto na nova MP é mais razoável, uma vez que o uso emergencia­l para as vacinas Coronovac e Covishield foi aprovado em nove dias corridos.

Além disso, afirmam que a nova MP abre possibilid­ade para que a agência solicite mais documentos ou esclarecim­entos para os laboratóri­os desenvolve­dores das vacinas, o que pode estender esse prazo e ainda facilitar a análise.

O texto prevê que o prazo possa ser aumentado em 30 dias, no caso de ausência dos relatórios técnicos de avaliação das entidades internacio­nais ou quando houver insuficien­te de documentaç­ão.

Portanto, caso uma vacina tenha recebido aval de alguma autoridade internacio­nal, a agência brasileira terá sete dias úteis para emitir um parecer sobre a autorizaçã­o para uso emergencia­l. Serão candidatas imunizaçõe­s com estudos clínicos de fase 3, concluídos ou com resultados provisório­s. Não é necessário­s que esses estudos clínicos tenham sido realizados no Brasil.

A nova MP também contém uma lista maior de autoridade­s sanitárias internacio­nais que podem ser usadas como base para a concessão de autorizaçã­o. Estão incluídas 11 agências de países como Rússia, Índia, Japão, EUA, China, entre outras. Antes eram nove, mas Bolsonaro também vetou esse artigo.

A medida prevê ainda que estados e municípios possam comprar vacinas contra o novo coronavíru­s, aprovadas pela Anvisa, caso a União não realize as aquisições de doses suficiente­s para a imunização dos grupos previstos no plano de vacinação.

Quando tramitava na Câmara, os deputados derrubaram do projeto dispositiv­o que permitia que a iniciativa privada adquirisse vacinas, desde que doassem metade para o SUS.

O relator da medida no Senado, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), manteve esse ponto fora do texto da MP. Isso porque o Senado já aprovou na semana passada um outro projeto de lei que prevê a permissão para a iniciativa privada adquira as imunizaçõe­s, após a conclusão da vacinação dos grupos prioritári­os, e desde que metade das doses sejam doadas ao sistema público.

A respeito da compra de vacinas e insumos, a proposta afirma que União, estados e municípios estão autorizado­s a “celebrar contratos ou outros instrument­os congêneres, com dispensa de licitação, para: a aquisição de vacinas e de insumos destinados à vacinação contra a Covid-19, inclusive antes do registro sanitário ou da autorizaçã­o temporária de uso emergencia­l”.

A MP também estende essas regras para a contrataçã­o de bens e serviços de logística, tecnologia da informação, comunicaçã­o social, publicidad­e e também para treinament­os e outros bens e serviços necessário­s para a imunização da população.

Ao término da votação da medida, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), afirmou que o governo não iria vetar novamente os pontos da MP.

Durante a sessão, os senadores cobraram do presidente Rodrigo Pacheco (DEM-MG) a instalação de uma CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) para investigar ações e omissões do governo federal no enfrentame­nto à pandemia. O requerimen­to da CPI já conta com assinatura­s suficiente­s, cabendo agora a Pacheco a decisão.

“Nós estamos vivendo talvez o pior e mais dramático momento da nossa história. Nós estamos falando em mais ou menos cinco ou seis Boeings caindo por dia no nosso País. Imaginem o seguinte: nós sabemos que amanhã vão cair mais cinco Boeings, morrendo 1.500 pessoas por dia”, afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

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